sexta-feira, 31 de março de 2017

O C 45 – BEECHCRAFT, PELO CAP. FERNANDO MOUTINHO

O 2520 na BA9
C-45 – Beechcraft ou carinhosamente o BC.
Aqui está um caso especial na minha experiência.
Este avião era conhecido como o avião dos “coronéis”. Era um avião pacifico e simples de voar. Só a aterragem era mais sensível.
Totalizei neste avião 391:15 horas. A maioria foram as efectuadas em Angola entre 1968 a 1972. Antes tinha efectuado alguns voos a 2º. piloto mas sem conhecimentos do avião. Ia lá só para ocupar o lugar. Como parodiávamos, “a saco de batatas”.
Em Angola, o Comandante da Região Aérea Gen. Almeida Viana gostava de pilotar o BC mas, como dizia que já era velho, precisava de alguém com experiência para o acompanhar. Daí, terem sido largados 2 pilotos. 
Acabei por ser eu o preferido.
Após ser largado comecei a tentar conhecer o avião - “vícios” do passado. Consegui obter uma T.O. (Livro de Instruções) na Delegação das OGMA e comecei a ler e a tentar aplicar o que lia. Com o tempo arranjei 4 livros de origens diferentes. 
A minha primeira surpresa deu-se com a potência de cruzeiro. 
Sempre vi ser utilizada: 25 HG pressão de admissão e 2.000 rotações. Ora o Livro não dizia nada disto mas sim: 28 a 30 HG e 1700/1800 rpm dependendo do peso. Mal comparado, isto significava mais ou menos, utilizarmos sempre a 3ª. velocidade num automóvel. O resultado era que o avião andava menos e gastava muito mais.
Exemplo: normalmente, para se ir de Luanda a Henrique de Carvalho ou Luso fazia-se escala em Malange para reabastecimento.
Comecei a fazer um trabalho de aperfeiçoamento que incluiu mexer em tudo que possibilitasse aumentar o alcance, desde mistura, persianas do motor, verificação da fiabilidade dos indicadores de combustível – para isso sequei os depósitos para saber quando tempo após o “zero” realmente faltava o “petróleo”. E, uma coisa muito importante – a altitude de voo. Era normal fazerem-se voos entre 3.000 a 5.000 pés. Passei a voar, para distâncias mais longas, a altitudes entre 10.000 e 12.000 pés. A esta altitude, a velocidade ao solo era bastante mais elevada e o consumo bastante mais reduzido. 
Consegui…optimizar a máquina.
Quando se ia a Cabinda abastecia-se lá. Pouco depois ia e regressava sem o fazer. Ir a Henrique de Carvalho ou Luso passaram a ser voos directos. Idem para Silva Porto, Serpa Pinto, etc. O troço mais longo que fiz sem reabastecer foi Luanda/Cazombo (saliência junto à Zâmbia).
O sucesso foi tal que os pilotos que voavam o BC no Negage, vieram encontrar-se comigo para saber o “segredo”. Eu disse-lhes: muito simples, sigo a T.O.
A maioria dos voos que fazia era com o Gen. Almeida Viana que entretanto foi nomeado Comandante-Chefe de Angola. Na prática era o seu piloto particular. 
Todos os voos eram importantes. Eram missões especiais e quase sempre diferentes. Há um voo que ficou profundamente gravado na memória.
A 31 de Dezembro de 1969, o Gen. Almeida Viana resolveu ir passar a noite de Fim do Ano
Mucusso
com os militares que estavam aquartelados, na Coutada do Mucusso, no extremo sudeste de Angola junto à fronteira da África do Sul.
Saímos de Luanda, reabastecemos em Silva Porto, confraternizamos com os marinheiros em Vila Nova do Armada (sul do Cuito Cuanavale) e daí para a Coutada do Mucusso. Tempo de voo 5:10.
No dia seguinte: descolagem do Mucusso, com paragens em locais onde havia destacamentos militares, a saber: Luenge, daqui para o Cuito Cuanavale, Gago Coutinho e Luso. Mais 4:05 horas.
Esta Missão de Fim de Ano, teve por finalidade, confraternizar com os que mais longe e mais isolados estavam. Foi um êxito.
Os Voos com o Gen. Almeida Viana nunca foram voos fastidiosos. Até foram empolgantes em várias ocasiões.
Vivemos aventuras interessantes.
Excelente “máquina”. 
Nunca me deu problemas.
Tenho saudades dela. Vaidades….

Por especial deferência do
Sr.Cap.Pil.Fernando Moutinho





sexta-feira, 24 de março de 2017

TRINITÁ


Verdade, este capacete pertenceu ao grande piloto Alfredo Anacleto dos Santos, que fez o favor de ser meu amigo. 
Uns meses atrás um nosso camarada do AB4 entrou em contacto comigo para eu ficar com o capacete, voei algumas vezes com o Alfredo. 
Na primeira vez o T6 não quis bloquear o trem lado direito. Naquela tarde de Agosto 1974, tudo parecia ir correr mal, mas com tipos de fibra como o Alfredo tudo se resolve. Ainda hoje lembro, quando me perguntou como achava que devíamos aterrar, com o trem esquerdo ou sem trem. 
A resposta minha foi: aterra esta m...... e vamos ao bar virar umas canecas, tu decides e vamos a isto, ok! Vai só com lado esquerdo bloqueado.
Mensagem passada á Torre tudo apostos na pista e já está, avião no chão eu a cavar do cockpit não fosse aquilo incendiar e o Alfredo nas calmas a escrever no livro do avião, uma pequena amolgadela no flap lado direito.
Dia seguinte avião reparado. Há anilhas de chapa pequeninas mas muito perigosas, com as acrobacias uma encaixou-se no mecanismo de bloqueamento do trem, era impossível bloquear em voo. De novo a mesma equipa, Alfredo e mecânico para testar em voo se estava tudo a funcionar, mais uma dúzia de acrobacias e trabalho feito.

Dia 1 de Fevereiro quarta-feira passada, o CAPACETE foi entregue á família do Alfredo, por mim, em Torres Vedras. Foi com um nó na garganta que falei sobre ele e a nossa amizade, os bons nunca morrem, obrigado Anacleto serás eterno na minha recordação. 

Por:


quarta-feira, 15 de março de 2017

VISITA A ANGOLA DO SECRETÁRIO DE ESTADO DA AERONÁUTICA - JULHO DE 1971


VISITA A ANGOLA DO SECRETÁRIO DE ESTADO DA AERONÁUTICA

 Julho de 1971

Em visita às instalações da Força Aérea, em Angola, esteve naquela Província, de 12 a 21 de Julho de 1971, o Secretário de Estado da Aeronáutica, brigadeiro Pereira do Nascimento.

PALAVRAS PROFERIDAS PELO SECRETÁRIO DE ESTADO DA AERONÁUTICA À CHEGADA A LUANDA

SEA cumprimenta os oficiais da FAP 
presentes à sua chegada a Luanda
“De há muito que tinha o desejo de visitar os Comandos e Unidades Ultramarinas da FA.
No entanto só agora foi possível dar-lhe concretização, começando por esta maravilhosa Angola, onde irei permanecer alguns dias em visita de trabalho para conhecer directamente o desenvolvimento, estado operacional, implementação dos planos gerais e as medidas a tomar para que a Força Aérea continue a melhorar a sua eficácia e rendimento.
Mas esta visita quer ser também uma demonstração de apreço, admiração e confiança a todo o pessoal da Força Aérea em Angola, oficiais, sargentos, praças e civis, que com tanto entusiasmo, generosidade, abnegação, espírito de bem servir e valor cumpre de forma tão destacada a missão que lhe incumbe.
Ao iniciar esta minha visita a Angola lhes endereço as mais cordiais saudações.
O SEA na BA9 – LUANDA, acompanhado pelo general Simão Portugal, pelo comandante da Unidade e oficiais que ali prestavam serviço


Também saúdo com muito afecto o pessoal dos outros ramos das Forças Armadas e das Forças militarizadas que com igual abnegação e patriotismo se dão à defesa da integridade da Nação.
Quero ainda englobar nesta minha saudação toda a população da Província, de todas as raças, cores e religiões que tão proficuamente labutam para o progresso social e económico desta bela e portuguesa Angola, contribuindo para manter mais coesa e mais forte a unidade da Pátria.
Finalmente aos órgãos de informação da Província nas pessoas dos seus representantes aqui presentes, eu quero deixar uma saudação de simpatia pelo vosso árduo labor no difícil empenho de informar sempre correcta e objectivamente.
No AB3 Negage, passando revista á guarda de honra






















Visitando a enfermaria e na messe de oficiais

DISCURSO PROFERIDO PELO SECRETÁRIO DE ESTADO DA AERONÁUTICA NO BANQUETE OFERECIDO PELO GOVERNADOR-GERAL DE ANGOLA

Parece-me interessante fazer notar que a história da Aeronáutica Militar desde os seus primórdios está muito ligada a Angola.
Desde o princípio do século, sempre que nas fronteiras de Angola o inimigo fomentou rebeliões tribais ou, nos tempos actuais, a eclosão do terrorismo os meios aéreos foram reconhecidos como indispensáveis.
Assim já em 1905 foi decidido comprar material de aerostação para acompanhar a expedição ao Cunene.
Com a entrada de Portugal na 2ª Grande Guerra, de novo sul de Angola se encontrava ameaçada.
Com decisão e rapidez assinaláveis foi criada e organizada uma esquadrilha de aviação destinada ao serviço de ocupação e reconhecimento na província de Angola.
Foi a Esquadrilha de Lubango que não chegou a actuar.
AB4 – HENRIQUE DE CARVALO – Brigadeiro Pereira do Nascimento, cumprimenta o comandante da Base Ten.Cor. Wilton Pereira, o Governador da Lunda Ten.Cor. Soares Carneiro e o Comandante interino do sector


Três anos mais tarde (1921) foi transferida para o Huambo (Nova Lisboa), vindo a transformar-se nos serviços de aviação militar de Angola, também de vida efémera, pois em 26 de Fevereiro de 1924 foi provisoriamente extinto por circunstâncias inteiramente estranhas à aviação militar.
É desse tempo, no entanto, a ideia da criação de carreiras aéreas regulares que ligassem os centros mais distantes de Angola e mesmo até Moçambique.
De todo o pessoal expedicionário apenas ficou voluntariamente o tenente Emílio de Carvalho com um único objectivo: conseguir o ressurgimento da aviação militar na Província, concorrer para a aproximação de todos os portugueses espalhados em Angola.
Visitando as oficinas de rádio do AB4


Morreu voando num voo nocturno em Luanda a 13 de Novembro de 1924.
Creio haver uma dívida de gratidão em aberto para com o tenente piloto aviador Emílio de Carvalho.
A partir de 1958 sob a esclarecida visão do Subsecretário de Estado da Aeronáutica, coronel Kaúlza de Arriaga, começou a estruturar-se a implantação da Força Aérea em Angola.
Quando em 13 de Abril de 1961, o Presidente Salazar declarava em alocução célebre:
“Andar rapidamente e em força é o objectivo que vai pôr à prova a nossa capacidade de decisão”.
A Força Aérea poderia sentir-se legitimamente satisfeita pois estava desde o eclodir do terrorismo, contribuindo de forma essencial para a sua neutralização.
E Vossa Excelência, Senhor Governador-Geral, pôde assinalá-lo pessoalmente.
Chegada ao destacamento do Cuito Cuanavale, cumprimentando o pessoal


Reporto-me ao dia 2 de Abril de 1961, domingo de Páscoa, em que Vossa Excelência, Governador de Uíge, comandava um batalhão na serra do Encoge. Entre Vila Viçosa e Cólua tropas suas tinham sofrido fortes emboscadas.
A Força Aérea deu o apoio que lhe foi possível. Às 11 h da noite os seus homens estão novamente em Vila Viçosa depois de 14 h de esforço desgastante em marchas e empenhamentos de combate e vão finalmente comer uma refeição quente.
Vossa Excelência aproxima-se e entrega-lhes um dos volumes que os aviões da Força Aérea lançaram.
Eram doces e amêndoas de Páscoa que a Força Aérea trouxera aos bravos camaradas do Exército como lembrança sugestiva das terras e famílias distantes.
Chegada ao destacamento do Cazombo, cumprimentando o Governador do Moxico e visitando a central elétrica.


Duma carta de Vossa Excelência sobre os acontecimentos desse dia permita-me que a leia:
“Lamento não poder transmitir a grande emoção e sentimento de apoio que sentimos quando após a emboscada e já na povoação de Cólua vimos aparecer a Força Aérea. Só quem realmente viveu o transe poderá sentir emoção tão viva e consoladora”.
Não quis deixar de recordar, pormenor que muito sensibilizou, o apreço que nessa ocasião merecemos do então governador do Uíge.
E é de elementar justiça referir o apoio incondicional que Vossa Excelência sempre tem continuado a conceder aos assuntos relacionados com a Força Aérea e que muito nos desvanece.
Em visita do destacamento do Luso, passando revista á guarda de honra


Senhor Governador Geral, a acção extraordinária de Vossa Excelência como Governador do Uíge, durante 5 anos desde a eclosão do terrorismo e a partir de Outubro de 1966 como Governador-geral deixará o seu nome indelevelmente ligado à história de Portugal.
A promoção social das populações, o fomento da educação, a criação de riquezas, a saúde, a assistência a par do robustecimento da unidade nacional, tem merecido da Vossa Excelência interesse desvelado, intenso e profícuo.
Não é tarefa fácil a elevadíssima função em que Vossa Excelência está investido, uma vez que a subversão fomentada, alimentada e apoiada além-fronteiras não permite abrandamento nos cuidados e vigilância.
Mas do mesmo modo que nos alvores da nacionalidade as fronteiras vigiavam e davam luta sem quartel aos que se infiltravam para raziar, enquanto as restantes gentes se ocupavam nos misteres pacíficos que contribuíam para o progresso e bem-estar da Nação. Assim agora as Forças Armadas estão atentas para que esta portentosa e portuguesíssima Angola se desenvolva e progrida para bem-estar e prosperidade de todos os seus filhos. 
Senhor Governador-geral
Minhas Senhoras. Senhores:
Sinto que tenho abusado da vossa paciência, mas vou terminar com um hino de fé e de confiança no futuro de Angola, de Portugal, transcrevendo palavras de um discurso do senhor presidente do Conselho, professor Marcello Caetano, na sua histórica visita de Abril de 1969:
 “ O segredo do triunfo está no vigor da vontade de vencer. Angola, a Angola-portuguesa, o Portugal-angolano tem um futuro radioso na sua frente: é um futuro que está à vista e que todos juntos os portugueses havemos de conquistar para lição do mundo, para bem da África, para glória e exaltação de Portugal”.
Elevo a minha taça e peço para que me acompanhem num duplo brinde:
- Pela nossa Pátria una e pelo seu venerando Chefe de Estado.
- Por Vossa Excelência, Senhor Governador-geral, por todos os seus, pelas suas felicidades pessoais e de Governo.
Cumprimentos á despedida de Luanda












PALAVRAS PROFERIDAS PELO SECRETÁRIO DE ESTADO DA AERONÁUTICA À SUA CHEGADA A LISBOA













Percorri todos os quadrantes da Província em visita às instalações da Força Aérea e por toda a parte pude verificar com muita satisfação o excelente espírito de corpo, elevado moral, apurado sentido de disciplina e consciente determinação de bem servir de todo o pessoal, bem como a forma rigorosa e exacta como os programas vão sendo cumpridos, segundo os planeamentos previamente elaborados.
Pude também verificar e apraz-me manifestá-lo publicamente o excelente ritmo de desenvolvimento económico e social de Angola.
A promoção social das populações, o fomento da educação, a criação de riqueza, a saúde, a assistência a par do robustecimento da unidade nacional são as linhas mestras e já bem visíveis desse desenvolvimento para bem-estar e prosperidade de todas as gentes em referir quanto me sensibilizaram as inultrapassáveis provas de simpatia, amizade, hospitalidade e gentileza da parte de Sua Excelência o Governador-geral, os governadores de distrito, altas entidades civis, militares e religiosas, restantes forças vivas e populações que contactei. De novo lhes reitero o mais sincero agradecimento.

Notas: Recolha de informação na Revista “Mais Alto” nº. 148 – Agosto 1971
           

Até breve                                                                                    
O amigo


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