Destacamento de Gago Coutinho
Vila Gago Coutinho, 14 de Outubro de 1969, ao fim da tarde, acontece um acidente no batalhão do exército, onde o nosso destacamento se encontra adido, três soldados do exército ficam debaixo de uma Berliet, que se encontrava em reparação sobre macacos. Imediatamente se prepara o DO 27 nº. 3419 para a evacuação para o hospital do Luso.
Colocam-se os feridos nas macas e estas no avião, e apesar dos avisos do nosso OPC (salvo erro Jorge “Alá”), de que o rádio farol do Luso se encontrava desligado e não consegue comunicar com o Luso para o ligarem, lá seguimos, eu e o furriel piloto Fidalgo (na foto). Quando nos encontramos no ar o sol já se encontrava no ocaso, e rapidamente se fez noite.
Após escurecer verificamos que a lâmpada de ultravioletas se encontra fundida e como tal não é possível ver os instrumentos, senão acendendo a luz da cabina, o Fidalgo vociferava por causa da falta de condições de navegabilidade, e a única forma era apagar a luz da cabina volta e meia e tentar descobrir as luzes da cidade do Luso, então com a falta do rádio farol, só com a bússola magnética, e sem sabermos onde nos encontrávamos, a única hipótese era voar em ziguezague, cinco minutos 45º. para a direita, cinco minutos 45º. para a esquerda, até conseguirmos encontrar o objectivo, ou “esperar” que terminasse o combustível.
Quando já víamos luzes da cidade por todos os lados fomos bafejados pela sorte e após duas horas de voo lá sobrevoamos uma povoação com as ruas iluminadas, que depois verificamos que era a cidade do Luso, só que a pista é que não a encontramos logo à primeira, senão quando vimos uma mancha comprida mais clara no meio da escuridão dos subúrbios da cidade.
Tinha de ser ali só que não havia indicações para regular o altímetro, e a única luz era a do farol do avião, e lá vamos nós para a “final” reduzir motor, flaps em baixo, e esperar que consigamos acertar com a pista, quando a sobrevoávamos, o chão tanto podia estar a um metro como a cinco, e o Fidalgo recolhe flaps, e o avião dá uma cacetada no chão que por sorte não se partiu, o que vem demonstrar a boa qualidade da maquina.
Após alguns minutos de espera começaram a chegar carros, que providenciaram o transporte dos feridos para o hospital, e nós lá fomos jantar à pensão habitual e depois fomos a uma sessão de cinema (não me recordo qual era o filme) coisa que já não víamos há bastante tempo. No dia seguinte de regresso para Gago Coutinho, apanhamos uma daquelas tempestades de Verão, que vistas do ar é um espectáculo magnifico e aterrador, por vermos à nossa volta faíscas a saltarem de umas nuvens para outras e o avião como que por milagre a passar pelo meio delas sem ser atingido por nenhuma delas.
Nota: esta estória poderá conter algumas imprecisões por ter sido escrita 34 anos depois. Lisboa, 01 de Junho de 2006
Orlando Coelho
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