segunda-feira, 9 de novembro de 2009

1º ANIVERSÁRIO DO BLOG



CAROS AMIGOS:
Faz hoje precisamente 1 ano que após o Convívio do dia 8 de Novembro de 2008 em Castro Laboreiro editei o BLOG " Clube de Especialistas do AB4.
Num ano e em conjunto, estes dois eventos foram consultados na totalidade 13.870 vezes.
Espero que vos tenha agradado e é tempo de vos agradeçer pela camaradagem e colaboração que me dispensaram.
A todos os colaboradores, editores e amigos, um Muito Obrigado.
Rui Neves Editor do Blog

quinta-feira, 21 de maio de 2009

CARTA DO EDITOR

Caros Companheiros:
 É com muito gosto que vos vou escrever estas linhas para vos dar conhecimento da evolução do Blog e o que pensamos fazer daqui por diante.
 É verdade que com o vosso apoio fantástico que dos finais de Novembro até esta data recebemos quase 5.000 visitas, número que esperamos atingir até ao final do mês.
 Porque o Blog é uma ferramenta interessante para uma pessoa escrever e dar asas á sua imaginação, torna-se um local difícil de consultar quando um grupo como este manifesta-se massivamente com um apoio em artigos espectaculares.
 Assim, a equipe Editorial resolveu após a opinião geral em avançar para a construção e publicação dum SITE.
 É verdade que sendo de melhor consulta trás um acréscimo de responsabilidades que para que possamos ultrapassar temos de ter a vossa colaboração com o empenho igual ao que a equipe actual tem dedicado. Pensamos assim além das rubricas já criadas;” Companheiro da Quinzena, Literatura e Arte, Repórter da Actualidade, Álbum de Recordações e Tesourinhos”, gostaríamos de criar mais alguns que nos dessem a consistência necessária para um Site do tipo de “Jornal Semanário” com a rotatividade e criatividade para ser um local atractivo, de lazer e diversão.
 Por tal, vamos criar as rubricas; “Saúde, Informática, Trânsito, Roteiros da Minha Terra, e outros que vocês apresentem como sugestão.
 Pensamos publicar o primeiro número no início de Junho e esperamos o vosso apoio desde já para que essa publicação seja mais uma vez a mostra da especial união e camaradagem de todos os companheiros que passaram prlo AB4.
 Em nome de toda a equipe aqui vos deixo com um grande Abraço
 Portugal, 20 de Maio de 2009

Rui Neves
Editor

terça-feira, 19 de maio de 2009

HOMENAGEM AO JOSÉ MANUEL VAZ DE ALMEIDA



Infelizmente mais uma notícia triste nos acaba de ser transmitida.
Paz à sua alma, as nossas condolências à família e a todos os que mais de perto conviveram com o Vaz Almeida.
O COMPANHEIRO JOSÉ MANUEL VAZ DE ALMEIDA, QUE RESIDIA NA ILHA DA MADEIRA – FUNCHAL, ESTAVA PARA VIR AO ENCONTRO DOS "CHAMUANZAS" EM QUE JÁ TINHA ALOJAMENTO MARCADO E TUDO.
NA VÉPERA DE VIR SENTIU-SE MAL, FOI PARA O HOSPITAL E A FILHA, BRANCA DE ALMEIDA LOGO SE APRESSOU A TRANSMITIR O SUCEDIDO.
HOJE E PARA GRANDE TRISTEZA MINHA E DOS “CHAMUANZAS”, RECEBO O E-MAIL QUE REENVIO.
ÁLVARO BARROSO

17/05/2009 Amigo,
Venho dar uma má notícia, o meu pai José Manuel Vaz de Almeida não resistiu e faleceu hoje às 10h. 
O funeral será amanhã 14h com missa às 13h. Cumprimentos a todos os Chamuanzas
Branca

terça-feira, 12 de maio de 2009

EPISÓDIOS VIVIDOS NA "MAJESTOSA"

MEMÓRIAS DE UM PASSADO SAUDOSO

*Quase três anos de Leste de Angola --- muitas pequenas peripécias aconteceram na Torre de Controlo, onde operei por centenas de horas, noite e dia.
Nos primeiros dias que estive de serviço e, durante o turno da noite, fiquei com receio de permanecer exposto a uma cena de invasão da Base, pelos inimigos. 
Situava-me num ponto estratégico e que poderia ser um bom e primeiro alvo de ataque. Vinte e cinco metros de altura, edifício de fraca estrutura, gingando por todos os lados e, nos dias de grandes trovoadas, metia respeito !... 

1 - Num dos turnos nocturnos, naquelas noites silenciosas em que quase todos os militares dormiam, eu vigiava através dos vidros da cabine hexagonal. Nisto, ouvi um roncar longínquo de um avião que me parecia ser de grande envergadura. 
Mirei com os binóculos todo o espaço aéreo ao meu alcance e, nem uma luzinha eu avistei -- mas, o barulho continuava a ouvir-se e com maior ruído. 
Algum avião inimigo??? 
Chamo Luanda, peço informações sobre a possibilidade da rota daquele avião e, eis que me informam tratar-se dum quadrimotor Rodesiano que transportava gado bovino. 
Curioso!... o piloto não deu sinais de vida aos meus apelos pela rádio e, nem o avião tinha alguma luz visível para assinalar a sua direcção… 

2 - Noutra ocasião, encontrava-se um companheiro meu, o Rui Silva, de serviço à Torre. 
A torre nocturna
Ao escurecer, notou que havia uma luz que pairava no céu, mas que teimosamente não queria fazer-se à pista!... Tentou contactar com a suposta aeronave, mas esta não dava sinais de vida. 
Disparou um “very light” verde, para permissão de aterragem e, a luz da aeronave continuava a circular em volta da pista sem se aperceber de qualquer intenção. Intrigado, pensando que pudesse ser algum disco voador, telefonou para o Bar de sargentos a fim de solicitar a ajuda dum outro controlador mais experiente. 
Lá vou eu ter com o Rui Silva para indagar da situação. Conclusão, houve “ilusão de óptica”, “miragem pura”. A aeronave não existia!... Porém, já tinha sido avisado o oficial de dia, iluminado as pistas com os candeeiros a petróleo e, chamado um bombardeiro que se encontrava ocasionalmente no Luso (Douglas B-26), para ajudar no combate…! 

3 - Noites mortas, difíceis de passar naquela Torre e, para me entreter, sintonizava um dos rádios transmissores para ouvir música. 
A colecção de borboletas
Outros dias, acendia o holofote para atrair as borboletas e, de madrugada, descia ao edifício anexo à Torre e, pelos corredores, pisando as mal cheirosas formigas cadáveres, injectava com formol, (cedido pelo enfermeiro Correia) certas borboletas lindíssimas, grandes e, de todas as espécies. 
Coleccionei cerca de 200 e, ainda hoje tenho presente dois quadros na minha sala. Soube que uns dos fãs destes “hobbies” , era um Sargento Açoreano chamado Flores. Este, dedicava-se com paixão na apanha das borboletas e, por sinal, na altura em que se encontrava em H. de Carvalho, (antes de 1971), e quando os edifícios da Base eram pintados de branco, (e, não de verde claro), ele conseguiu caçar a célebre e única borboleta no Mundo -- Borboleta Caveira. Por cada quadro que ele elaborava, colocava uma dessas borboletas e, remetia-o para os Açores a fim de ser vendido aos Americanos. Fez bom negócio… 

4 - Outras vezes, sem ocupação, dormitava na maca que a Torre possuía, porém, era preciso ter um cuidado extremo pois, o célebre Capitão Laurentino andava em nossa perseguição. 
Militarista de primeira, não queria que dormíssemos e, as luzes do tecto da Torre deveriam estar sempre acesas. A nossa sorte era que quem iniciasse a subida à Torre, a fragilidade da estrutura fazia com que estremecesse e, nós, lá em cima, apercebíamos a situação. 
Noutra altura, não deu para dormir…

Controlador ZePaes
5 - Luanda chamava, chamava… e, alertou para o facto de haver possibilidade da Base de Henrique de Carvalho se tornar alternativa para voos que se destinavam à capital. Luanda estava cercada de nevoeiro e, a pista de Henrique de Carvalho era superior à de Nova Lisboa. 
Colocava-se a situação de como albergar os passageiros de alguns aviões pois, Hotel, só havia um!... A pista não tinha iluminação eléctrica e a nossa cidade ficava no Cu do Mundo… 
Passaram-se momentos de indecisões e, eis que o nevoeiro deu indícios de se dissipar. Assim, continuou Luanda a servir o tráfego aéreo. Livra… 

6 - No dia em que um Friendship Fokker-27, da DTA, caiu no mar, junto de Lobito, a ansiedade de saber sobre a possível existência de sobreviventes era enorme. 
O co-piloto Mesquita foi um dos três sobreviventes e, tinha família na cidade de Henrique de Carvalho. Nessa altura, morreram vinte e dois passageiros e, um dos meus amigos de infância, militar no exército e jogador da equipa do Moxico, campeã de Angola em 1972, escapou-se por sorte. Quis o destino determinar-lhe fazer viagem por terra quando, lhe tinham já pago a viagem para seguir nesse avião. 
Estava de serviço, no controlo, e recebi uma notícia particular de Luanda em que me solicitaram para dar a informação à família do co-piloto em como ele estava vivo. Foi um alívio para os familiares e, uma grande alegria que lhes dei porquanto, servi de primeira fonte informativa. Para mal do destino, esse piloto viria a falecer, anos mais tarde, num acidente aéreo, comandando um avião ao serviço da Sata, numa das ilhas centrais dos Açores.

7 - Encontro-me na Torre, dou autorização a um T-6 para aterrar mas, nem o vigio a cem por cento.
Placa e pista vistas da Torre
Condições normalíssimas de tempo, pista toda por conta do avião em causa --- que ficasse à vontade… Mas, eis que ao olhar para a pista, vejo uma imensa nuvem de poeira!? 
Nem disse nada, no momento…
Quando fui almoçar, perguntei ao piloto. Eh.. pá… Andavas ás curvas na pista? Diz-me ele --- não digas nada, o mecânico, distraidamente, carregou num dos pedais quando o avião estava mesmo a tocar o asfalto…


8 - Pilotos brincalhões e experientes, conheci muitos porém, num dia de vento moderado, assisti a uma aterragem de um Dornier-27, que mais parecia um helicóptero. 
Vejo o DO com boa altitude a fazer-se à pista, dou-lhe autorização para aterrar e começo a avistar-lhe todos os movimentos. 
Devagarinho, contra o vento, desce-me como se fosse uma pessoa a descer os degraus de uma escada. Devagarinho, de solavanco em solavanco, cai quase na perpendicular, dá um pulo no chão e, pára. 
Gozei com o espectáculo --- nunca tinha visto coisa semelhante! 
Piloto particular do Governador; Caboverdeano de origem; o saudoso ALEX… 


9 - Fim de ano de 1973, tinha na cidade, família e, uma correspondente, a qual viria a ser minha mulher. Esta, tinha vindo passar o ano a Saurimo e, precisamente, no cinema do Chikapa, com festa e bailarico!... 
À partida, rumo a Malanje, eis que se encontra por debaixo da Torre para subir para o avião da TAAG. 
Disse para comigo!... --- gostava de lá ir abaixo e, despedir-me dela!... 
Por do sol visto da Torre
Chamei o especialista de comunicações, que se encontrava no seu posto e, solicitei-lhe que desse as instruções ao piloto para a descolagem. Não se previa mais movimentação de tráfego e, estes nossos companheiros tinham alguma instrução porque, ajudavam o controlo nos destacamentos. 
Desci, esperei uns minutos, despedi-me dela e, voltei à Torre com ansiedade e expectativa. 
Entretanto, tinha avistado outro avião a fazer-se à pista e, precisamente no momento da descolagem do F-27 da TAAG. 
Na Torre, vi o companheiro com aspecto amarelado, que me disse: Ehhh pá… apanhei um cagaço do car… Então?! … Ohhh … dar as instruções ao piloto da TAAG, lá dei, mas apareceu-me outro a pedir instruções para aterragem e, eu fiquei a ver navios, em vez de aviões… Vim a saber que os pilotos se entenderam pelas comunicações que travaram e, para nossos agradecimentos, nem o militar, nem o civil, fizeram participação do acontecimento ao nosso comando militar. 
Ainda hoje vivo esta situação como uma falha de responsabilidade que poderia ter dado para o torto… 

10 - Parte do Luso um PV-2 com destino a H. de Carvalho. 
Comandava-o um Tenente que dava para o gordinho, meia-idade, e um pouco falador. 
No sub-comando, acompanhava-o o Gomes da Silva. Registei a hora da sua partida por comunicação com os colegas do Luso e, aguardei pelo contacto da aeronave. Sabíamos qual o tempo de rota para este tipo de aeronave e, não é que já passava do tempo e, a comunicação não saía!… 
Chamei, chamei e, eis que me contactam. Informam-me da sua posição e, comunicam-me a hora prevista de aterragem. Passa o tempo e, só muito mais tarde me pedem autorização para aterrar. 
Conclusão, vim a saber por especialistas que, os dois pilotos vinham numa discussão sobre qualquer assunto e, distraidamente, prosseguiram rota sem terem dado conta da emissão do rádio farol de H. Carvalho. 
E, …não é que já se encontravam na fronteira do Congo !?... 

11 - Trovoada, trovoada que nunca tinha visto com tamanha dimensão!... 
Na Torre, equipamentos quase todos desligados, centrava-me deitado na maca a pedir aos Deuses para não levar com um raio na tola. Tirei imensas fotos com o céu varado de raios… Parecia um festival de foguetes… Um colega, da sala de despacho, receando pela minha vida, chamava-me pela fonia. Eu, ouvia, mas evitava responder-lhe. Mas, tanto chamava que eu carreguei na tecla para emitir-lhe a mensagem. Nesse momento, levei com um coice, que me deitou ao chão. 
Caraças, coincidência dos raios… 
Pior, pior, poderia ter acontecido a um companheiro Opcart chamado Carrão. Era mais velhinho do que eu e, o tempo do Leste estava a estragá-lo no vício das bebedeiras. De serviço, passava as noites, na Nocal. Noite de trovoada, já com os copos, resolveu descer a Torre pela parte que ligava o fio condutor do pára-raios!...
Foi um doido de varrer… 

12 - Trovoada, trovoada, também surgiam para os lados de Gago Coutinho…. Voz fraquinha, lá longe, com atrapalhação, ouvia eu, um piloto chamar…. H. Carvalho… H. Carvalho… daqui, DO…. A tantos graus de latitude/longitude, com proveniência de G. Coutinho e com destino ao Luso. Tenho dificuldades em prosseguir rota. Grande turbulência, trovoada, escuto… 
O.K. mensagem recebida. Vou contactar o Luso e informar Luanda da sua posição. Sempre que possa vá transmitindo a sua posição e estado. 
As mensagens surgiam cortadas, pausadas, sumidas e interrompidas. Interromperam de vez e, fiquei sem saber se o DO tinha caído ou, não… Chamei o Luso para indagar sobre o acontecido. Tinha o nosso grande amigo Pinheiro conseguido sobreviver a uma tempestade medonha. 
Para minha alegria, contactei com ele anos atrás, era piloto militar de carreira e oficial superior. 
Grandes aventuras tive com ele de avião, (T-6 e DO-27). Enfim, era nesta Torre que escrevia as minhas cartas aos meus pais (já falecidos), irmã, amigos e namorada. Nesses momentos saudosos, aplicam-se com justeza os versos da Balada de H. de Carvalho, da autoria do nosso companheiro Rocha Marques (piloto), quando narram o seguinte: 
“Quando a noite veste de sombras o mundo, 
E o silêncio me desperta a solidão, 
Verto lágrimas e o meu sofrer é profundo, 
Põe-me louco de saudade o coração…

Até breve. 






domingo, 10 de maio de 2009

SÉRIA VIVÊNCIA, O BOTÃOZINHO LIGADO PRA BAIXO !

Entre Outubro e Dezembro de 1969, fiz o meu primeiro destacamento no AM43–Cazombo.
Relembro, com saudade, o Alferes Grade, bem como o Tenente Pinto… que o rendeu, no Comando! 
Pela manhã, quem chegasse primeiro ao Posto de Rádio, ligava os instrumentos… pois éramos uma família…! 

Claro que, aqui, esta família reduzia-se ao 'Especial' da Meteorologia, nesse tempo o Leãozama da Meteo, o tal que nos dizia que o tempo estava a 2 de CU, a 2.500’, o da Electricidade, o de Rádio (Mecânicos) e, nós próprios, os OPC’s (nesse tempo, meu querido amigo, José Manuel Pereira Franco). 
Um dia, porém, de muita chuva e trovoada à vertical… alguém ligou os ditos aparelhos… mas, um certo botãozinho ficou pra cima… quando devia ter ficado pra baixo… Resultado: estávamos sempre a EMITIR e… tudo o que se dizia no Posto de Rádio ía para o AR… 
Tendo questionado Carvalho (AB-4), responsavelmente, se havia algum tráfego prá Minha… foi-me dito pelo nosso querido amigo Félix : - NEGATIVO!… 
Tudo bem… pois que, com aquele tempo… totalmente 8/8 de CU e NB, com chuva forte e trovoada… a coisa estava feia pra se 'aterrar'... 
Mas eis que, de repente… sem saber como, de onde vinha, nem de quem se tratava… ouviram-se uns motores de um avião a baixíssima altitude sobre as nossas cabeças… Kunkaneko… quem vem aí, com este tempo e sem avisar! 
Pensámos todos…? 
Pelo VHF chamei: - aeronave que sobrevoa Cazombo, queira identificar-se… mas… nicles… ninguém me respondeu… Pra nosso espanto… era um PV-2… municiado… 
Mas então… de onde vinha este PV-2 se Carvalho me tinha dito que não tinha nada prá Minha? 
Pois é… nem tudo se sabe… 

Este PV-2 vinha do Luso… não tendo, porém, dado cavaco a Carvalho sobre seu plano de voo… 
Sei é que chegou ao Cazombinho no silêncio… mas FULO… 
Seu Comandante de bordo, um nosso querido Capitão Pilav… do qual não recordo o nome… mal parou na placa, cheia de água, pois chovia a cântaros, entrou pelo Posto de Rádio e gritou: - quem é que manda aqui? 
Respondi-lhe: - sou eu, senhor Capitão! 
Bem, disse-me cobras e lagartos. Que se tinha fartado de me chamar, que ninguém lhe tinha respondido, que vinha a ouvir-nos desde o Luso, que se tinha visto grego e troiano com aquele tempo, que lá em cima não havia passeios pra se encostar, que ia participar de mim… blá, blá, blá, blá. 
Fiquei a olhar pra ele sem saber o que responder... Olhei, então, pró equipamento… como que a perguntar a mim mesmo: como é que ele nos tem vindo a ouvir desde o Luso!? E então vi, o dito botãozinho ligado pra cima… quando devia estar ligado pra baixo… 
Dei disso conhecimento ao senhor Tenente Pinto, explicando-lhe o sucedido, pedindo que intercedesse por nós… 
Coisas que acontecem a quem lida com elas... como sempre, ou, como em tudo... Facilidades que podiam dar maus resultados... 
A coisa ficou assim mesmo, mas… pra susto… valeu.

Abraços do JESUS/OPC – 69/73

quarta-feira, 22 de abril de 2009

A IDA A FÁTIMA

"Se bem me lembro..."


Corria o ano de 1968, e meu Mano tinha regressado de Angola, onde fora Militar (Exército), na Zona dos Dembos... (Úcua, Carmona, Negage, etc...). 
Nesse tempo era eu igualmente Militar, estando a tirar a minha Especialidade na Base Aérea nº 2, sita em OTA, Alenquer. 

Era 11 de Maio e vivia-se a peregrinação a Fátima, Altar o Mundo! Fiquei admirado por ser chamado, através dos altifalantes da Base, à Porta d'Armas... mas, quando a ela cheguei vi minha saudosa Mãe, meu Mano e minha futura cunhada que, a pé e desde Lisboa, se encaminhavam para a Cova de Iria... em pagamento de uma promessa feita por minha Mãe à nossa Dulcíssima Mãe Maria, em benefício de meu Mano. 
Depois dos Abraços, despedimo-nos, vendo-os a descer a recta que liga aquela Base Aérea à Nacional nº 1... regressando eu às minhas lides militares... 
No dia seguinte, 12 de Maio, o Comando da BA-2 anuncia a disponibilização de um autocarro para os alunos que desejassem deslocar-se a Fátima... 
Óptimo... disse, inscrevendo-me, pois faria uma belíssima surpresa aos meus ditos familiares... Assim foi... tendo-os encontrado na antiga Capelinha das Aparições... Mas... os Serviços de Apoio do Santuário... vendo-nos chegar... bem depressa nos convocaram, amavelmente, para os ajudarmos em certas tarefas... Coube-me a mim ficar, entre as 20 horas desse dia 12 de Maio de 1968 até às 08 horas do dia 13 (12 horas consecutivas), junto dessa dita Capelinha, recebendo as dádivas em dinheiro e em ouro dos peregrinos, colocando tudo o que me era entregue num buraco que, decerto, terminaria num saco, que eu não via. Esse saco deve ter ficado cheio algumas vezes... mas tudo isso estava fora do alcance dos simples prestadores de apoio. 
Quantos milhares de contos (nesse tempo ainda era o Escudo a nossa moeda), em dinheiro e em ouro, passaram pelas mãos? Nunca o saberei... tão pouco importa saber, por não estar, isso, aqui em questão... sei, porém, que foram muitos...
Fiquem em PAZ!
Namastê!


Álvaro de Jesus

quinta-feira, 19 de março de 2009

LESTE DE ANGOLA - FÉRIAS EM SALAZAR

“LESTE DE ANGOLA” Memórias de um passado saudoso.
Prosseguindo na nossa rota (eu, e o José Soares), arrancámos para o 2º. dia de férias, em 24 de Novembro de 1972 – 6ª. feira.
“De Luanda, tínhamos como destino a cidade de Salazar agora, N´Dalatando, capital do Cuanza Norte. 
Logo ás primeiras horas da manhã, alugámos um táxi em direcção à saída de Luanda para o Dondo. Ficámos na estrada de Catete, num sítio que nos indicava a única saída para o nosso percurso. 
Pouco tempo depois, conseguimos uma boleia num “Peugeot 404” até ao Dondo, vila industrial e povoação conhecida pelas proximidades da maior barragem de Angola – Cambambe, fixada no rio Cuanza, o mesmo que desagua a poucos quilómetros a Sul de Luanda, Barra do Cuanza. 
Lembro-me que esta vila possuía um clima demasiado quente e húmido e, os cafés com esplanada , à beira estrada, ficavam sempre sobrelotados de camionistas a matar a sede com as célebres canecas de litro de cerveja. Eu próprio, me satisfiz com este refrescante pelas várias vezes que por ali passei. 
No Dondo, partiam duas estradas com direcções opostas. Uma, para Nova Lisboa outra, para Salazar.
De novo, tomámos outra boleia num “Olympia” e, pelo caminho, observámos plantações de algodão, cafeeiros, diversos macacos a cruzarem frequentemente a estrada, o curioso imbondeiro - árvore secular e de tronco afunilado – gigante, que mais parecia um candelabro… Subimos os morros de Salazar pelas curvas e contra curvas, palmilhando verdadeiras minas de precioso mármore. Estes morros são como mantos verdejantes que contornam toda a cidade. Nas suas matas e, à noite, os indígenas de raça quimbundo acendiam fogueiras para afastarem os leões que por ali ainda circundavam. Nos nossos voos de H. de Carvalho para Luanda e, vice-versa, sobrevoávamos estes morros porém, só eu reconhecia o terreno porque, percorri-o de comboio e de automóvel, por diversas vezes. 
Piscina de Salazar
Chegados a Salazar, hospedámo-nos na Pensão “Ultramar” onde pernoitámos, depois de termos contactado com uma correspondente minha, a qual nos ofereceu o seu carro para passeios pelos arredores. Continuámos nesta cidade pelo Sábado e Domingo, percorrendo os vários locais aprazíveis. Tínhamos um “Mazda 1 300” para desfrutarmos e, assim, fomos visitar um lugar paradisíaco chamado “Quilombo”, sítio muito frequentado para pic-nics. Entrámos em convívio com os familiares desta correspondente, fomos bem recebidos e, à noitinha fomos ao cinema. 
Nesta cidade, havia uma Residência intitulada “Turismo”, cujo proprietário era irmão dum Sargento que esteve connosco em H. Carvalho. Explorava também, uma Bomba de gasolina e, era muito conhecido nestas paragens. Tive o prazer de ter repousado nesta Residência porém, saiu-me caro!... 
Entretanto, o Zé estava a ficar aborrecido de permanecer muito tempo no mesmo local pois, quem mais aproveitava era eu. A correspondente era minha e, o namorisco era meu. O tempo para mim passava-se agradavelmente mas, o Soares não estava para esperas. Combinámos a partida para 27 – 2ª. feira e, será a partir desse dia que continuarei a minha narrativa por terras de Quibala, Stª. Comba, Alto Hama e Nova Lisboa.” De referir que a correspondente de Salazar foi a mulher com quem vi a casar. Uma Bracarense de gema… 
O Zé Soares, encontra-se no Rio de Janeiro a passar férias em casa dos tios. Tios esses, que nos recolheram em Luanda, no final da viagem, no Natal de 1972.

Até breve
O amigo Vítor Oliveira – Ocart 

quarta-feira, 4 de março de 2009

QUANDO O "ASA NEGRA" NOS QUIS TRAMAR !



Julgo que foi em 1971, nas comemorações do dia do Movimento Nacional Feminino.
Este movimento promoveu no Ringue de Henrique de Carvalho, um encontro de andebol e outro de futebol de salão, entre o AB4 e o Batalhão. 
Foi acontecimento domingueiro e estiveram presentes as chamadas "forças vivas". Até aqui tudo normal, só que alguém mais "letrado", da equipa de andebol, sugere: - pessoal, hoje vamos fazer algo diferente, vamos entrar em campo e no círculo central vamos fazer a saudação á assistência! (com punho fechado...não sei se "alguém" o sugeriu ?!) 
Assim foi, o jogo foi feito, o resultado não faço ideia qual foi, também nunca foi assim muito importante. O prémio de presença (cachet) foram praí meia dúzia de garrafas de Whisky oferta do MNF, que somadas a outras tantas da equipa de futebol de salão, foram ao fim da tarde destroçadas no Clube, julgo, que com mais algumas oferecidas pelo Simão "o girente" do nosso Clube. 
Escusado será dizer, que deste encontro no clube resultaram muitas "cabras", coisa normal naqueles tempos!!!!!
A semana seguinte na Base decorria normalmente, quando somos informados de que tinha chegado ao comando uma participação do ASA NEGRA contra a equipa de andebol, porque tínhamos feito no referido jogo, a saudação do "poder negro" ... se calhar até fizemos!
Esse grande "democrata", conforme se veio a verificar após o 25 de Abril, e de quem alguns sofreram na pele, incluindo pilotos, para não falar nos "desgraçados" do Batalhão, tinha acordado e pensado: ai os espertinhos da Base ! Vou tramá-los !
A coisa começa a ficar feia! Num primeiro inquérito realizado pelo nosso Comando, lógicamente ninguém se descose, ninguém sabe de nada, apesar de se começar a constar de que iríamos ser inquiridos pela DGS. Entretanto, e felizmente, outras "forças" vieram em nossa ajuda e o assunto acabou por ser arquivado.
Do resumo da contenda, sobraram para além das referidas "cabras", o susto, a solidariedade e a saborosa "vitória" ante o famoso, pelos piores motivos,  Asa Negra.
A.Neves, A.Braga e Simão "pastando as cabras" .


A. Neves

domingo, 1 de março de 2009

SIMÃO CABRAL EM HENRIQUE DE CARVALHO

Caros Camaradas de Armas! 
Este simpático (!!!!!) rapaz, para aqueles que já não se lembram, é o Simão Cabral. 
Eu mesmo!! 
Alguns de vós, já viram estas fotos, mas muitos ainda não! 
Não envio mais, pois muitos dos emails, não têm memória para as receber! 
Mas por estas duas, já podem ver como está o antigo AB4. 
Não chorem!! 

Um abração 
J. Simão Cabral
HC 24/9/2007

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

EDITORIAL DE RUI NEVES


Nota do Editor. 

Companheiros do AB4 -Henrique de Carvalho.
Através do Mural de Recados e de um ou dois Email's recebidos, verifico por parte de alguns Companheiros o descontentamento com o tamanho do Blog. 
Pois é, isto de um Blog é como os jornais que nós compramos… todos os dias ou semanalmente sai um e, ou compramos para o ler ou não! Aqui não se compra nem se vende mas, como um jornal, só o lê quem quer. Certamente, que cada um de vós se lêem jornais procuram aquele que mais vos agrada e como em tudo na vida só nos agrada algumas coisas. 
Gostaria muito de agradar a todos mas, não será possível. 
A ideia de criar um Site como alguns têm dado ideia, será uma possibilidade caso reúnam-se condições para tal. A criação de um Site obedece a vários factores incluindo os recursos humanos que têm de ser em maior número para se obter resultados idênticos ao de um blog. O resultado até agora do nosso Blog tem sido esplêndido, pois uma audiência de 25 visitas em média diariamente é um resultado que ultrapassou todas as expectativas de um Blogger. 
No entanto, prometo não descurar a ideia do Site e empenhar todos os esforços para melhora a forma de comunicação e entretenimento, afim de poder-mos estar num contacto ao gosto de quem gosta da Internet. Recebam um abraço e espero continuar a agradar a quem agrado. 
Rui Neves Editor do Blog

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

DESPORTO NO AB4

Caros companheiros. 
Hoje dou início a mais uma secção deste Blog. 
De certeza serão muitos os comentários, relatos e lembranças das actividades desportivas que todos vós nos podeis contar. Do Futebol, Andebol, Basquete e Natação, serão muitas as recordações de todos pois era um dos escapes e passatempo, não desprezando os benefícios físicos, que tínhamos para esquecer a distância de casa e a causa de lá estar-mos. 
Assim, para vos distrair um pouco aqui vão algumas fotografias enviadas pelo companheiro Carlos Joaquim (Quim) que não são as únicas que recebemos, mas para que o artigo não fique muito extenso!!! 
As restantes fotos estarão arquivadas no “Álbum de Recordações” no dossier de Desporto no AB4. 
Espero merecer de todos que tenham histórias e que tenham feito parte das equipes do nosso tempo que nos enviem quanto antes os textos e fotos para serem publicadas. 

Rui Neves Editor do Blog






segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

LESTE DE ANGOLA - A MINHA PRIMEIRA AVENTURA EM TERRAS ANGOLANAS

“LESTE DE ANGOLA” Memórias de um passado saudoso. 
Caros companheiros, estou convosco mais uma vez e, desta, com a minha grande aventura por terras de Angola. 

Situamos esta viagem nas minhas primeiras férias de H. de Carvalho, tiradas entre 23 de Novembro a 24 de Dezembro de 1972. Vou retirar esta minha narrativa ao conteúdo do meu roteiro – que ainda conservo na minha posse, após trinta e sete anos. 
Tinha eu vinte e três anos e delineei traçar no mapa os principais locais por onde deveria passar e conhecer. Recorri à revista “Notícia” e solicitei que publicassem o meu nome e endereço a fim de requisitar correspondentes por toda esta Nação e, com o intuito de me sentir “apoiado socialmente”. 
Surgem cartas diversas e, eu, seleccionei as correspondentes que se situavam nas cidades que desejaria percorrer. Samy Silva (Salazar), Nady Areias (Benguela), Lurdes Louro (Gabela), Lídia Marques (Porto Alexandre) e, muitas mais… Faço referência a este pormenor porque, daqui nasceu o meu casamento com uma destas amizades e, que ainda perdura nos tempos actuais. 
Nos meus planos de viagem estavam as cidades de Malanje, Duque de Bragança, Salazar, Luanda, Quibala, N. Lisboa, Sá da Bandeira, Moçamedes, Porto Alexandre, Benguela, Lobito, Novo Redondo e mais… Outros pontos de passagem e de interesse tais como: Salto do Cavalo e Pedras Negras em Pongo Andongo; Pedras Gingas, Campa do Zé do Telhado, grutas do Cacolo, Quedas do Duque de Bragança, Mussulo, Observatório da Mulemba, Barragem de Cambambe, Túmulo dos indígenas em Quibala, Ilha dos Amores em N. Lisboa, Serra da Leba e Chela e penhascos da Tundavala e Bimbe em Sá da Bandeira, porto de minério em Moçamedes, Plantas “Mirabilis” e miragens no deserto do Kalahari, Caota, Baía Azul em Benguela, Grutas e Cascata Binga de Novo Redondo, Restinga dos Flamingos no Lobito, etc, etc…

Iria sozinho nesta viagem? Planeei-a nesse sentido e, por experiência doutras vezes atrás. Livre na totalidade e, na aventura pois, assim o fizera anteriormente por terras metropolitanas e açoreanas. Porém, um nosso colega especialista propôs-me a sua companhia. 
Comprometendo-se a seguir a minha rota, aceitei incluir o estimado companheiro – José Bastos Rodrigues Soares, alcunhado de “Bacalhau” EABT. 
Vou só transcrever parte da minha narrativa, mantendo-me fiel ao texto da época, do 1º. Dia de viagem. Começa assim: “H. Carvalho – Luanda – dia 23 de Novembro de 1972 – 5ª. Feira, 1º. Dia de férias. Eu e o José Soares, conseguimos uma boleia no avião da DTA, Friendship Fokker-27, após termos feito os pedidos ao 2º. Comandante Sampaio, ao capitão Bentes e, ao Comandante da DTA, sr. Pestana. 
Foi no dia da despedida, (no AB4), do sr. Governador da Lunda, Coronel Soares Carneiro. 
Abalámos com a intenção de aterrarmos em Malanje e prosseguirmos a viagem, via terrestre, para Luanda porém, devido ao nevoeiro cerrado nas imediações de Malanje, alterou-se a rota com aterragem em Luanda. Chegados à capital, fizemos a apresentação e hospedagem numa pensão. Saiu um passeio nocturno pela cidade e … "chi-chi-cama”. 
Companheiros e amigos de longa data, nos próximos episódios serão descritas as viagens e aventuras pelos longos 5.255 Km de estrada. 

Um até breve Vítor Oliveira - Ocart


sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

AINDA E SEMPRE ANGOLA

Ainda e sempre Angola, num presente feito de passado …

O título desta crónica, bem poderia dar lugar a um relato que representasse um passado não tão distante assim, feito de alguns idealismos, contrastando com um presente que convida por vezes ao esquecimento, mesmo que feito de memórias. 
As décadas de 60 e 70 foram o filão da Força Aérea no que toca à “fabricação” de Especialistas. 
Ser voluntário era moda e a Força Aérea era o escape, a fuga esperada do quotidiano, o gosto pelo desconhecido e o estatuto que se poderia adquirir. Havia ainda alguma escolha, com opções diversas entre especialidades. Só mesmo quase no final da recruta se definiam as posições futuras. 
Na Ota, onde quase todos nós chegámos um dia cheio de esperança, para se fazer um pouco de história e traçar o futuro. 
O destino, esse ficava por conta do acaso ou talvez não. Não sei se escolhi ser o que fui mas tive muito orgulho sendo quem fui e como fui. 
Inacreditavelmente quis o tal destino que após a recruta, me visse com uma viagem marcada, após os tais 15 dias de Férias, para os Açores. 
Lembrei-me da BA 4, mas depressa percebi que afinal o meu destino seria o HM BA4 [Hospital Militar da Base Aérea N.º 4]. Este era considerado um Hospital dos chamados de retaguarda, que na altura recebia os feridos do Ultramar. Conheci por lá dois dos mais famosos combatentes [feridos em combate], do Ultramar; o Marcolino e o Setenta. 
As enfermeiras que na altura faziam a diferença também por lá andavam. Recordo-me da Cristina, da Céu, da Antonieta e da Fernanda. Se teria sido um sonho, estar ali, não sei, só os 6 anos de Força Aérea que eu esperava vencer, me dariam o veredicto. 
Foi agradável passar 1 ano na florida Terra Chã, conhecer ao pormenor Angra do Heroísmo, desfrutar de boas paisagens e muito divertimento. Ver as Largadas à Corda, conhecer a pesca da Baleia e ir até à praia da Silveira num passeio a pé, por canadas íngremes era um regalo. As compras nas Lajes, o whisky, os pirex´s, o tabaco americano, os Ray Ban os zipp´s e as parker´s, quem não se lembra disso?! Claro que o curso de Enfermagem um dos mais conseguidos na altura em todos os ramos das Forças Armadas, seguia calmamente como eu esperava. 
Mas … e como há sempre um mas, de repente vejo-me de malas aviadas a caminho do Continente e lá estou eu a fazer a apresentação em Monte Real. Ali tive o prazer de conviver com alguns companheiros já regressados do Ultramar, que contavam as suas histórias. Lembro-me do Campos, um grande amigo. Eram os nossos serões na BA 5. 
Não consegui desfrutar de todos os prazeres que a periferia da Base nos proporcionava já que num ápice, me vejo mobilizado para a 2ª. RA ou seja, Angola. 
Mais 15 dias de Férias e voilá …lá vou eu a caminho de Luanda. Estadia curta nesta cidade, obviamente na BA 9, mas a suficiente para conhecer a Mutamba, o Mussulo e a Marginal. 
Falava-se muita na altura do BO e do Marçal também. Ah e a célebre Portugália, sempre frequentada pelos cambistas de ocasião onde se trocavam os nossos escudos por outros que não os nossos. 
De repente lá estou eu a caminho de Henrique de Carvalho. Lembro-me daquela chegada, a malta à espera na placa, procurando substituto. Era um frenesim quando chegavam os maçaricos, como eu o era naquela altura. 
Fui substituir o Rolo e logo ali encontrei o meu “pai”, o Bilinhos. Para aqueles que se desmemorizaram já, essa relação era atribuída pelo nosso número de matrícula. Na altura eu era o n.º 222/70 e o Bilinhos o n.º 222/69. Fiquem bem entregue sem dúvida. 
O que se seguia à chegada já todos nós conhecemos. O arrumar dos sacos a visita de reconhecimento ao Aeródromo, o almoço, no meu caso, no Clube, onde por aquele instrumento das Caldas com boa cerveja era tragado, no cimo de uma cadeira, ao som desconcertante dos presentes, com arremesso das tais bolinhas de miolo de pão. 
À noite lá vinha a praxe do costume e estavam assim feitas as apresentações formais a todos os presentes, passando a ser mais um elemento da espécie. 
Pois mas nem tudo era assim tão divertido como possa parecer. Aqui havia algumas barreiras, impostas pelos que se assumiam como os líderes da “tribo”. Haviam alguns excessos que só o tempo apagava ou fazia esmorecer. 
No AB 4 cada época definia uma classe e se dissesse que entre a década de 60 e a década de 70 houve uma abissal diferença de pessoas e atitudes, não mentiria. Essas diferenças acabaram por ser transladas para os tempos de hoje mas com outras cambiantes. 
De facto foi um percurso sinuoso mas nem por isso infrutífero para quem se decidiu a traçar uma linha e a segui-la na íntegra. 
Angola fazia a diferença. 
Os costumes, as oportunidades, os dias o convívio eram a tónica. E … por aqui me fico sendo que, se for caso disso, esta minha narrativa terá a sua continuidade!

Virgílio Oliveira 1.º Cabo ENF

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

LEMBRO-ME - A MINHA CHEGADA AO AB4

Lembro-me de quando cheguei a Henrique de Carvalho nos primeiros dias de Janeiro de 1971, numa sexta-feira, e logo que foram abertas as portas do avião que me transportou de Luanda, senti um estranho cheiro mas não desagradável. 
Ao sair, olhei em redor, apreciei o hangar, os poucos aviões no terminal, a pista, a torre de controlo, e os companheiros ansiosos por saber quem é que íamos substituir. 
Um de farda creme perguntou-me: Ó maçarico qual a tua especialidade e quem vens substituir? 
Era o Agante, ao qual eu lhe disse que era de abastecimento e que vinha substituir o Rego. 
E disse-me: Se ele cá estivesse estavas lixado mas, não te safas porque eu fiquei encarregado de dar conta de ti. E assim foi; entregou-me o RAMFA e disse-me: Logo á noite tem de ter essa porra na tola e dá cá a tua mala que eu vou-te levar á "barraca". 
E assim lá fui agarrado ao pesado Ramfa e ele com a minha mala até á camarata. Lá deixei num armário os meus pertences e fomos fazer a apresentação no Comando onde o Agante me fez preencher um toque de ordem para no fim-de-semana fazer-mos o reconhecimento á cidade, e de seguida fomos para o Clube porque era hora de almoço. “De notar que não larguei mais o Ramfa. 
Quando entramos no clube e antes de almoçar, pediu atenção a todos e apresentou-me: “Aqui está o maçarico substituto do Rego e porque ele chegou já depois dele se ter ido embora para o puto, tem de ser bem regado.” 
Fiquei a ver onde as modas paravam, mas disse-me para sentar e almoçar.
Depois do almoço pediu novamente atenção e disse-me:” Ou mamas uma litrada no das Caldas ou vais ao lago”. Pensei que fosse vinho ou cerveja e prontifiquei-me a beber o tal néctar que por sinal era cerveja e eu estava com calor. Mamei até ao fim a rodar em cima da mesa acompanhado pela célebre canção do ”
Teri”. 

Depois foi a apresentação na Esquadra de Abastecimento ao Sr Capitão Maia, que logo no primeiro encontro simpatizei e fiquei satisfeito de ter um Comandante de Esquadra como aquele que estava á minha frente. Seguiu-se a apresentação do Sargento Carvalho e do restante pessoal incluindo um senhor do armazém que o Agante por malandrice me apresentou o Sr. Capitão; de imediato bati-lhe uma grande palada o que todos se desmancharam a rir… Só depois me apercebi que era de nome Mário Capitão e que era o encarregado do armazém. 
Ao jantar, perguntaram-me se tinha trazido algo de comer assim como enchidos ou outras coisas. Como não levei nada, tive de comprar uma grade de cervejas para a praxe. Regressados á camarata, eu e os companheiros que chegaram comigo reunimos as cervejas e os petiscos para iniciar a praxe. 
Acusados em tribunal pelo desplante de sermos invasores do território dos cacimbados, teríamos de repartir os bens alimentares com todo o tribunal. E assim foi… uma grande patuscada passando assim a fazer parte da família indígena do AB4. 
No dia seguinte, sábado, depois do almoço lá fomos para a apresentação da cidade. O Agante foi no autocarro enquanto eu e tantos companheiros fomos na camioneta de banco corridos; uma Mercedes. 
Pela picada fora pois de estrada pouco tinha, ao ver aquela terra vermelha cor de fogo percebi que o cheiro estranho que senti no dia anterior era uma mistura de odores do capim e daquele barro que me iria fazer companhia por dois longos anos e mais alguns meses.
A apresentação da cidade foi muito simples pois como podem ver na foto fomos logo agarrados pelas predilectas loiras normalíssimas. 

Porque este texto já vai longo, fico-me só pelos dois primeiros dias. 
Espero assim que os meus companheiros nos enviem também as vossas histórias para recordar-mos momentos de amizade que ao longo de 35 anos passados não nos esquecemos do companheirismo que havia naquela unidade. 

Um abraço a todos
Rui Neves
Editor do Blog

domingo, 25 de janeiro de 2009

LESTE DE ANGOLA - CONJUNTOS DO AB4

“LESTE DE ANGOLA” Memórias de um passado saudoso. Situamos esta recordação nos finais de 1971 e princípios de 1972 na cidade de H. de Carvalho, actual Saurimo.


Volto a referir os Açores, B.A.4, Base donde me desloquei para Angola, após treze meses de tirocínio pois, é a aqui que assenta a raiz da minha narrativa. Com conhecimento de um artista em artesanato, solicitei-lhe a construção de uma viola com incrustações em osso de baleia e, com outros ornamentos característicos da ilha Terceira.

Viola com total elaboração manual, de som maravilhoso, e que passados trinta e nove anos, ainda a mantenho na sala de estar – afinada mas, silenciosa… Parti para Angola convicto de que iria aprender, praticar uns acordes e, passar os longos meses (36) com mais uma ocupação… Na camarata e, nas horas livres, dedicava tempo infinito no martelar das cordas porém, o avanço no saber era lento!... Um dia, certo especialista ao tomar conhecimento deste “Donovan”, resolveu convidar-me para o conjunto musical do A.B.4. Faltava um guitarrista e, não havendo mais ninguém naquela ocasião, fui eu o escolhido e convidado. Humildemente referi que era um aprendiz de pouca valia, mas a solicitação foi tamanha que resolvi aceitar -- tendo como Mestre o nosso “Bilinho” – José Abílio Gonçalves Almeida.

Formámos o conjunto, cuja equipa constava do Abílio, Bicker, Álvaro Jesus, eu e, o que me convidou (o do lacinho, penteadinho e com bigodinho). Não recordo o nome desse companheiro musical nem, do conjunto. Fomos uma sombra dos “Vampiros do A.B.4 – Velhinhos de 64”, dos célebres Tomanel Raposo, Jaime Lemos, Carlos Catarro e Mário Mendes. Reuníamos para ensaio numa salinha das comunicações, edifício situado perto da Torre de Controle e, posteriormente, fomos para as instalações onde se guardavam as descargas dos aviões, junto aos estacionamentos dos “Fockers” da DTA/TAAG e do Nord Atlas. Mesmo assim, ainda fizemos diversas actuações na Base e, na cidade. As fotos mostram a actuação no festival “Cacimbo” e, recordo que o nosso conjunto teve o privilégio de abrilhantar o casamento do saudoso Rui Dinis, na esplanada do Hotel “Pereira & Rodrigues”. Consta que havia uns desacordes, provavelmente meus, -- mas, perdoaram-me!... Há peripécias de menor importância contudo, passados tantos anos, dá vontade de reavê-las.
Os elementos do conjunto e, alguém mais, encontravam-se noutro edifício, perto da enfermaria, a “patuscar” e a beber umas “cucas” e “nocais – da loira tropical” quando, de repente, passou na dianteira do “Bilinho” uma das gigantes libelinhas angolanas. Ainda sóbrio, atira a manápula e saca a libelinha, colocando-a numa sandes que, momentos antes, iniciara comer. Trinca a sandes com o novo recheio, olha para nós com expectativa, mastiga lentamente, torna-se pálido, incentivamo-lo prometendo-lhe recompensa “cervejal “ porém, o “home” desistiu… Tinha-se ficado pela primeira trinca… Enfim, bom na música mas, fraco no apetite!
Vão longe estas memórias, mas saudáveis de recordar… Estes são temas para mais alguém prolongar porque, escrever dá saúde à mente. Deixo-vos algumas fotos inseridas na narrativa outras, no álbum de H. Carvalho 

Até breve. Vítor Oliveira – Ocart
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