sexta-feira, 19 de outubro de 2012

EU ESTAVA LÁ

A espaços e com prazer, apesar da constante presença, em mim, de alguns sentimentos contraditórios sobre o assunto, visito o Blog dos Especialistas do AB4. Faço parte da família, dispersa, de homogeneidade impossível, mas com muitos temas em comum, sempre possíveis de aproveitamento, e que só nos podem envaidecer e orgulhar por enquanto jovens que nas suas especialidades ou classes mostravam a “classe” que era atribuída e reconhecida à “classe de especialistas”. 
Apesar de nunca ter participado em “encontros”, sou homem de convívios, “apanhado por aviões” e um grande depósito de saudades dos tempos, coisas e pessoas que percorri e com quem contactei. 
Dentro das visitas periódicas ao Blog, há alguns dias li o texto “A SABOTAGEM”, incluído nas Histórias da Guerra, da autoria de um OPC ali não identificado, que recordando factos se referia a um voo falhado, entre Luso e Henrique de Carvalho, com o então nosso Comandante Wilton Pereira, aos comandos de um DO 27. Esta referência chamou-me à flor da pele a recordação desse voo e da “vista” do interior do tal avião, pois:
DO 27 no Luso

EU ERA O ÚNICO PASSAGEIRO.
E antes de contar o sucedido, permitam-me enquadrar o porquê de este Beirão, que se assume militarmente “fraco”, mas profissionalmente honesto e mesmo competente. Era eu, naquela data, um dos Enfermeiros colocados no AB4-Henrique de Carvalho e com destacamento no Camaxilo (AM42). Estive no AB4 entre Outubro de 1970 e Outubro de 1972, tendo feito a viagem de Lisboa para Luanda em Boeing 707, mas à data fretado à TAP. Já o regresso a Lisboa aconteceu no mesmo tipo de avião, agora já da Força Aérea. 
Mesmo tendo permanecido no Camaxilo demasiado tempo, ainda existiram oportunidades para, em Henrique de Carvalho, trabalhar, alinhar nos petiscos no clube, pedir uns finos ao barista Espírito Santo (já falecido), jogar king, cumprir prisão, vaguear pela cidade, apreciar os camaleões nas árvores junto à Enfermaria e fazer várias saídas para o Luso e de aqui até a N`Riquinha.
No Camaxilo em 1971 com Gonçalves, Smith, Abrantes e Fonseca

Mas por hoje, limitarei este contacto, de mim para o Blog, à envolvente e núcleo ou razão do felizmente relatado no Blog, onde, passivamente, participei.
Pois, então
:

Num certo dia, nas instalações do AM Luso (AM 44), quando eu já por ali andava há dois ou três
Cmt.Wilton
   Pereira
dias, o nosso Cmt. Wilton Pereira, cruzou-se comigo, junto ao bar, e, como sempre de forma muito amigável e respeitosa, perguntou se eu quereria, caso o serviço estivesse resolvido, regressar a Henrique de Carvalho. Em caso afirmativo, poderia aproveitar boleia dele no voo seguinte. E assim foi. Cheguei à hora indicada e, após o cumprimento dos poucos procedimentos aplicáveis, lá nos dirigimos ao DO 27. E embarcámos: O piloto, nosso Cmt. Wilton Pereira, o mecânico, 1ºCB MMA Cordeiro e o único passageiro, que era eu 1ºCB ENF, Carlos Luis Rolo. Como se tratava de serviço e não brincadeiras, desde a descolagem que o avião não reduziu o ângulo de subida, até que, talvez aos três minutos de voo, o piloto chamou a atenção do mecânico para o facto de o termómetro indicar a temperatura de 160 graus para o motor. O mecânico, Cordeiro, encolheu os ombros e, talvez por pensar que se tratava de uma dificuldade temporária, aconselha continuar. Cerca de um minuto mais tarde, nova chamada de atenção, porque o tal termómetro já marcava 180 graus. Continuámos a ganhar altitude e a voar na direcção de Henrique de Carvalho.
Quase de seguida, com o motor a aparentar funcionamento normal e o termómetro a ultrapassar os 200 graus, o Comandante sugeriu um retorno à pista de Luso. 
O mecânico esteve de acordo, apesar de ainda não entender a causa para esta anomalia. Enquanto isto acontecia, já a temperatura ultrapassava os 240 graus e o motor estourava. Não parou, mas o funcionamento era extremamente irregular, pelo que o Cmt “deu meia volta” para regressar à pista. Tudo isto aconteceu “à minha frente”, pois situava-me atrás dos tripulantes, mas entre os seus ombros. 

Desta mudança, mesmo inversão de rumo, que incluía o regresso ao local de partida, de imediato foi informado o AM Luso, apesar de no momento do falhanço existir a possibilidade de usar a estrada como pista. 
Tal não foi necessário, pois não aconteceram razões climatéricas desfavoráveis e o motor, apesar dos repetidos soluços, de vez em quando, ainda funcionava alguns segundos, pelo que fomos descendo “aos degraus”.                    

Luso

Quando aterrámos já o Cmt do AM Luso (Major) nos esperava junto à pista. 
Já em terra, recordo-me bem do evoluir dos acontecimentos, incluindo conversas sobre a avaria e o retirar de uma vela no motor (não sei se vela ou injector pois desconheço o percurso do combustível no motor). Quando retiraram a referida peça, via-se perfeitamente óleo e limalha, que escorria. O interior do motor estava destruído. E ainda me recordo de ter ouvido a afirmação (certamente verdadeira) de que o motor era novo. Apenas tinha voado de Henrique de Carvalho para o Luso. Com bom tempo, tudo calmo e a situação, do momento, muito bem resolvida, regressámos às instalações e eu fiquei a esperar outra boleia.
Clube com Cordeiro, Raimundo e Garcia

Notas finais:
1 – Quando me refiro a petiscadas no clube, estou a afirmar a minha participação nos notórios dois grupos ali existentes. Talvez por eu ser originário de uma zona mais equidistante do País (S. Pedro do Sul), ou pelo facto de ser enfermeiro e isso, para mim, eliminar distâncias entre todas as pessoas, o certo é que tanto o grupo da “Grande Lisboa”, como do “Grande Porto” me convidavam, e eu aceitava, para participar naqueles saudosos bocadinhos de desentupimento mental. Os petiscos sabiam tão bem que numa das ocasiões, em que me pesei à saída da enfermaria e no regresso, a balança marcou uma diferença de 4Kgs;                            2 – As minhas várias presenças em Luso, e deslocações a N`Riquinha, tiveram sempre como justificação a necessidade de actualizar a vacinação do pessoal;
3 – Sem  ser  maçador, apenas  deixo  afirmado  que  em duas  outras  ocasiões gostei menos de estar lá em cima: Numa  viagem de N`Riquinha para o Luso, ao fim da tarde, com um dos  motores  do PV2 a falhar repetidamente e necessitar de reforço  de  óleo  em pistas intermédias, e, outra, na parte final de uma evacuação  desde o Camaxilo, mas  por o  dia  se  estar  a acabar e uma trovoada “a sério” quase nos impedir de chegar à pista, em Henrique de Carvalho, e,                                    
4 – Pelo  facto  de a Força Aérea dar apoio ao exército no transporte de correio, carne  e  peixe, tive  a  oportunidade  de ter passado (aterrado e descolado) em muitas  localidades  onde  não  seria  previsível, tanto em aviões militares como nos civis que, fretados pelo exército, me davam boleia.  

Agosto de 2012

domingo, 14 de outubro de 2012

XXXVII ENCONTRO ESPECIALISTAS DO AB 4


Companheiros é com uma grande responsabilidade mas ao mesmo tempo com satisfação, que vos venho convidar para este grande encontro de Outono, a realizar em Alcanede (Distrito de Santarém) no dia 10 de Novembro de 2012, na Associação Recreativa e Cultural de Alcanede (rua da A.R.C.A).
Sem querer tomar-vos mais tempo, segue-se o dito programa e ementa:

Concentração a partir das 10h.
Ás 11:00h, aperitivos: água-pé, vinho tinto e branco, cerveja, favaios, sumos, águas, morcelas de arroz, chouriço de carne, farinheiras, queijo fresco de vaca e ovelha, pastéis de bacalhau, rissóis, pão de trigo e de milho.
Ás 12:45h, homenagem aos que já partiram e aos presentes, realizada pelo reverendo da freguesia de Alcanede, Padre Tiago.
Às 13:00h, almoço, composto por: sopa de bacalhau camponesa, peixe frito do rio com magusto, porco assado no espeto com arroz e vegetais, sobremesa é composta por fruta da época.
Depois do almoço, é a celebração do aniversário deste encontro com a abertura do respectivo bolo e espumante, cada mesa com o seu respectivo bolo. Haverá música ao vivo.
Ás 16:45h, a praxe com o “Zé Especialista”.
Ás 17:15h, o café d'avó com coscorões e continuação com música ao vivo.
Ás 9:00h "Brunch" onde será distribuída a habitual lembrança.

Informações importantes:
O preço estimado por pessoa para o evento são de 30€ (trinta euros), a confirmação da presença será feita única e exclusivamente através de e-mail, para o endereço pdvrosado@gmail.com ,ou através de tel. (+351 919747990), salvaguardando, que qualquer dúvida ou questão podem ser colocados para estes mesmos contactos.
Relativamente ao local, está presente aqui no mapa, como chegar a Alcanede saído da A1 em Santarém, ou da A15 em Rio Maior.

Saudações, 
a organização: Fermelindo Rosado e Santos Silva.

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

EVACUAÇÃO PARA O HOSPITAL DO LUSO

Destacamento de Gago Coutinho

Vila Gago Coutinho, 14 de Outubro de 1969, ao fim da tarde, acontece um acidente no batalhão do exército, onde o nosso destacamento se encontra adido, três soldados do exército ficam debaixo de uma Berliet, que se encontrava em reparação sobre macacos.
Imediatamente se prepara o DO 27 nº. 3419 para a evacuação para o hospital do Luso.
Colocam-se os feridos nas macas e estas no avião, e apesar dos avisos do nosso OPC (salvo erro Jorge “Alá”), de que o rádio farol do Luso se encontrava desligado e não consegue comunicar com o Luso para o ligarem, lá seguimos, eu e o furriel piloto Fidalgo (na foto).
Quando nos encontramos no ar o sol já se encontrava no ocaso, e rapidamente se fez noite.
Após escurecer verificamos que a lâmpada de ultravioletas se encontra fundida e como tal não é possível ver os instrumentos, senão acendendo a luz da cabina, o Fidalgo vociferava por causa da falta de condições de navegabilidade, e a única forma era apagar a luz da cabina volta e meia e tentar descobrir as luzes da cidade do Luso, então com a falta do rádio farol, só com a bússola magnética, e sem sabermos onde nos encontrávamos, a única hipótese era voar em ziguezague, cinco minutos 45º. para a direita, cinco minutos 45º. para a esquerda, até conseguirmos encontrar o objectivo, ou “esperar” que terminasse o combustível.
Quando já víamos luzes da cidade por todos os lados fomos bafejados pela sorte e após duas horas de voo lá sobrevoamos uma povoação com as ruas iluminadas, que depois verificamos que era a cidade do Luso, só que a pista é que não a encontramos logo à primeira, senão quando vimos uma mancha comprida mais clara no meio da escuridão dos subúrbios da cidade.
Tinha de ser ali só que não havia indicações para regular o altímetro, e a única luz era a do farol do avião, e lá vamos nós para a “final” reduzir motor, flaps em baixo, e esperar que consigamos acertar com a pista, quando a sobrevoávamos, o chão tanto podia estar a um metro como a cinco, e o Fidalgo recolhe flaps, e o avião dá uma cacetada no chão que por sorte não se partiu, o que vem demonstrar a boa qualidade da maquina.

Após alguns minutos de espera começaram a chegar carros, que providenciaram o transporte dos feridos para o hospital, e nós lá fomos jantar à pensão habitual e depois fomos a uma sessão de cinema (não me recordo qual era o filme) coisa que já não víamos há bastante tempo.
No dia seguinte de regresso para Gago Coutinho, apanhamos uma daquelas tempestades de Verão, que vistas do ar é um espectáculo magnifico e aterrador, por vermos à nossa volta faíscas a saltarem de umas nuvens para outras e o avião como que por milagre a passar pelo meio delas sem ser atingido por nenhuma delas.

Nota: esta estória poderá conter algumas imprecisões por ter sido escrita 34 anos depois.
Lisboa, 01 de Junho de 2006

Orlando Coelho






sábado, 6 de outubro de 2012

AS PRIMEIRAS MISSÕES NO MOXICO

Olá amigos e companheiros.
Aqui vai um pequeno filme sobre locais que nós conhecemos bem independentemente de neste filme já se verificarem melhorias em relação ao tempo em que muitos de nós conhecemos. (1965-1967).

Também sei, que fomos dos primeiros a cruzar os céus nestas paragens.
No tempo em que estive no Cazombo, só íamos ao Lumbala buscar feridos para transportar para o Luso e então lá, ficávamos no Hotel, um luxo em relação ao que estávamos habituados. Não havia outros destacamentos no leste a não ser Cazombo e Camaxilo.


Para qualquer lugar que voássemos, Nova Chaves, Teixeira de Sousa, Portugália, Gago Coutinho e outras pistas já existentes no leste, era ir e vir ou no máximo uma noite num quartel, excepto no Luso que era no Hotel Luena.
Também posso dizer, que no Leste a primeira vez que fizeram fogo a um avião foi a uma DO-27 que transportava 3 feridos do Lumbala para o Luso e que o piloto era o António Bastos Estima e eu o MMA e foi no dia 18 de Agosto de 1966 pelas 17 horas. 
Quatro dias depois ou seja, dia 22 de Agosto 1966, voltou a repetir-se a mesma cena mais ao menos à mesma hora, independentemente de nós já com receio tivéssemos cruzado o rio muito antes do local onde fomos alvejados da primeira vez.
Felizmente não sofremos nada.
Enfim um pouco de recordação.

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