quinta-feira, 21 de maio de 2009

CARTA DO EDITOR

Caros Companheiros:
 É com muito gosto que vos vou escrever estas linhas para vos dar conhecimento da evolução do Blog e o que pensamos fazer daqui por diante.
 É verdade que com o vosso apoio fantástico que dos finais de Novembro até esta data recebemos quase 5.000 visitas, número que esperamos atingir até ao final do mês.
 Porque o Blog é uma ferramenta interessante para uma pessoa escrever e dar asas á sua imaginação, torna-se um local difícil de consultar quando um grupo como este manifesta-se massivamente com um apoio em artigos espectaculares.
 Assim, a equipe Editorial resolveu após a opinião geral em avançar para a construção e publicação dum SITE.
 É verdade que sendo de melhor consulta trás um acréscimo de responsabilidades que para que possamos ultrapassar temos de ter a vossa colaboração com o empenho igual ao que a equipe actual tem dedicado. Pensamos assim além das rubricas já criadas;” Companheiro da Quinzena, Literatura e Arte, Repórter da Actualidade, Álbum de Recordações e Tesourinhos”, gostaríamos de criar mais alguns que nos dessem a consistência necessária para um Site do tipo de “Jornal Semanário” com a rotatividade e criatividade para ser um local atractivo, de lazer e diversão.
 Por tal, vamos criar as rubricas; “Saúde, Informática, Trânsito, Roteiros da Minha Terra, e outros que vocês apresentem como sugestão.
 Pensamos publicar o primeiro número no início de Junho e esperamos o vosso apoio desde já para que essa publicação seja mais uma vez a mostra da especial união e camaradagem de todos os companheiros que passaram prlo AB4.
 Em nome de toda a equipe aqui vos deixo com um grande Abraço
 Portugal, 20 de Maio de 2009

Rui Neves
Editor

terça-feira, 19 de maio de 2009

HOMENAGEM AO JOSÉ MANUEL VAZ DE ALMEIDA



Infelizmente mais uma notícia triste nos acaba de ser transmitida.
Paz à sua alma, as nossas condolências à família e a todos os que mais de perto conviveram com o Vaz Almeida.
O COMPANHEIRO JOSÉ MANUEL VAZ DE ALMEIDA, QUE RESIDIA NA ILHA DA MADEIRA – FUNCHAL, ESTAVA PARA VIR AO ENCONTRO DOS "CHAMUANZAS" EM QUE JÁ TINHA ALOJAMENTO MARCADO E TUDO.
NA VÉPERA DE VIR SENTIU-SE MAL, FOI PARA O HOSPITAL E A FILHA, BRANCA DE ALMEIDA LOGO SE APRESSOU A TRANSMITIR O SUCEDIDO.
HOJE E PARA GRANDE TRISTEZA MINHA E DOS “CHAMUANZAS”, RECEBO O E-MAIL QUE REENVIO.
ÁLVARO BARROSO

17/05/2009 Amigo,
Venho dar uma má notícia, o meu pai José Manuel Vaz de Almeida não resistiu e faleceu hoje às 10h. 
O funeral será amanhã 14h com missa às 13h. Cumprimentos a todos os Chamuanzas
Branca

terça-feira, 12 de maio de 2009

EPISÓDIOS VIVIDOS NA "MAJESTOSA"

MEMÓRIAS DE UM PASSADO SAUDOSO

*Quase três anos de Leste de Angola --- muitas pequenas peripécias aconteceram na Torre de Controlo, onde operei por centenas de horas, noite e dia.
Nos primeiros dias que estive de serviço e, durante o turno da noite, fiquei com receio de permanecer exposto a uma cena de invasão da Base, pelos inimigos. 
Situava-me num ponto estratégico e que poderia ser um bom e primeiro alvo de ataque. Vinte e cinco metros de altura, edifício de fraca estrutura, gingando por todos os lados e, nos dias de grandes trovoadas, metia respeito !... 

1 - Num dos turnos nocturnos, naquelas noites silenciosas em que quase todos os militares dormiam, eu vigiava através dos vidros da cabine hexagonal. Nisto, ouvi um roncar longínquo de um avião que me parecia ser de grande envergadura. 
Mirei com os binóculos todo o espaço aéreo ao meu alcance e, nem uma luzinha eu avistei -- mas, o barulho continuava a ouvir-se e com maior ruído. 
Algum avião inimigo??? 
Chamo Luanda, peço informações sobre a possibilidade da rota daquele avião e, eis que me informam tratar-se dum quadrimotor Rodesiano que transportava gado bovino. 
Curioso!... o piloto não deu sinais de vida aos meus apelos pela rádio e, nem o avião tinha alguma luz visível para assinalar a sua direcção… 

2 - Noutra ocasião, encontrava-se um companheiro meu, o Rui Silva, de serviço à Torre. 
A torre nocturna
Ao escurecer, notou que havia uma luz que pairava no céu, mas que teimosamente não queria fazer-se à pista!... Tentou contactar com a suposta aeronave, mas esta não dava sinais de vida. 
Disparou um “very light” verde, para permissão de aterragem e, a luz da aeronave continuava a circular em volta da pista sem se aperceber de qualquer intenção. Intrigado, pensando que pudesse ser algum disco voador, telefonou para o Bar de sargentos a fim de solicitar a ajuda dum outro controlador mais experiente. 
Lá vou eu ter com o Rui Silva para indagar da situação. Conclusão, houve “ilusão de óptica”, “miragem pura”. A aeronave não existia!... Porém, já tinha sido avisado o oficial de dia, iluminado as pistas com os candeeiros a petróleo e, chamado um bombardeiro que se encontrava ocasionalmente no Luso (Douglas B-26), para ajudar no combate…! 

3 - Noites mortas, difíceis de passar naquela Torre e, para me entreter, sintonizava um dos rádios transmissores para ouvir música. 
A colecção de borboletas
Outros dias, acendia o holofote para atrair as borboletas e, de madrugada, descia ao edifício anexo à Torre e, pelos corredores, pisando as mal cheirosas formigas cadáveres, injectava com formol, (cedido pelo enfermeiro Correia) certas borboletas lindíssimas, grandes e, de todas as espécies. 
Coleccionei cerca de 200 e, ainda hoje tenho presente dois quadros na minha sala. Soube que uns dos fãs destes “hobbies” , era um Sargento Açoreano chamado Flores. Este, dedicava-se com paixão na apanha das borboletas e, por sinal, na altura em que se encontrava em H. de Carvalho, (antes de 1971), e quando os edifícios da Base eram pintados de branco, (e, não de verde claro), ele conseguiu caçar a célebre e única borboleta no Mundo -- Borboleta Caveira. Por cada quadro que ele elaborava, colocava uma dessas borboletas e, remetia-o para os Açores a fim de ser vendido aos Americanos. Fez bom negócio… 

4 - Outras vezes, sem ocupação, dormitava na maca que a Torre possuía, porém, era preciso ter um cuidado extremo pois, o célebre Capitão Laurentino andava em nossa perseguição. 
Militarista de primeira, não queria que dormíssemos e, as luzes do tecto da Torre deveriam estar sempre acesas. A nossa sorte era que quem iniciasse a subida à Torre, a fragilidade da estrutura fazia com que estremecesse e, nós, lá em cima, apercebíamos a situação. 
Noutra altura, não deu para dormir…

Controlador ZePaes
5 - Luanda chamava, chamava… e, alertou para o facto de haver possibilidade da Base de Henrique de Carvalho se tornar alternativa para voos que se destinavam à capital. Luanda estava cercada de nevoeiro e, a pista de Henrique de Carvalho era superior à de Nova Lisboa. 
Colocava-se a situação de como albergar os passageiros de alguns aviões pois, Hotel, só havia um!... A pista não tinha iluminação eléctrica e a nossa cidade ficava no Cu do Mundo… 
Passaram-se momentos de indecisões e, eis que o nevoeiro deu indícios de se dissipar. Assim, continuou Luanda a servir o tráfego aéreo. Livra… 

6 - No dia em que um Friendship Fokker-27, da DTA, caiu no mar, junto de Lobito, a ansiedade de saber sobre a possível existência de sobreviventes era enorme. 
O co-piloto Mesquita foi um dos três sobreviventes e, tinha família na cidade de Henrique de Carvalho. Nessa altura, morreram vinte e dois passageiros e, um dos meus amigos de infância, militar no exército e jogador da equipa do Moxico, campeã de Angola em 1972, escapou-se por sorte. Quis o destino determinar-lhe fazer viagem por terra quando, lhe tinham já pago a viagem para seguir nesse avião. 
Estava de serviço, no controlo, e recebi uma notícia particular de Luanda em que me solicitaram para dar a informação à família do co-piloto em como ele estava vivo. Foi um alívio para os familiares e, uma grande alegria que lhes dei porquanto, servi de primeira fonte informativa. Para mal do destino, esse piloto viria a falecer, anos mais tarde, num acidente aéreo, comandando um avião ao serviço da Sata, numa das ilhas centrais dos Açores.

7 - Encontro-me na Torre, dou autorização a um T-6 para aterrar mas, nem o vigio a cem por cento.
Placa e pista vistas da Torre
Condições normalíssimas de tempo, pista toda por conta do avião em causa --- que ficasse à vontade… Mas, eis que ao olhar para a pista, vejo uma imensa nuvem de poeira!? 
Nem disse nada, no momento…
Quando fui almoçar, perguntei ao piloto. Eh.. pá… Andavas ás curvas na pista? Diz-me ele --- não digas nada, o mecânico, distraidamente, carregou num dos pedais quando o avião estava mesmo a tocar o asfalto…


8 - Pilotos brincalhões e experientes, conheci muitos porém, num dia de vento moderado, assisti a uma aterragem de um Dornier-27, que mais parecia um helicóptero. 
Vejo o DO com boa altitude a fazer-se à pista, dou-lhe autorização para aterrar e começo a avistar-lhe todos os movimentos. 
Devagarinho, contra o vento, desce-me como se fosse uma pessoa a descer os degraus de uma escada. Devagarinho, de solavanco em solavanco, cai quase na perpendicular, dá um pulo no chão e, pára. 
Gozei com o espectáculo --- nunca tinha visto coisa semelhante! 
Piloto particular do Governador; Caboverdeano de origem; o saudoso ALEX… 


9 - Fim de ano de 1973, tinha na cidade, família e, uma correspondente, a qual viria a ser minha mulher. Esta, tinha vindo passar o ano a Saurimo e, precisamente, no cinema do Chikapa, com festa e bailarico!... 
À partida, rumo a Malanje, eis que se encontra por debaixo da Torre para subir para o avião da TAAG. 
Disse para comigo!... --- gostava de lá ir abaixo e, despedir-me dela!... 
Por do sol visto da Torre
Chamei o especialista de comunicações, que se encontrava no seu posto e, solicitei-lhe que desse as instruções ao piloto para a descolagem. Não se previa mais movimentação de tráfego e, estes nossos companheiros tinham alguma instrução porque, ajudavam o controlo nos destacamentos. 
Desci, esperei uns minutos, despedi-me dela e, voltei à Torre com ansiedade e expectativa. 
Entretanto, tinha avistado outro avião a fazer-se à pista e, precisamente no momento da descolagem do F-27 da TAAG. 
Na Torre, vi o companheiro com aspecto amarelado, que me disse: Ehhh pá… apanhei um cagaço do car… Então?! … Ohhh … dar as instruções ao piloto da TAAG, lá dei, mas apareceu-me outro a pedir instruções para aterragem e, eu fiquei a ver navios, em vez de aviões… Vim a saber que os pilotos se entenderam pelas comunicações que travaram e, para nossos agradecimentos, nem o militar, nem o civil, fizeram participação do acontecimento ao nosso comando militar. 
Ainda hoje vivo esta situação como uma falha de responsabilidade que poderia ter dado para o torto… 

10 - Parte do Luso um PV-2 com destino a H. de Carvalho. 
Comandava-o um Tenente que dava para o gordinho, meia-idade, e um pouco falador. 
No sub-comando, acompanhava-o o Gomes da Silva. Registei a hora da sua partida por comunicação com os colegas do Luso e, aguardei pelo contacto da aeronave. Sabíamos qual o tempo de rota para este tipo de aeronave e, não é que já passava do tempo e, a comunicação não saía!… 
Chamei, chamei e, eis que me contactam. Informam-me da sua posição e, comunicam-me a hora prevista de aterragem. Passa o tempo e, só muito mais tarde me pedem autorização para aterrar. 
Conclusão, vim a saber por especialistas que, os dois pilotos vinham numa discussão sobre qualquer assunto e, distraidamente, prosseguiram rota sem terem dado conta da emissão do rádio farol de H. Carvalho. 
E, …não é que já se encontravam na fronteira do Congo !?... 

11 - Trovoada, trovoada que nunca tinha visto com tamanha dimensão!... 
Na Torre, equipamentos quase todos desligados, centrava-me deitado na maca a pedir aos Deuses para não levar com um raio na tola. Tirei imensas fotos com o céu varado de raios… Parecia um festival de foguetes… Um colega, da sala de despacho, receando pela minha vida, chamava-me pela fonia. Eu, ouvia, mas evitava responder-lhe. Mas, tanto chamava que eu carreguei na tecla para emitir-lhe a mensagem. Nesse momento, levei com um coice, que me deitou ao chão. 
Caraças, coincidência dos raios… 
Pior, pior, poderia ter acontecido a um companheiro Opcart chamado Carrão. Era mais velhinho do que eu e, o tempo do Leste estava a estragá-lo no vício das bebedeiras. De serviço, passava as noites, na Nocal. Noite de trovoada, já com os copos, resolveu descer a Torre pela parte que ligava o fio condutor do pára-raios!...
Foi um doido de varrer… 

12 - Trovoada, trovoada, também surgiam para os lados de Gago Coutinho…. Voz fraquinha, lá longe, com atrapalhação, ouvia eu, um piloto chamar…. H. Carvalho… H. Carvalho… daqui, DO…. A tantos graus de latitude/longitude, com proveniência de G. Coutinho e com destino ao Luso. Tenho dificuldades em prosseguir rota. Grande turbulência, trovoada, escuto… 
O.K. mensagem recebida. Vou contactar o Luso e informar Luanda da sua posição. Sempre que possa vá transmitindo a sua posição e estado. 
As mensagens surgiam cortadas, pausadas, sumidas e interrompidas. Interromperam de vez e, fiquei sem saber se o DO tinha caído ou, não… Chamei o Luso para indagar sobre o acontecido. Tinha o nosso grande amigo Pinheiro conseguido sobreviver a uma tempestade medonha. 
Para minha alegria, contactei com ele anos atrás, era piloto militar de carreira e oficial superior. 
Grandes aventuras tive com ele de avião, (T-6 e DO-27). Enfim, era nesta Torre que escrevia as minhas cartas aos meus pais (já falecidos), irmã, amigos e namorada. Nesses momentos saudosos, aplicam-se com justeza os versos da Balada de H. de Carvalho, da autoria do nosso companheiro Rocha Marques (piloto), quando narram o seguinte: 
“Quando a noite veste de sombras o mundo, 
E o silêncio me desperta a solidão, 
Verto lágrimas e o meu sofrer é profundo, 
Põe-me louco de saudade o coração…

Até breve. 






domingo, 10 de maio de 2009

SÉRIA VIVÊNCIA, O BOTÃOZINHO LIGADO PRA BAIXO !

Entre Outubro e Dezembro de 1969, fiz o meu primeiro destacamento no AM43–Cazombo.
Relembro, com saudade, o Alferes Grade, bem como o Tenente Pinto… que o rendeu, no Comando! 
Pela manhã, quem chegasse primeiro ao Posto de Rádio, ligava os instrumentos… pois éramos uma família…! 

Claro que, aqui, esta família reduzia-se ao 'Especial' da Meteorologia, nesse tempo o Leãozama da Meteo, o tal que nos dizia que o tempo estava a 2 de CU, a 2.500’, o da Electricidade, o de Rádio (Mecânicos) e, nós próprios, os OPC’s (nesse tempo, meu querido amigo, José Manuel Pereira Franco). 
Um dia, porém, de muita chuva e trovoada à vertical… alguém ligou os ditos aparelhos… mas, um certo botãozinho ficou pra cima… quando devia ter ficado pra baixo… Resultado: estávamos sempre a EMITIR e… tudo o que se dizia no Posto de Rádio ía para o AR… 
Tendo questionado Carvalho (AB-4), responsavelmente, se havia algum tráfego prá Minha… foi-me dito pelo nosso querido amigo Félix : - NEGATIVO!… 
Tudo bem… pois que, com aquele tempo… totalmente 8/8 de CU e NB, com chuva forte e trovoada… a coisa estava feia pra se 'aterrar'... 
Mas eis que, de repente… sem saber como, de onde vinha, nem de quem se tratava… ouviram-se uns motores de um avião a baixíssima altitude sobre as nossas cabeças… Kunkaneko… quem vem aí, com este tempo e sem avisar! 
Pensámos todos…? 
Pelo VHF chamei: - aeronave que sobrevoa Cazombo, queira identificar-se… mas… nicles… ninguém me respondeu… Pra nosso espanto… era um PV-2… municiado… 
Mas então… de onde vinha este PV-2 se Carvalho me tinha dito que não tinha nada prá Minha? 
Pois é… nem tudo se sabe… 

Este PV-2 vinha do Luso… não tendo, porém, dado cavaco a Carvalho sobre seu plano de voo… 
Sei é que chegou ao Cazombinho no silêncio… mas FULO… 
Seu Comandante de bordo, um nosso querido Capitão Pilav… do qual não recordo o nome… mal parou na placa, cheia de água, pois chovia a cântaros, entrou pelo Posto de Rádio e gritou: - quem é que manda aqui? 
Respondi-lhe: - sou eu, senhor Capitão! 
Bem, disse-me cobras e lagartos. Que se tinha fartado de me chamar, que ninguém lhe tinha respondido, que vinha a ouvir-nos desde o Luso, que se tinha visto grego e troiano com aquele tempo, que lá em cima não havia passeios pra se encostar, que ia participar de mim… blá, blá, blá, blá. 
Fiquei a olhar pra ele sem saber o que responder... Olhei, então, pró equipamento… como que a perguntar a mim mesmo: como é que ele nos tem vindo a ouvir desde o Luso!? E então vi, o dito botãozinho ligado pra cima… quando devia estar ligado pra baixo… 
Dei disso conhecimento ao senhor Tenente Pinto, explicando-lhe o sucedido, pedindo que intercedesse por nós… 
Coisas que acontecem a quem lida com elas... como sempre, ou, como em tudo... Facilidades que podiam dar maus resultados... 
A coisa ficou assim mesmo, mas… pra susto… valeu.

Abraços do JESUS/OPC – 69/73