quinta-feira, 25 de outubro de 2018

NO AERÓDROMO DE MANOBRA Nº.43 - CAZOMBO

O Cazombo em 1970 - foto de Ribeiro da Silva

Este aeródromo do Cazombo, o AM 43,  ficava onde o mapa de Angola faz uma reentrância, o saliente do Cazombo, e com a particularidade de se situar a Leste do rio Zambeze que vai desaguar no Indico em Moçambique.
Creio que em fins de 1971 fui destacado para aqui a fim de fazer o levantamento topográfico da área do aquartelamento.
Naquela altura, no Cazombo, permaneciam refugiadas tropas catanguesas deslocadas do Catanga quando da revolta naquela província relacionada com a questão do cobre.
Além deste Aeródromo da Força Aérea que funcionava como base avançada no apoio às forças terrestres em operações, também havia um aquartelamento do Exército Português.
Entre os militares portugueses e as tropas catanguesas havia cooperação e bom entendimento traduzido muitas vezes em várias ocasiões de confraternização.
Foto de Abilio Pimenta
No Cazombo encontrei uma qualidade de pedra, de cor rosada, macia, com a qual os nativos produziam vários objectos artísticos tais como copos, pratos, cinzeiros, fruteiras, castiçais, etc., umas autênticas obras de arte. Trabalhavam a pedra como se fosse madeira com ferramentas artesanais.
Várias oficinas da "Pedra do Cazombo" fabricavam este tipo de artesanato que era muito procurado sobretudo pela tropa. Eu próprio comprei ali duas peças uma das quais ainda tenho em casa: uma fruteira magnificamente trabalhada.
Apesar de este aeródromo ficar isolado nos confins do Leste de Angola, em que a ligação com o exterior apenas era feita semanalmente pelo avião Noratlas a partir de Luanda via Henrique Carvalho ou Luso, os cerca de 40 militares da Força Aérea que formavam o efectivo, nunca se sentiram abandonados. Estávamos perto da vila do Cazombo onde havia comércio e cervejarias.
Nas redondezas da pista havia algumas sanzalas cuja população nativa era pacífica e hospitaleira.
O AM - foto de Luis Timóteo
Os meios aéreos destacados para apoio terrestre das operações em curso traduzia-se em dois aviões caça-bombardeiro T- 6 e um helicóptero Alouette III, este pilotado pelo meu amigo 1.°Sargento Piloto Rui Jofre.
Foto de e com José Sampaio
Ao contrário da carência que passei no Camaxilo, aqui não passei fome. Quando escasseava a comida na messe o Comandante do Aeródromo alertava o 1.° Sargento Jofre. Este, acompanhado sempre pelo seu cabo mecânico, metiam-se no helicóptero para algum tempo depois voltarem com uma ou mais peça de caça.
O 1.° sargento Rui Jofre conhecia bem a região onde abundavam os animais selvagens. A táctica para apanhar a rês, era a seguinte: encontrada a manada escolhia o melhor animal e perseguia-o em voo rasante até o fazer cair de cansaço. Punha o aparelho no chão, saía calmamente e alvejava o animal na cabeça. Abatido o animal, metiam-no no helicóptero e regressavam à base.
Pelo menos uma vez assisti à chegada desta caçada.
Durante esta minha comissão de serviço em Angola nunca comi tão bem como quando estive destacado no Aeródromo de Manobra n.° 43 no Cazombo. A carne de palanca era uma delícia tanto em bifes, como grelhada, estufada ou guisada, toda ela era uma maravilha!

Por:










Agradecemos ao Sr. Major Serafim Esteves, nos ter permitido transcrever este texto do seu livro "As Memórias do Major".

Sem comentários:

Enviar um comentário