quinta-feira, 18 de janeiro de 2024

A "MANELA DA SATA"



Esta é uma história real que, de uma forma muito cristalina, faz a narrativa de uma mulher simples e solidária, que, numa pequena ilha dos Açores, ganhou a merecida consideração de todos os açorianos e muito particularmente dos habitantes da Graciosa e da Força Aérea Portuguesa. Pela sua enorme dedicação e solidariedade, estas simples palavras, são uma homenagem à “Manela da SATA”
Com a chegada dos helicópteros SA-330 Puma aos Açores, em novembro de 1976, as evacuações mais urgentes e de noite, da ilha da Graciosa, passaram a ser executadas pelos Pumas.
O aeroporto da Graciosa foi inaugurado em 11 de julho de 2001, era, à altura, pertença e gerido pela câmara municipal de Stª. Cruz da Graciosa. Esta pista era uma das poucas pequenas pistas nos Açores a ter iluminação noturna.
Para os pilotos dos helicópteros Puma era um conforto aterrar de noite na pista da Graciosa, muito particularmente, em dias de mau tempo. Todavia, havia um problema, o aeroporto e a sua pequena aerogare, fechavam por volta das cinco da tarde. O comando da base aérea das Lajes contactou a câmara de Stª. Cruz com o objetivo, e sempre que necessário, alguém da câmara fosse ligar as luzes da pista durante a noite.
Meu dito, meu feito...a câmara arranjou uma interessante e prática solução. Solicitou a uma funcionária administrativa da SATA na Graciosa, de seu nome Manuela Santos, sempre que necessário e fosse solicitado pela Força Aérea, ela ligasse as respetivas luzes, cujos interruptores estavam localizados na torre de controlo.
E, assim, durante muitos anos, esta prática e simples solução, foi funcionando da melhor forma.
Quando era recebido um pedido de evacuação noturna da Graciosa, as operações da base telefonavam de imediato para casa da dona Manuela Santos e ela metia-se no seu carro em direção ao aeroporto e ato continuo ligava as luzes da pista, e nunca falhou.
Os anos foram passando e a Manuela Santos ficou conhecida por todos, nomeadamente as tripulações dos Pumas como a “MANELA DA SATA”.

Conta-se a história, não verdadeira, que numa noite de inverno rigoroso com ventos fortes, foi pedida uma evacuação da Graciosa. Como habitual o oficial-de-dia às operações da base, telefonou para casa da “Manela da SATA” informando-a da evacuação. Passados cerca de 40 minutos o Puma estava a aterrar na pista da Graciosa, com esta devidamente iluminada. Como de costume, a Manela vinha cumprimentar a tripulação, só que desta vez, vinha de “Pijama e de Roupão”. Embora, este episódio nunca tenha acontecido, a história acabou quase como uma lenda oral na esquadra dos Pumas.
A “Manela da SATA”, pela sua enorme dedicação, solidariedade e humildade, no contributo da salvaguarda da vida humana, granjeou uma grande consideração e amizade de todos os habitantes da Graciosa e de todos as tripulações da base aérea das Lajes ... Bem hajas

Por: Gen. Alfredo Cruz (In FB)


quinta-feira, 4 de janeiro de 2024

OS TAIP - TRANSPORTES AÉREOS DA INDIA PORTUGUESA


Pouco antes da invasão indiana do Estado Português da Índia, os TAIP foram utilizados para a evacuação de civis de Goa para Karachi.
No dia da invasão (18 de Dezembro de 1961) encontrava-se no Aeroporto de Dabolim apenas um DC-4 dos TAIP que escapou, juntamente com um avião da TAP, ao bombardeamento que sofreu aquela instalação.
Nessa noite a pista foi reparada permitindo aos dois aviões levantar voo para Karachi de onde seguiram para Lisboa. Acabou aí a operação dos TAIP.
No dia 19 de Dezembro de 1961, Nehru rompe o não ao belicismo e envia forças armadas para o ataque aos três territórios: Goa, Damão e Diu. Estavam a caminho das eleições, e o seu partido estava atrás nas sondagens.
Do lado de Portugal, Salazar queria jogar o papel de vítima, numa batalha perdida há muito. Às potências internacionais era-lhes interessante poder apontar o dedo moral a uma Índia não alinhada nas jogadas intercontinentais.
Aviões bombardeiros E.E. Camberra arrasam a pista e danificam o DC-4 dos TAIP e o Superconstellation da TAP ali estacionados. Incrivelmente ambos os aviões conseguiram descolar enquanto os indianos permaneciam convencidos de terem interditado o aeroporto e de terem capturado por preempção de fuga as aeronaves.
O Superconstellation (CS-TLA, “Vasco da Gama”,) da TAP, comandado por Manuel Correia Reis, copilotos Anselmo Ribeiro e Alcídio Nascimento, navegador P. Reis, mecânicos A. Coragem e H. Dias, radiotelegrafista A. Pereira, comissário Madeira e assistentes Prazeres e Carlota, descolou para Karachi usando apenas os 700 metros de pista disponível. Três horas depois aterrava com um pneu furado e 25 buracos, consequência dos estilhaços provocados pelo bombardeamento da aviação indiana à pista.
O Comandante Solano de Almeida pilotou o último voo efectivo dos TAIP, de Goa também para Karachi, capital do Paquistão na altura, em voo rasante ao solo para evitar a aviação inimiga, transportando as mulheres e crianças familiares dos militares portugueses.
De salientar que o ataque a Dabolim não teve justificação militar visto Portugal não ter ali um único meio aéreo que não fosse civil.
A guerra saldou-se com 34 mortos e 57 feridos em combate para Portugal, 30 mortos e 57 feridos para a Índia. Uma infantaria de pouco mais de 3.000 efectivos lutou durante dois dias contra uma força 10 vezes maior, e que dispunha de 22 caças e 20 bombardeiros como meios aéreos.
No geral, a recusa do militares em seguir a política de “terra queimada” imposta por Salazar, e lutar até á morte de todo o nosso contingente militar, fez com que se evitasse derramamento de sangue inútil e que a retirada de Portugal fosse para sempre vista como uma tragédia irresponsável e cruel.
A maior parte as potências ocidentais condenou o ataque Indiano, tanto por terem um passado colonialista, como por aproveitamento de minar a política de não-alinhamento de Nehru. O partido deste ganhou de facto as eleições, mas manchou a sua imagem, imaculada até então, de pacifista.

Miguel Pessoa Cor.Pilav.
Lisboa domingo, 30 de outubro de 2011