quinta-feira, 11 de outubro de 2018

A COLUNA QUE FOI BUSCAR O T6 1781 A MUSSUMA


DO 27 em Mussuma

A Companhia de Caçadores 1719 instalada no quartel da Vila de Gago Coutinho (Lumbala N`guimbo) terra da etnia dos Bundas, ia tomando parte em algumas operações e escoltando colunas de reabastecimento para Ninda, Sessa, Mussuma, etc.
Uma das localidades que ninguém gostava de ir entre outras era a Mussuma, que distava de Gago Coutinho á volta de 70 kms e que ficava a cerca de 6 kms da fronteira com a Zâmbia.
Em determinado dia de Agosto de 1968, fui nomeado para ir comandar uma coluna militar com destino a Mussuma a fim de trazer um T6 avião da Força Aérea, que tinha sido obrigado, por avaria, a aterrar de barriga (sem trem de aterragem) na pequena pista existente em Mussuma.

Em Mussuma encontrava-se destacado um pelotão, que já lá se encontrava aquartelado há uns tempos. A coluna era composta por um pelotão reforçado (40 homens) transportado em Unimogs e ia também um camião GMC carregado com grades de cerveja, batatas e mais alguns mantimentos para o pessoal destacado em Mussuma. A GMC iria trazer o T6 o qual estava a ser preparado para tal por uma equipa de mecânicos da Força Aérea, que já lá se encontrava e que tinha sido transportada por héli. 

Rogério Magro à esquerda
Como neste itinerário já tinham havido diversos ataques por parte do MPLA, era normal os T6 aparecerem no ar a dar apoio aéreo o qual era sempre muito bem vindo, o que aconteceu e que nos tranquilizou. O trajecto em picada tinha muitos riachos cujos pontões estavam destruídos, pelo que era necessário atravessar com as viaturas por cima dos rios e riachos, o que os Unimogs faziam com alguma facilidade, já não acontecia com a GMC carregada, a qual em alguns casos só com a ajuda dos guinchos dos Unimogs se conseguia transpor esses riachos, até que nos apareceu um rio de maior envergadura e a GMC ficou encalhada no meio do rio e foi cá um trabalhão para a recolocar de novo na picada.
Passou-me pela cabeça descarregar a GMC e atravessar o rio com ela vazia, mas depois era necessário levar a carga até á margem do lado de lá nos Unimogs e o mais certo era que grande parte da carga caísse ao rio já que os Unimogs não tinham condições para acondicionar a carga. Estava-mos ali com um problema tremendo, até que me lembrei e chamei o condutor da GMC, e ordenei-lhe que tirasse as pranchas que a GMC trazia nas laterais e que fizéssemos uma ponte com as pranchas que eram um pouco mais largas do que as rodas da GMC, o condutor disse-me logo, que com o peso da carga as pranchas não iam aguentar.
Colocadas as pranchas, que por um acaso estavam mesmo á medida do vão do pontão, o condutor iniciou a marcha muito devagar, eu encontrava-me do outro lado do rio a orientar, devagar, devagar, devagar, gritava eu, estava a GMC mais ou menos para lá um bocado mais do meio do rio quando começo a notar que as pranchas começavam a entortar, gritei acelera, acelera, porra ! O condutor acelerou e a GMC ficou totalmente do lado de lá, por um triz e as pranchas ficaram quase em L. Se a GMC tem caído ao rio tinha sido um problema dos diabos, lá tinha ido a carga e o T6 tinha ficado em Mussuma á espera de outro transporte. 
Chegados a Mussuma encontrei o Sarg. Isidro mais conhecido por "Meirim", da Força Aérea, que tinha ido desmontar as asas do T6, com quem eu me tinha cruzado no Luso e ido ao cinema, aquando do episódio da pasta com a "guita" para a Companhia.
O regresso efectuou-se no dia seguinte. O T6 lá veio amarrado numa viatura que se portou lindamente e atravessou todos os rios e riachos sem problemas de maior (o peso do T6 não tinha nada a ver com o carregamento de grades de cerveja e sacos de batatas).
O episódio das pranchas a dobrarem ficou-me sempre gravado na memória, se a GMC tem caído ao rio tenho a impressão que passava lá o resto da comissão a apanhar as cervejas e as batatas, como ás vezes digo na brincadeira quando me encontro com o pessoal nos almoços de confraternização anuais.
A guerra tinha muitas coisas insólitas, pois não é que eu tive que ir em defesa do condutor da GMC no auto que lhe foi levantado por causa do estado das pranchas, tendo eu assumido a responsabilidade de ter dado a ordem para a sua utilização naquelas circunstâncias e assinei, é insólito mas foi verdade.

Por:

Rogério Valente Magro
FB-VCG

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