quinta-feira, 23 de fevereiro de 2023

O T6 1685

Foto de Gonçalo de Carvalho

O T6G matrícula FAP 1685 foi aumentado ao efectivo em 1961. Fazia parte de um lote de 55 fornecidos pela L'Armée de L'Air.
Foi colocado no AB3-Negage, onde operou normalmente.
Em 1966, teve de efectuar uma aterragem de emergência, na Serra do Canzundo, quando era pilotado por Artur Alves Pereira, felizmente não se verificaram danos pessoais.
Em finais de 1969, depois de reparado foi colocado no AB4-Henrique de Carvalho.
Operou nesta Base até 30/6/1975, data em que voou para a BA9 e ali terminou a sua vida operacional.
Algures no leste de Angola - foto de Gido Ferreira


Foi uma das aeronaves que "ficou" por Angola.
Quando em 2013 o governo angolano decidiu criar o Museu Nacional da História Militar, na Fortaleza de S. Miguel, o 1685 juntamente com o 1668 embora muito danificados faziam parte do espólio do museu.
2010 - foto de Maximiano Miguel


Após um razoável trabalho de recuperação, está desde aquela data exposto no referido Museu.
2013 - foto de Carlos Fernando dos Anjos



Por: A. Neves




quinta-feira, 9 de fevereiro de 2023

UMA LÁGRIMA PATRIÓTICA



Diz um provérbio japonês que " tempo a rir é tempo passado com os deuses".
Eu, acrescentaria que chorar é tempo passado com o diabo! Não o choro, do sentimento, mas o choro da revolta .
Perdeu-se a vergonha neste canteiro lusitano! Patria, alma de um povo, simbolismo de tantos mártires que te deram a imortalidade, não passas hoje de vulgar coutada de suinos, onde fedelhos imberbes e petulantes escravos da obediência, te obrigam a corar de vergonha no hemiciclo do poder.
Hoje, a Pátria exulta com pontapés na bola. Canta-se a "Portuguesa" em palcos conspurcados de vozes roucas de desfaçatez. Leva credenciais a Bruxelas por ladradores do rebanho amotinados pela gula do interesse pessoal. A Pátria paga tributo por receber ouro para ser roubado por "patriotas". A pátria é canção pimba, porque anima os arraiais da coutada. A Pátria corre por canos de esgotos como se deixasse de cheirar a alecrim. A Pátria não tem bandeira, furtaram-lhe a cor, nos currais dos democratas do "venha a nós". Trocaram-lhe as voltas em mastro de cerimónia. Tudo é Pátria neste país menos a minha Pátria! A minha, morreu abandonada por ter derramado sangue na luta pela verdadeira liberdade. A minha Pátria foi covarde, porque lutou para que a corja hoje possa roubar e corromper em democracia. A minha Pátria derramou lágrimas pela independência e pelo bem estar do povo . A minha Pátria não hipotecou a soberania para ornamentar mordomias. A minha Pátria, a quem tu fedelho de merda chamas covarde , tinha-os "en su sitio"!
Por isso deixem-me chorar! A minha Pátria ainda sabe ser mãe. No seu regaço, em tumba térrea, ainda me consola do choro amargo da minha revolta !
Um beijo de agradecimento à minha Pátria.

(Júlio Corredeira)








foto: Castelo Freixo de Espada à Cinta

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2023

O NOSSO AMIGO E COMPANHEIRO GUEDELHA PARTIU.

"Joe" Helder Guedelha no Cazombo


Este companheiro, o Hélder Leitão Robalo Guedelha, Especialista de Meteorologia (OMET) no AB4 de 1969 a 1971, pelo seu carácter e a forma de estar na vida, fez uma diferença abismal perante os seus colegas da mesma especialidade, que pareciam um grupo de rufias com predicados próprios que era de bom tom fugir deles, embora no fundo fossem bons rapazes.
Vamos conferir!

Jaime "Abi" e Vitor "Pilas"


Jaime Rosa Dias (Abi), lisboeta que fez a recruta comigo, era um produto moderno da aristocracia que parava no Cais de Sodré e similares. Já não era inculto, já se vestia bem e escondia a tendência da vadiagem. Morava na R. Angelina Vidal, foi criado pela mãe e o padrasto que o adorava. Foi tirar a especialidade nos Açores e em Setembro de 1970 foi para Henrique de Carvalho.
No AB4 era o campeão do King, Ramin, Lerpa, Abafa, qualidades adquiridas na night. Organizou com classe dois eventos que nos encheram de alegria, o Cacimbo 71 e Crack-Crack, este último com ajuda do Carlos Caixinhas.
O Crak-Crak reconhecendo-se oe apresentadores Carlos Martins e Rui Dinis


O Jaime foi de férias e trouxe uma roleta de casino. No dia da chegada montou a banca e logo começou a rodar e a aceitar apostas. Nessa própria noite houve bancarrota, o Caixinhas, sabedor e com sorte, obrigou ao fecho do Casino.
Finda a tropa, Jaime arranjou lugar nos seguros, 
mas foi sol de pouca dura, preferia esquemas, o último foi uma rede de lojas dos trezentos, com uma central de distribuição para abastecer também concorrentes, mas quando o negócio começou a falhar, pôs fogo ao armazém, que queimou tudo menos aquilo que lhe importava e ao fim de vários anos foi indemnizado pelo veredicto do tribunal. Teve negócios em Angola e depois Brasil, país onde casou a 2ª vez e lhe foi diagnosticado um cancro no céu da boca.
Foi dos primeiros 
amigos da tropa a falecer.
Guedelha, em pé de chapéu, numa sessão de fados no Clube


Hélder Guedelha gostava de fado nos saraus que fazíamos, amiúde ele cantava a Ginjinha e o Embuçado. Furtava-se muitas vezes a este último fado porque esquecia-se da letra. No festival da canção Cacimbo 71, quando o "locutor" Jaime Abi apresentou o artista, fê-lo da seguinte forma: vamos apresentar um inédito do poeta, compositor e intérprete Hélder Guedelha de titulo "Rasgos de Sexo", que vibrou um vigoroso coro de aplausos. A canção ficou em 3º. lugar. Em 1º. ficou o Vítor Glórias, com o inédito "Tudo em Reboliço" e em último o Damiano Gil, que passou o resto da noite a dizer que tinha sido injustiçado.
Mendes Martins, primeiro da esquerda


Carlos Mendes Martins "Olho Nele", irmão de um conhecido locutor da TV da altura, bem falante, foi locutor da Rádio Saurimo, arrombava armários, era mentiroso e bem falante.
Tirou a especialidade com Jaime Abi nos Açores. Era natural de uma aldeia da Guarda, conseguiu entrar na Lusa e chegou a Diretor Comercial. Está reformado como professor especialista do Politécnico da Guarda. É caso para dizer: "mentir e ser bem falante fazem milagres".
Clube - 1969, Parreira, Nogueira, Guedelha e Mourão
Não foram só estes que o Hélder aturou, até nem eram os piores. Ele era um rapaz calmo com um ar de irlandês, cara vermelha, cabelo e penugens ruivas, dentro de uma farda amarela presa por arames e agrafos. Gostava de cerveja e era um desafiador para jogar ao General Mak, que ninguém conseguia acabar. Tinha um ritual de palavras e gestos que originavam enganos e retomar nova rodada de cerveja, só depois de muito arranjo se passava para o segundo patamar que abria o General Mak-Mak; abre pela 2ª. vez, já ninguém conseguia a 3ª. vez, o álcool fazia efeito.
Caixinhas Borges à viola num ensaio do conjunto, na bateria o Fernando Braga


Carlos Caixinhas Borges era pintor, tinha uma forma estranha de viver que impressionava. Gostava de trabalhar de noite e descansar de dia. Não me recordo deste fazer destacamento, dormia na minha caserna juntamente com Mendes Martins e Martins "Eva". Fez a 2ª. parte da pintura do Clube dos Especialistas.
Foi criado com as tias com pormenores desconhecidos, mas dormia com uma venda nos olhos de cor azul bebé em seda e cetim. Dava-se mal com toda a gente, pressentia que era superior. Morreu cedo e no limiar da indigência. O Capitão Neto Portugal ainda lhe prestou algumas ajudas.
O Hélder Guedelha fez alguns destacamentos, nomeadamente no Cazombo. Uma vez estávamos na placa de Henrique Carvalho à espera do Nord Atlas, sai um capitão do Exército, vê o nosso amigo e abraçou-o com entusiasmo, ficamos a saber que se conheceram no Cazombo e cultivaram uma amizade impar entre os dois, o apelido do capitão era o "Tigre da Lumbala".
Vitor Faria "Pilas" em mais uma das suas loucuras


O Vítor Faria "Pilas" era sem favor o mais louco especialista que 
conheci. Faleceu há cerca de 3 anos. Lisboeta puro, corte de cabelo à escovinha e camisas cintadas. Fez um evento designado de "Noites Árabes" onde não faltaram véus e coreografias de dança, coitado do barista que aturou o Pilas e seus bailarinos toda a noite. Outro ensaio foi projectar uma carnificina num lago que era uma poça com rãs, com catanas pintadas a fingir sangue.
A vida civil dele foi sempre ligada a empresas de segurança privada.

Quando acabou a tropa, o Guedelha conseguiu entrar para a banquice, esteve uns anos na Rua dos Correeiros e transitou para Castelo Branco até à sua reforma. Sempre que um amigo o visitava iam ao bar do Banco Montepio, que era uma cave. Fui lá algumas vezes com grande satisfação que nos recebia.
Martins "Eva" primeiro da esquerda em pé, num jogo de andebol na cidade, em 1972


Carlos Martins "Eva" também fez vida em Lisboa. O seu tempo de Ultramar foi quase todo passado no Luso e destacamentos. O apelido "Eva" veio da cor de cabelo e sobrancelhas, loiros. Era frequentador do Pica Pau onde tinha uma protegida. Andava durante o dia com cuecas das meninas e à noite pendurava-as no canto inferior da cama. Nunca se orientou por uma vida normal, sempre no trapézio, foi sócio do Jaime "Abi", mas nas partilhas após o incêndio, não recebeu o que queria, foi trabalhar para a Trafaria com o Fernando Braga no seu restaurante o Caldeiradas.
Não tinha carta de condução, mas conduzia, não tinha seguro nem inspecção, mas pouco importava e por último o carro não era dele. Está voluntariamente fugido, facilmente se sabe porquê.
José Gonçalves e Eusébio, 2º. e 4º. com Margalho e Schimth


Não foram todos maus os amigos de meteorologia, safaram-se o José Maria Gonçalves e o Eusébio Ferreira, pessoas normais que não faziam ondas.
Quatro dos OMET referidos: Borges Caixinhas, Helder Guedelha, Vitor "Pilas" e Jaime "Abi", no Carnaval de 1971


Este pequeno escrito é a forma que encontrei para lembrar um Homem bom que partiu do nosso convívio, que em vida me sensibilizou e guardei a sua agradável companhia para todo o sempre.

Paz à tua alma "Joe"





Por: Toneta, Janeiro de 2023
Fotos do Blog editadas por A. Neves