quinta-feira, 16 de maio de 2024

NÃO SOMOS NÓS QUE ESCOLHEMOS A VIDA, É A VIDA QUE NOS ESCOLHE


"Não somos nós que escolhemos a vida, é a vida que nos escolhe"
Luso, Angola, 1969.
Era dia de São Avião no Luso, Leste de Angola, e quem pudesse ia até ao aeródromo local ver quem partia e quem chegava no "barriga de ginguba", o velho Nord Atlas da Força Aérea que fazia a ligação com Luanda. Grande programa.
O rapaz encostado à asa do T6, avião militar de treino promovido a bombardeiro, sou eu próprio, jovem Alferes Miliciano ao serviço do Exército Português.
Na altura os aviões só me interessavam enquanto ruidosas máquinas de guerra, nada mais. Nem nos meus sonhos mais delirantes alguma vez me passou pela cabeça que três anos depois estaria a caminho dos Estados Unidos para me tornar piloto profissional.
Por vezes ainda hoje custa a crer.

Por: Comandante José Correia Guedes



quinta-feira, 2 de maio de 2024

BA1 SINTRA - BREVETAMENTO DE 10 NOVOS PILOTOS DE T-37


Na Base Aérea n.º l, em Sintra, realizou-se no dia 5 de Setembro de 1972 a cerimónia do brevetamento de nove pilotos do curso básico (aviões de reacção T-37) que terminara em 31 de Agosto. 
Presidiu à cerimónia o Director do Serviço de Instrução, brigadeiro Henrique Troni, que foi recebido pelo comandante da Unidade, coronel piloto aviador Barbeitos de Sousa e pelos oficiais que ali prestam serviço. 
A iniciar a cerimónia, o coronel Barbeitos de Sousa pronunciou as seguintes palavras: 
Enquanto a razão de ser duma Força Aérea for o binómio aviões/pilotos, a cerimónia do brevetamento destes não poderá  deixar de ser a mais significativa entre todas qualquer que seja a importância numérica do contingente a brevetar. 
É à luz desta verdade que nos alegramos por ver hoje diante de nós os 10 pilotos que acabam de completar com sucesso o curso de pilotagem básica, em aviões de reacção, que começara com 16 alunos. 
Destes 10 pilotos finalistas, 4 são oficiais ao Quadro Permanente e 6 são oficiais milicianos. Todos vão receber os seus diplomas das mãos do Brigadeiro Director do Serviço de Instrução. E a 9 dos 10 (visto que 1 era já piloto brevetado) os «brevets» que bem mereceram serão impostos, pelos seus instrutores tal como se vai tornando tradição da Base Aérea n.º1.
Sobre o significado presente e futuro desta ocasião, é próprio que fatie o Comandante da Esquadrar T-37 em que se cumpriu o esforço que levou ao resultado de hoje. A mim, porém. Comandante recente desta Base, cabe pelo menos o gostoso dever de agradecer a presença, nesta singela cerimónia, do brigadeiro Director do Serviço de Instrução (ele mesmo antigo Comandante desta Unidade) bem como a de todos aqueles que hoje nos favorecem com a sua comparência. 
Ouçamos agora o capitão Silvestre. comandante da EIPB até há poucos dias
Das palavras do capitão piloto aviador Silvestre Santos arquivamos as seguintes passagens:
Esta cerimónia já faz parte integrante da vida da Base Aérea n.º l que, como Unidade de Instrução, a vê repetir-se todos os anos, e para o qual toda a unidade trabalhou em conjugação de esforços e sem desânimos.
Ela é, pois, a afirmação categórica de que a missão primária da Base Aérea n.º 1 foi integralmente cumprida.
Podeis estar certos que esta cerimónia de imposição das asas, tão cheia de significado e ao mesmo tempo tão simples e singela, perdurará para sempre nas vossas memórias como um marco importantíssimo da vossa vida.
Sois finalmente pilotos! Completastes um curso que nada fica a dever quer em dificuldade quer em conhecimentos àqueles que se fazem noutras Forças Aéreas mais evoluídas.
Podeis crer que, qualquer que seja o vosso futuro, dentro da Força Aérea ou fora dela, o curso que acabais de completar servirá sempre de base sólida para a aplicação de conhecimentos complementares que daqui em diante possais receber.
Todos os vossos instrutores têm trabalhado sempre para se manterem actualizados na técnica e nos conhecimentos, quer frequentando cursos no estrangeiro quer por estudo próprio, de modo a estarem conscientemente à altura de vou
poderem ensinar e aconselhar Foi decerto esgotante para vós ouvir «breves» intermináveis, repetir vezes sem conta diversas manobras fundamentais e executar tantos procedimentos na altura exacta; foi-vos exigida a agressividade e clareza de raciocínio indispensáveis para a nossa profissão; transmitimos tudo aquilo que achámos fundamental para iniciarem as vossas carreiras.
Não vos deslumbreis com as asas que. dentro em pouco, vos serão colocadas no peito. É a partir de hoje que tereis de as justificar pela vossa conduta no ar, no chão e também por um elevado grau, de profissionalismo.
Escolhesteis uma profissão para onde não vem quem nuer mas sim quem tem capacidade, quer física quer intelectual. Não vos iludais, contudo
, pois a época em que a  habilidade nata imperava já passou há 
muito e hoje um piloto não pode descansar à sombra do que sabe, pois corre o risco de dentro em pouco estar desactualizado. Torna-se pois imperioso, à medida, que a experiência aumenta, aumentar também e a toda a hora a nossa bagagem profissional.
Convivemos durante dez meses num elevado espírito de disciplina e, ao mesmo tempo, dentro da mais sã e sincera camaradagem. Aceitámos as vossas sugestões para que o curso se torne ainda melhor. Conhecemo-nos mutuamente; e do autodomínio dos defeitos e da valorização das virtudes resultará decerto uma Força Aérea melhor.
É para isso que todos nós estamos a trabalhar, e é aqui que vós tereis decerto quinhão importante.
Que consigais cumprir as vossas missões, para vossa realização como pilotos e oficiais e também para engrandecimento da Força Aérea, é o nosso desejo e, devo dizê-lo, não só o nosso desejo, é também a nossa convicção.


Seguiu-se a imposição das «asas» e a distribuição dos diplomas.

Revista Mais Alto 161 SET1972