Nota Introdutória
Longas tardes se
passaram naquela piscina, local de encontro deste povo citadino Saurimense.
Aprazível para residentes e para os “migrantes” ocasionais. Soldadesca
esverdeada e azulada conviviam com os civis numa camaradagem ímpar. Assim se vivia o clima de guerra por terras
africanas!...
Marrador - Depois deste duo acrobata ter passado um bom fim-de-semana na capital da Lunda…Depois de tanto entretenimento faustoso e gabarola….Havia que recolher ao casulo, à caserna militar. A “Base” distava poucos quilómetros, mas à pata, ninguém se sujeitava! Vamos desengatilhar o amuo dos artistas!...
___________________________________ ///
_______________________________
VITO – A caminho da toca?
JOCA –
Toca…toca!... Já tinhas saudades?
VITO –
Tinha, e não tinha! Há que deixar passar o tempo de comissão. Não há outra
alternativa!...
JOCA –
Deixa, não te lamentes. Goza esta boleia a caminho do A.B.4.
VITO
– Boleia? Olha, os mangalas estão à
nossa espera no meio da picada?!
JOCA – Chiuuu!
Estão à espera do sanzaleiro!... Aproveitemos a Mercedes.
VITO – Pois,
é melhor esta carreta da FAP do que ir a pé como o Cibrão e o Zé Soares.
JOCA – Foram
a pé?
VITO – Sim,
perderam o transporte e tiveram que caminhar sete quilómetros pela noite fora.
Apanharam um “cagaço” que juraram não andarem mais pelas salas de visita da
cidade. Quem se mete em atalhos, mete-se em “taralhos”…lá diz o ditado.
JOCA –
“Taralhos”!... sempre com a boa educação na ponta, na ponta da língua!...
VITO –
Cuidado!...Cu…Cu…Cuidado, “aprochega-se” o arame farpado!...
JOCA – “Induka”!...
Parece-me que estão todos à nossa espera!...
VITO – Bruxo!…Deve
ser por causa dos sanzaleiros!... Algum soba se queixou com o assalto às suas
concubinas.
Marrador – Já
dentro do arame farpado, os “chamuanzas” vaidosos no seu estilo continuavam no
palreio. Queixavam-se, mas no fundo, até havia condição aceitável para passar o
tempo de forma menos enfadonha. Sempre havia o cinema no velho Hangar,
confraternizações acerbadas, petiscos no Bar e nas Secções de trabalho, tocatas
recatadas, praxes de maçaricos, Carnavais, Passagens de Anos, Aniversários,
jogos, leituras descansadas, circuitos de “kingas”, caçadas, recordações
familiares e amorosas e captação de fotos sobre a juventude galã e…das savanas
guerreiras. Mas mais do que palavras, O VITO e o JOCA vão “botar” umas fotos
que farão recordar as vivências de outrora. Resumo dos seus actos em terras de
negridão. Recordações até ao último sopro!... Puxem pela “cachimónia”.
JOCA – Bem,
regressámos ao A.B.4, regressámos aos nossos afazeres repetitivos…
VITO – Sim.
Mas amanhã é diferente. Temos um aniversário dentro do nosso grupo. Haverá mais
calor humano! Cuca à fartazana!...
JOCA –
Aniversários, convívios, distracção!... Não fosse isso, morreríamos de tédio,
saudade, tristeza e apanágio!
VITO –
Acalma-te meu! O tempo é passageiro. Um dia, quando as galinhas tiverem
dentes…irás gostar de recordar estas passagens pelo Continente Mistério!...
JOCA – Até
lá,… tenho que pôr a escrita em dia. Devo dar notícias à família, e quero saber
as novidades do “puto”, também.
VITO –
Notícias, nostalgia do longínquo jardim à beira mar plantado! Queres é
namoriscar a tua catraia… Piu, piu, piu…
JOCA –
Sempre se anima ao ler uma cartita feminina!... Depois, os velhotes, família, e
amigos que nos esperam para reactivarmos a vida caseira!... Enfim, muita coisa
tem mudado enquanto permanecemos por estas bandas, no cú de judas!
VITO – Eh!...
Tens razão! Mas olha! Olha que a nossa camarata é o nosso albergue! Muitas
lágrimas choradas no silêncio!... O que nos vale são os laços de amizade. União
de todos numa missão idêntica. Aguardar, gastando esta fatia temporal da nossa
juventude.
JOCA
– Aguardar pacientemente!
JOCA – Não
tanto assim, mas quase!... Temos jogos, diversão diversa. Não andamos na guerra
tal e qual o exército. Há calmaria nesta zona!...
VITO – Sim,
ainda nos damos ao “luxo” de podermos ler um livro, revista ou, jornal, de
forma descontraída, sem ter que ouvir os tiros da guerra.
JOCA – Temos
biblioteca, temos um ringue para desportos. Pratica-se quase de tudo e temos
torneios pela Província.
JOCA –
Encaramos esta estadia como um emprego se tratasse, como emigrantes, deslocados.
Uns, trabalham na Esquadrilha de Abastecimento. Outros, no Hangar, na reparação de
aviões, e outros, na Torre de Controlo, tipo vigia. “Tá-ri-táris”, “rum-runs”,
Meteos, e que mais!...
VITO – Sim,
no fundo até há actividades interessantes!... A mim, calhou-me a especialidade
de falar para o ar, mas gostava mais de ter sido pilotaço!...
JOCA – Voa,
voa…em sonhos! Todas as especialidades são bonitas. Até a de enfermaria para
podermos dar umas injecções às garinas.
VITO – Uihhh…Uih…Mete
o “xico”.
JOCA – Aqui?
Isso é coisa que se mete no “quimbo”. E, com cuidado!...
VITO – Logo
à noite, como é que é? Vais jogar ao bingo?
JOCA –
Nãoooo!... Vou escrever, descansar, e ouvir uma musiquinha do aparelho do Quim.
VITO –
Também me acho um pouco amolecido. Talvez siga o teu exemplo. Amanhã terei uma
jogata de futebol de salão com o pessoal…
JOCA – Mas
há outro torneio em disputa?! Ouvi falar o nosso Paulus que iria estar de
serviço na arbitragem.
JOCA – Esta
semana será agitada. Além do aniversário do Russo, teremos um belo filme no
Hangar. “A filha de Ryan”, com os célebres actores Robert Mitchum, Trevor
Howard e Sarah Miles. Enfim, um drama dirigido por David Lean.
VITO – Eh pá!... Não posso perder essa película. Compra já “two tickets four nous”.
JOCA
– Os bilhetes?!... compro mais logo. E
pensando melhor, antes de irmos para as palhinhas fofas…vamos visitar o
“Camone” à pildra. Ele fica contente, faz-se-lhe um pouco de companhia,
anima-se e fumaremos o cachimbo da paz nesta quadra festiva do Natal que se
aproxima.
VITO – Vou
nessa. Afinal, também é “especial”, e o que fez não foi crime nenhum!...
JOCA – Para
animar, até podíamos seguidamente ver as árvores de Natal, lá no Clube. Por
certo, já devem estar preparadas a rigor.
VITO –
Queres é ouvir um fadito e mamar uma Cuca!...
JOCA –
Terminar o dia em beleza…
VITO –
Mas…sem demoras. O galo canta cedo!....
JOCA – Ok.
OK. Meu!
Nota Final: Estes sete temas
narrados nas “Conversas na cidade” foram o apetrecho para fazerem lembrar os
tempos passados no Leste de Angola. Quarenta e poucos anos já cá
cantam!...Outros tantos, não diremos! Foi feita a triangulação do A.B.4,
cidade, quedas do Chikapa – de forma aligeirada. Alguns ditotes da época,
alguma prosa em Quiouco, malandrice camuflada!... Na altura, houve momentos de
profunda tristeza porém, hoje, recordamos com saudade essa juventude
atribulada. É bom reviver esse passado! Foi bom ter reencontrado muitos de vós.
Haja saúde para continuarmos alegres e participantes por mais alguns anos. Até
breve.
O amigo e companheiro:
Só um "toque" sem ser de clarim! Antes do Início houve o "INÁCIO" sem ser o de Loyola. Podemos chamar-lhe o "Prefácio" e aí entram Jacarés e outros que tais, sem bandeiras esfarrapadas a "cobrirem" ELEFANTES BRANCOS. Noutras alturas iam aprumadas no topo do mastro mas ...eram outros tempos e outros ventos! Tenho um LOUVOR, o que mais valorizo, que fala no AB4 e no tempo do "PREFÁCIO". Fui sacá-lo ao Arquivo Histórico do Exército porque a minha Tulha não arquiva tudo. Um dia será Oferecido para que entre nos caboucos, e até pode ficar "enterrado", como ficaram parte das coisas que o Pel AA 55 conseguiu fazer para cumprir a sua missão na defesa do AB4 se para tal fosse necessário.
ResponderEliminarGostei Vitor !
ResponderEliminar