VISITA A ANGOLA DO SECRETÁRIO DE ESTADO DA AERONÁUTICA
Julho de 1971
Em
visita às instalações da Força Aérea, em Angola, esteve naquela Província, de
12 a 21 de Julho de 1971, o Secretário de Estado da Aeronáutica, brigadeiro
Pereira do Nascimento.
PALAVRAS
PROFERIDAS PELO SECRETÁRIO DE ESTADO DA AERONÁUTICA À CHEGADA A LUANDA
O SEA cumprimenta os oficiais da FAP
presentes à sua chegada a Luanda
|
“De há muito que tinha o
desejo de visitar os Comandos e Unidades Ultramarinas da FA.
No entanto só agora foi
possível dar-lhe concretização, começando por esta maravilhosa Angola, onde irei
permanecer alguns dias em visita de trabalho para conhecer directamente o
desenvolvimento, estado operacional, implementação dos planos gerais e as
medidas a tomar para que a Força Aérea continue a melhorar a sua eficácia e
rendimento.
Mas esta visita quer ser também uma
demonstração de apreço, admiração e confiança a todo o pessoal da Força Aérea
em Angola, oficiais, sargentos, praças e civis, que com tanto entusiasmo,
generosidade, abnegação, espírito de bem servir e valor cumpre de forma tão destacada
a missão que lhe incumbe.
Ao iniciar esta minha visita a Angola lhes
endereço as mais cordiais saudações.
O SEA na BA9 – LUANDA, acompanhado pelo general Simão Portugal, pelo comandante da Unidade e oficiais que ali prestavam serviço |
Também saúdo com muito
afecto o pessoal dos outros ramos das Forças Armadas e das Forças militarizadas
que com igual abnegação e patriotismo se dão à defesa da integridade da Nação.
Quero ainda englobar nesta minha saudação
toda a população da Província, de todas as raças, cores e religiões que tão
proficuamente labutam para o progresso social e económico desta bela e
portuguesa Angola, contribuindo para manter mais coesa e mais forte a unidade
da Pátria.
Finalmente aos órgãos de informação da Província nas pessoas dos seus representantes aqui presentes, eu quero deixar uma saudação de simpatia pelo vosso árduo labor no difícil empenho de informar sempre correcta e objectivamente.
No AB3 Negage, passando revista á guarda de honra |
DISCURSO
PROFERIDO PELO SECRETÁRIO DE ESTADO DA AERONÁUTICA NO BANQUETE OFERECIDO PELO
GOVERNADOR-GERAL DE ANGOLA
Parece-me interessante fazer
notar que a história da Aeronáutica Militar desde os seus primórdios está muito
ligada a Angola.
Desde o princípio do século, sempre que
nas fronteiras de Angola o inimigo fomentou rebeliões tribais ou, nos tempos
actuais, a eclosão do terrorismo os meios aéreos foram reconhecidos como
indispensáveis.
Assim já em 1905 foi decidido comprar
material de aerostação para acompanhar a expedição ao Cunene.
Com a entrada de Portugal na 2ª Grande
Guerra, de novo sul de Angola se encontrava ameaçada.
Com decisão e rapidez assinaláveis foi
criada e organizada uma esquadrilha de aviação destinada ao serviço de ocupação
e reconhecimento na província de Angola.
Foi a Esquadrilha de Lubango que não
chegou a actuar.
Três anos mais tarde (1921)
foi transferida para o Huambo (Nova Lisboa), vindo a transformar-se nos
serviços de aviação militar de Angola, também de vida efémera, pois em 26 de
Fevereiro de 1924 foi provisoriamente extinto por circunstâncias inteiramente
estranhas à aviação militar.
É desse tempo, no entanto, a ideia da
criação de carreiras aéreas regulares que ligassem os centros mais distantes de
Angola e mesmo até Moçambique.
De todo o pessoal expedicionário apenas ficou voluntariamente o tenente Emílio de Carvalho com um único objectivo: conseguir o ressurgimento da aviação militar na Província, concorrer para a aproximação de todos os portugueses espalhados em Angola.
Visitando as oficinas de rádio do AB4 |
Morreu voando num voo
nocturno em Luanda a 13 de Novembro de 1924.
Creio haver uma dívida de gratidão em
aberto para com o tenente piloto aviador Emílio de Carvalho.
A partir de 1958 sob a esclarecida visão
do Subsecretário de Estado da Aeronáutica, coronel Kaúlza de Arriaga, começou a
estruturar-se a implantação da Força Aérea em Angola.
Quando em 13 de Abril de 1961, o
Presidente Salazar declarava em alocução célebre:
“Andar rapidamente e em força é o
objectivo que vai pôr à prova a nossa capacidade de decisão”.
A Força Aérea poderia sentir-se
legitimamente satisfeita pois estava desde o eclodir do terrorismo,
contribuindo de forma essencial para a sua neutralização.
E Vossa Excelência, Senhor
Governador-Geral, pôde assinalá-lo pessoalmente.
Chegada ao destacamento do Cuito Cuanavale, cumprimentando o pessoal |
Reporto-me ao dia 2 de Abril
de 1961, domingo de Páscoa, em que Vossa Excelência, Governador de Uíge,
comandava um batalhão na serra do Encoge. Entre Vila Viçosa e Cólua tropas suas
tinham sofrido fortes emboscadas.
A Força Aérea deu o apoio que lhe foi
possível. Às 11 h da noite os seus homens estão novamente em Vila Viçosa depois
de 14 h de esforço desgastante em marchas e empenhamentos de combate e vão
finalmente comer uma refeição quente.
Vossa Excelência aproxima-se e
entrega-lhes um dos volumes que os aviões da Força Aérea lançaram.
Eram doces e amêndoas de Páscoa que a Força Aérea trouxera aos bravos camaradas do Exército como lembrança sugestiva das terras e famílias distantes.
Chegada ao destacamento do Cazombo, cumprimentando o Governador do Moxico e visitando a central elétrica. |
Duma carta de Vossa
Excelência sobre os acontecimentos desse dia permita-me que a leia:
“Lamento não poder transmitir a grande
emoção e sentimento de apoio que sentimos quando após a emboscada e já na
povoação de Cólua vimos aparecer a Força Aérea. Só quem realmente viveu o
transe poderá sentir emoção tão viva e consoladora”.
Não quis deixar de recordar, pormenor que
muito sensibilizou, o apreço que nessa ocasião merecemos do então governador do
Uíge.
E é de elementar justiça referir o apoio incondicional que Vossa Excelência sempre tem continuado a conceder aos assuntos relacionados com a Força Aérea e que muito nos desvanece.
Em visita do destacamento do Luso, passando revista á guarda de honra |
Senhor Governador Geral, a
acção extraordinária de Vossa Excelência como Governador do Uíge, durante 5
anos desde a eclosão do terrorismo e a partir de Outubro de 1966 como
Governador-geral deixará o seu nome indelevelmente ligado à história de
Portugal.
A promoção social das populações, o
fomento da educação, a criação de riquezas, a saúde, a assistência a par do
robustecimento da unidade nacional, tem merecido da Vossa Excelência interesse
desvelado, intenso e profícuo.
Não é tarefa fácil a elevadíssima função
em que Vossa Excelência está investido, uma vez que a subversão fomentada,
alimentada e apoiada além-fronteiras não permite abrandamento nos cuidados e
vigilância.
Mas do mesmo modo que nos alvores da
nacionalidade as fronteiras vigiavam e davam luta sem quartel aos que se
infiltravam para raziar, enquanto as restantes gentes se ocupavam nos misteres
pacíficos que contribuíam para o progresso e bem-estar da Nação. Assim agora as
Forças Armadas estão atentas para que esta portentosa e portuguesíssima Angola
se desenvolva e progrida para bem-estar e prosperidade de todos os seus filhos.
Senhor Governador-geral
Minhas Senhoras. Senhores:
Sinto que tenho abusado da vossa
paciência, mas vou terminar com um hino de fé e de confiança no futuro de
Angola, de Portugal, transcrevendo palavras de um discurso do senhor presidente
do Conselho, professor Marcello Caetano, na sua histórica visita de Abril de
1969:
“ O segredo do triunfo está no vigor da
vontade de vencer. Angola, a Angola-portuguesa, o Portugal-angolano tem um
futuro radioso na sua frente: é um futuro que está à vista e que todos juntos
os portugueses havemos de conquistar para lição do mundo, para bem da África,
para glória e exaltação de Portugal”.
Elevo a minha taça e peço para que me
acompanhem num duplo brinde:
- Pela nossa Pátria una e pelo seu
venerando Chefe de Estado.
- Por Vossa Excelência, Senhor Governador-geral, por todos os seus, pelas suas felicidades pessoais e de Governo.
Cumprimentos á despedida de Luanda |
PALAVRAS
PROFERIDAS PELO SECRETÁRIO DE ESTADO DA AERONÁUTICA À SUA CHEGADA A LISBOA
Percorri todos os quadrantes da Província em visita às instalações da Força Aérea e por toda a parte pude verificar com muita satisfação o excelente espírito de corpo, elevado moral, apurado sentido de disciplina e consciente determinação de bem servir de todo o pessoal, bem como a forma rigorosa e exacta como os programas vão sendo cumpridos, segundo os planeamentos previamente elaborados.
Pude também verificar e apraz-me
manifestá-lo publicamente o excelente ritmo de desenvolvimento económico e
social de Angola.
A promoção social das populações, o fomento da educação, a criação de riqueza, a saúde, a assistência a par do robustecimento da unidade nacional são as linhas mestras e já bem visíveis desse desenvolvimento para bem-estar e prosperidade de todas as gentes em referir quanto me sensibilizaram as inultrapassáveis provas de simpatia, amizade, hospitalidade e gentileza da parte de Sua Excelência o Governador-geral, os governadores de distrito, altas entidades civis, militares e religiosas, restantes forças vivas e populações que contactei. De novo lhes reitero o mais sincero agradecimento.
Notas: Recolha de
informação na Revista “Mais Alto” nº.
148 – Agosto 1971
Até breve
O amigo
Da Série:
Gostei de toda a explanação Vitor, que mesmo não sendo de tua autoria foi por ti publicada, eu na altura deveria estar no Luso, mas soube dessa visita.....
ResponderEliminarSergio Durães
OPC1/68
Viva Vitor
ResponderEliminarEste artigo passou-me despercebido e só agora o li.
Abraço.
Também não me lembro nada desta ocasião.
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