quinta-feira, 25 de abril de 2019

SOU PIONEIRO DO AB4







Pertenci à primeira incorporação FAP, que após recruta na Carregueira jurou bandeira, em 25 de Abril de 1959, comemoramos hoje 60 anos.
Também sou pioneiro do AB4.
Estive ainda 6 meses a dormir em tendas de campanha. 
Na altura Furriel de Abastecimento 22 anos, o Fur. MMA Arzileiro, o Fur. Carita, o Sarg. Pereira enfermeiro, o Fur. Gandum também enfermeiro, o Sarg. MMA Godinho, são alguns dos sargentos que recordo. 
Como Comandantes apanhei o Ten.Cor. Andrade Fernandes vindo do DGMFA. O Major Carita, 2º. Comandante e depois o Coronel Luís Gonçalves do Amaral.
Eu fui na altura substituir o 2º. Sarg. Morgado.
Quando fomos inaugurar os quartos tive como parceiro o amigo Baguecha que jogava a doer, eu dormia enquanto eles jogavam. Por vezes quando acordava lá tinha que apanhar as notas espalhadas no chão, ralhava com ele, e lá o levava ao Banco do Saurimo depositar o dinheiro ganho. Ele ganhava sempre, julgo que King. Grande companheiro.
Bem-Haja
Quanto ao Bem-Haja, já lá estava ao serviço das Infras.
Para a Historia, em determinada noite houve um temporal que levantou a cobertura de chapa dos Armazéns da Esquadrilha de Abastecimento e de um Hangar e colocou-as a metros de distancia. Como era eu, Furriel, que conduzia o novo auto empilhador, ao sábado e domingo lá ajudava com o empilhador nas obras a cargo das Infras. No final, o Major Eng. Horta e o Sarg. Ajudante Pimentel quiseram agradecer-me com dinheiro. Como estava interessado em continuar os estudos, porque sabia que tinha as portas de acesso abertas na carreira, pedi ao Engenheiro Horta, que queria era ir para Luanda e não dinheiro. Como tinha havido um problema com o 1º. Sargento Madeira que estava nas Infras foi meio caminho para a transferência. Escusado será dizer que o Sarg Aj. Pimentel encarregado de obras foi um grande amigo, prometeu-me e cumpriu.
Pessoal da Esquadrilha de Abastecimento

Rescaldo: do Ten.Cor. Andrade dois louvores directos dele, um do DGMFA, e outro do AB4.
Em 1965 fui transferido a meu pedido para Luanda - DDSI2 - tendo sido substituído pelo Valério Tereso.
Vamos com isto recordando o grande AB4, QUE NUNCA ESQUECEREI, e onde fui promovido a 2º. Sargento.
Quando saí de lá era o Tenente Celestino Maia o Comandante da Esquadrilha de Abastecimento, substituíra o Tenente Monteiro que foi punido pelo Cmdte Ten.Cor. Andrade Fernandes, por não ter a carga das Messes em dia.

Saudações do

quinta-feira, 18 de abril de 2019

PSICO


A Acção Psicológica destina-se a influenciar as atitudes e o comportamento dos indivíduos. Na guerra subversiva é utilizada para obter o apoio da população, desmoralizar e captar o inimigo e fortalecer o moral das próprias forças, assumindo três aspectos diferentes, embora intimamente relacionados: 

- acção psicológica 
- acção social psicossocial 
- acção de presença. 

Quer as forças portuguesas, quer os movimentos de libertação usaram intensamente a acção psicológica como arma, integrando-a na panóplia de meios disponíveis para a conquista dos seus objectivos, dentro da ideia que as «palavras são os canhões do século XX» e que, como se ensinava aos futuros chefes da guerrilha na escola de estado-maior da China, na guerra revolucionária «deve atacar-se com 70 por cento de propaganda e 30 por cento de esforço militar». 
A acção psicológica exercida sobre a população, o inimigo e as próprias forças foi conduzida através da propaganda, da contrapropaganda e da informação, de acordo com as finalidades de cada uma destas áreas: a primeira, pretendendo impor à opinião pública certas ideias e doutrinas; a segunda, tendo como finalidade neutralizar a propaganda adversa; por último, a informação, fornecendo bases para alicerçar opiniões. Mas, para serem eficazes, os meios de condicionamento psicológico necessitam de encontrar ambiente favorável. 
Quanto às populações, procurou-se criar esse ambiente propício com a acção social, que visava a elevação do seu nível de vida, para as cativar, «conquistando-lhes os corações» e originando condições mais receptivas à acção psicológica. Esta acção foi desenvolvida sob a forma de assistência sanitária, religiosa, educativa e económica. 
Da conjunção da acção psicológica com a acção social surgiu a acção psicosocial, que foi designada por Apsic ou simplesmente por Psico. 
Relativamente ao adversário, a acção psicológica das forças portuguesas procurou isolar os guerrilheiros das populações, desmoralizá-los e conduzi-los ao descrédito quer na sua acção, quer na dos seus chefes. Para o efeito utilizaram-se panfletos e cartazes lançados de aviões ou colocados nos trilhos de acesso e nas povoações, emissões de rádio, propaganda sonora directamente a partir de meios aéreos, apelando à sua rendição e entrega às forças militares ou administrativas, garantindo-lhes bom tratamento e explicando-lhes que a participação na guerrilha constituía um logro. 
Como toda a acção tem o seu reverso, os movimentos de libertação apelavam aos ideais de paz e de justiça, dirigindo a sua acção a grupos-alvo seleccionados: trabalhadores, intelectuais, estudantes, militares e mulheres, apresentando como ideias-chave a guerra injusta, o direito à independência e autodeterminação, o atraso económico provocado pelas despesas da guerra e os sacrifícios exigidos à juventude e suas famílias. 
De forma geral, a oposição política ao regime completou a actividade dos movimentos de libertação através de acções de mentalização e propaganda, algumas espectaculares, como as que foram dirigidas contra instalações militares pela Acção Revolucionária Armada e as Brigadas Revolucionárias. 
Para responder a esta actividade adversária, que pretendia «minar o aparelho militar por dentro e retirar-lhe a, vontade de combater», as Forças Armadas exerceram também esforço de acção psicológica sobre os seus elementos, cuja finalidade era manter e fortalecer o moral dos combatentes, procuravam conseguir esse fortalecimento transmitindo a crença na justiça da causa que se defendia e a fé na vitória. As acções destinadas a conseguir esses objectivos revestiam-se quase sempre, de carácter de exaltação patriótica, com o recurso a exemplos de heróis militares.


quinta-feira, 11 de abril de 2019

FAV - FORMAÇÕES AÉREAS VOLUNTÁRIAS

Auster - Foto de Fermelindo Rosado

As Formações Aéreas Voluntárias (FAV) - ocasionalmente referidas como "Forças Aéreas Voluntárias" - constituíram uma organização de milícia aérea criada em 1962 como corpo auxiliar da Força Aérea Portuguesa na Guerra do Ultramar.
As FAV eram constituídas por civis (pilotos e pessoal de terra), normalmente pertencentes a aeroclubes, que operavam aeronaves ligeiras pertencentes aos próprios clubes ou à Força Aérea, sob o comando de um oficial militar. Cada FAV estava adida a uma unidade da Força Aérea, na dependência operacional do comando de região aérea. 
FAV funcionaram em Angola e Moçambique.
Auster e Dornier 27 eram as aeronaves mais utilizadas pelas FAV. 
A primeira FAV a ser criada foi a Formação Aérea Voluntária n.º 201 (FAV 201) em Luanda, organizada pelo Aeroclube de Angola e adida à Base Aérea n.º 9. A FAV 201 foi formada a partir da Esquadrilha de Voluntários do Ar (EVA), que tinha sido constituída por pilotos civis voluntários que auxiliaram as Forças Armadas Portuguesas nas operações anti-guerrilha no Norte de Angola em 1961, entre os quais os conhecidos Comandante Aires e o director de a “Provincia de Angola” Rui Correia de Freitas.
No norte de Angola
As FAV executavam sobretudo missões de apoio logístico às Forças Armadas e população civil, com o fim de libertarem os pilotos militares da Força Aérea para missões de combate.
Essencialmente as missões eram as seguintes:
Observação, Vigilância Aérea e Reconhecimento Visual (RVIS); Escuta Rádio; Reconhecimento Fotográfico (RFOT); Busca e Salvamento; Lançamento de Reabastecimentos e Munições por Para-quedas; Lançamentos Livres; Evacuação Sanitária (TEVS); Transporte de Mensagens e Ligação Logística (DLIG).
De notar que, em alguns casos raros, sobretudo nas primeiras operações no norte de Angola, as FAV chegaram a realizar operações de combate, nomeadamente de reconhecimento armado (ATIR) e ataque em apoio das forças de superfície (ATAP).
Auster 3537, em manutenção no Luso, em 1973 - Foto de Afonso Palma 


quinta-feira, 4 de abril de 2019

QUANDO NUMA MISSÃO AÉREA AS COMUNICAÇÕES NÃO FUNCIONAVAM


As comunicações eram importantíssimas e quando não funcionavam motivavam as mais complexas situações. 
O José Pedro Borges, piloto de helicópteros no leste de Angola, viveu momentos atribulados durante uma missão de recolha de um grupo de GEs (grupos especiais, forças paramilitares) na zona de Gago Coutinho. 
Tinham ido para a mata pelo próprio pé e a dada altura foi preciso ir buscar um elemento que estava ferido. O José Pedro Borges lá foi, mas estava com dificuldade em perceber as vagas indicações que lhe eram dadas via rádio para o ponto de encontro. 
No local em que diziam estar, não via ninguém! As coordenadas não podiam estar corretas. 
Com o calor e o mato seco, lembrou-se de sugerir ao seu interlocutor que fizesse um pouco de fumo para que o conseguisse localizar mais facilmente lá de cima. 
O outro assim fez e continuava a insistir que estava no local onde dizia estar, mas o piloto continuava a não ver nada no horizonte.
Já impaciente com a imprecisão das indicações, gritou ao outro que por aquele andar só o conseguiria ver se pegasse fogo à mata! E o outro assim fez.... José Pedro Borges não queria acreditar que os GEs haviam mesmo deflagrado um incêndio em pleno mato angolano, e precisavam que os fossem não apenas recolher, mas salvar! Foi um ver se te avias para os encontrar e em vez de recolher apenas o militar que estava ferido, foi preciso tirá-los de lá a todos em tempo recorde, senão morriam queimados ou, no mínimo, intoxicados!



Também o José Feijó igualmente piloto dos hélis, enfrentou um problema de comunicação com um elemento dos GEs durante uma missão de resgate. 
O grupo estava no terreno, tinha completado uma missão e lá foi uma formação de helicópteros buscá-los. 
A comunicação entre a mosca (helicóptero) e a cobra (grupo de GEs) era feita por rádio, e estes tinham de dar ao chefe de formação dos helicópteros indicações sobre o ponto exacto onde se encontravam para que pudessem ser recolhidos. Ora o comandante dos GEs que estava no chão também dava indicações tão imprecisas (seria o mesmo?) que o piloto Feijó não se orientava. E naquela troca de palavras que não levava a nada, entre o estamos aqui, e...o aqui onde?! O Feijó perdeu a paciência e, num desabafo, deixou escapar um: «mas aqui onde, porra?!». 
Fez-se um silêncio momentâneo no rádio, até que o GE lhe respondeu, ofendido, no seu sotaque africano, que se o outro voltasse a dizer «porra», não lhe dizia onde estava!

"O outro lado da Guerra Colonial"