quinta-feira, 26 de julho de 2012

ABASTECIMENTO DE LAGOSTA

Nord em Gago Coutinho
Vila Gago Coutinho, todas as semanas chegava pelo Nord Atlas, com destino à companhia dos “paras” aquartelada em Ninda, um carregamento de lagosta, carregamento esse que transbordava para o DO 27, a fim de seguir para Ninda, juntamente com o correio.
Acontece que lagosta era coisa rara naquelas paragens (cerca de 600 km de Luanda) e não era justo que só os “paras” lhe metessem o dente.
Então apesar de haver um “espião” dos paras junto connosco em Gago Coutinho, o “Jackie”, tínhamos de lhes deitar a mão em local “reservado” e só durante o voo para Ninda, que durava apenas 30 minutos. Então após levantarmos voo eu passava para a zona de carga, descosia com um certo cuidado a saca das lagostas, e tudo o que era buraco no avião, levava uma lagosta, de forma que quando aterrávamos os mirones dos “paras” não conseguissem ver nenhuma “antena” a espreitar pelos buracos onde as colocava.
Pista de Ninda


No regresso enchia o nosso frigorífico com lagostas para a semana, e como sempre os nossos amigos “paras” lá ficavam com as suas desconfianças e com a impressão de que a saca das lagostas tinha encolhido na viagem.

Lisboa, 01 de Junho de 2006

sexta-feira, 20 de julho de 2012

CONVERSAS NA CIDADE Nº.2


Nota Introdutória
Com proveniência da Base e chegados à cidade para uma estadia de várias horas, os nossos convidados “especiais” encontram-se precisamente no cruzamento do “Hotel Pereira Rodrigues”.
Uma das avenidas, seguindo para Ocidente e passando resvés à “Fotolux”, caminha para o cinema “Chikapa”. Outra, projectando-se para Norte, reflecte uma paralela ao pequeno jardim do Hotel, dando rumo ao velho mercado e ao bar do “Estrela D`Alva”. Do Sul, acabou de chegar a carrinha da Base com os seus “veraneantes”, e para o Oriente, apenas a picada junto aos quartos do Hotel – atalho que servia aos destinos dos edifícios dos Correios, Palácio do Governo, Capela e Rádio Saurimo.
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Marrador – O Vito e o Joca despertos para darem “guiso” à língua, chegaram à tal dita “Las Vegas”. Na encruzilhada do “fala-fala”,… e nada se diz, no local próprio das “calhandrices”, e de “peito feito”- tal e qual como dois galitos da índia se tratassem, eis que afinam o “lamiré”, mas num tom mais citadino …,… elegante para a “gente da Alta”. Vou dar corda aos falantes…
VITOHummm…Humm…
JOCATemos boi?
VITO - Lá estás tu!... Não estás a ouvir o “quissanje” a tocar?
JOCA – Bruxooo… Há batuque na esplanada, e já sei porquê…
VITO – Estou à espera… Dá à língua.
JOCA – Não ouviste falar no casório do Dinis? Trata-se do seu casamento, e os “toca-toca” são o grupo da Base. Os da “FAP”
VITO – O quê?! Os do “Cacimbo”?
JOCA – Yes, meu! E têm como Maestro, o celebríssimo Bilinhos a dar à “guita”.
VITO – Hummmm…
JOCA – Lá estás tu a chamar a “vaca”…
VITO - Escuta-me os acordes das guitarras, retira-me os “bemóis”, conjuga-me os “sustenidos”, e o que é que te fica retido nos tímpanos?
JOCA – Eh pá…Eh pá… Há uma certa desafinação!... Talvez alguma guitarra com cordas de marinheiro ou, “nocal” em excesso?!...
VITO – Olha! Olha o “IIM Careca”!... Saca-lhe novidades.
JOCA – “IIM Careca”? Estás a ficar gago ou, com a garganta seca? É o QUIM. Se falasses em alhos – já lhe tinhas colocado o “Q”!...
VITO – Ehhh… Quim. “Tweia kuno ao Muata”.
JOCA – Com esses termos quiôcos…ainda chateias o “especial”.
VITO - Só estou a chamá-lo. Estamos na Terra dos “Lunda”.
QUIM – “Moio Weno”… “Gungungo”?
VITO – “Moio”… ainda conheço!...Agora, com feno?! Só se for aqui para o Joca !...
QUIM – “Moio Weno” é um cumprimento mais completo em “Quiôco language”. E “gungungo” – é a perguntar se estão com força e sadios.
JOCA – Estamos sadios. Com força?! Nem tanto! Aqui o Vito está a ficar gago e precisa de molhar a goela…e amolecer o feno!
VITO – Quim, dormiste no “Hotel Palhota”? Eu, e o Joca, fomos os primeiros a chegar à cidade e tu já cá te encontravas…Estadia no “quimbo”? Por isso…é que sabes falar bem o “matumbo”!...
QUIM – Estás a ver miragens. O melhor é irmos às “cucas” para o Lux Bar.
JOCA - Já vamos. Vou chamar aqueles “canhicas” para me engraxarem os sapatos. Quero cruzar as pernas e mostrar as “ferraduras” sem timidez.
VITO – Bruxooo. Acertaste na “mouche”. Também quero. Oh Quim, aguarda pela malta. Oh… “xacala”, vem cá ao “Muata”. Quanto levas pela graxa? Quanta “falanga”? Vá…tu, e o teu mano, vamos ver quem é o melhor, mais rápido, e cantante.
JOCA – “Canhica”, quero música com o pano. Ginga, puxa, puxa…
VITO – Este sim! Até põe “sustenidos” no bater do pano. Ehhh… “cambutinha”!... Pareces um barrote queimado, mas trabalhas bem. Puxa…puxa…
QUIM – Até bato o pé … para acompanhar o batido do pano… O Conjunto aqui em baixo é melhor do que o do casamento! As notas musicais da esplanada estão a sair como bolas de sabão… Poc…poc…poc…
VITO – Meninos, já chega de tanta “cuspidela” no pano. Apanhas-me distraído, e da graxa – só sai cuspo? Toma cinco “falangas” e não digas que vais daqui…O quê? “falanga Kake”? É pouco?!
JOCA – Deixa. Eu dou mais cinco “falangas”. “Moio”, “moio”. “Zungo Kawaxi”.
QUIM – Um dos “canhicas” disse “tuje”!...
VITO – Aihhh… O Joca perguntou-me há momentos se tínhamos boi. Agora, Os “matumbos” dizem “muge”?!...
QUIM – “tuje”…”tuje” – “bull shit”!...
Marrador – Nesta “lenga-lenga” de encruzilhada, lá se ia passando o tempo duma forma descontraída, antes de se deslocarem para outras paragens. E que paragens? Mais metro, menos metro, e esbarrava-se com as sanzalas, com os musseques e os quimbos!... Deambulava-se de canto, sobre canto – na conversa fiada!...
VITO – Há tempos atrás fui apanhado neste local…com uma pinta do caraças!...
JOCA – Deram-te os gases?
VITO – Não. Mas fiquei azedo que só me deu vontade de tirar o “cabaço” à filha do pedreiro.
QUIM – Do pedreiro da Base?
VITO – Sim, sim. A que trabalha no Rádio Clube Saurimo. Olha!... colega do Dinis… Essa linda, como uma “tusula tchibandala”. Telefonou para a Base a querer falar comigo. O telefonista, nosso conhecido, encaminhou a chamada para mim a dizer que se tratava duma donzela que me queria segredar. Afiei a “dentola”, parafinei o “pífaro”, afunilei o bigode, insalivei a garganta, e numa voz suave e doce…anunciei-me. “Faça favor de se espremer”… falava assim o galanteador!... Ela, meigamente, com uma voz de derreter aço, convenceu-me a esperá-la neste local à frente de nós. Aqui, no jardim do Hotel, às 15:00 h, defronte daquelas janelas dos quartos do “Pereira Rodrigues”.
JOCA e QUIM – Vieste cá?
VITO – Vim. Quem não teria vindo? Com aquela voz – até me achei o “Elvis Presley”!...
JOCA e QUIM – Não pares. Acaba a “marração”. Talvez nos arranjes companhia para trincarmos as “moelas”…
VITO – Esperei … esperei … e já cansado e com o pescoço pendente de tantas curvas voltear – desanimei. Quando me desloco para sair da “ratoeira”, eis que lá de cima do Hotel oiço uma risada desenfreada. Era a “mula” com a pança cheia de gozo….
JOCA – Caíste? E as colegas a curtirem, também?
VITO – Deixa, deixa, que ainda lhe abato o “cabaço” e não pagarei nada ao “soba”.
QUIM – Não te aborreças com essa. Num baile do “Chikapa” fui para a convidar para uma dança, e quando ela se levantou da cadeira, gulosa para me abraçar, dirigi-me para a colega do lado e tomei a outra como minha dançante.
JOCA – Deste-lhe uma “tampa”?
QUIM – Das grandes. Parecida com a “Carlota” da feira – aquela que vende rifas!… Para gozona, gozona e meia…
VITO - Gozona, e…toda!. Toda, e no “sundji” dela.
JOCA – Maldoso!...
VITO – Vamos, vamos à “cuca” e à “nocal”, ali no Lux Bar. Depois, das “moelas”, comemos uns “pi-pis” com “gindungo” a valer. Segue-se uma “bilharada”, e tomamos rumo ao “Estrela D`Alva” ao encontro dos “Neves” – companheiros de estrada batida.
JOCA – Já me está a dar a “nzala”. Só “fominha” amarela!...
QUIM – Atacamos! Ainda mal nasceu o dia…e já vai longa a “cavacada”!...
Marrador - A poucos metros do cruzamento, situava-se o famoso Lux Bar, na avenida de maior circulação. Neste lado da avenida e até ao dobrar de ambas as esquinas, ficavam nos prédios de dois andares; a Foto Lux, o Banco, lojas comerciais diversas. Defronte, tínhamos o jardim com arvoredo crescido e alguns bancos. Caminhando para o Norte, a poucos metros e no topo do jardim, saía uma perpendicular de estrada oriunda do velho cinema “Chikapa” e Capela – com seguimento para a direcção do Oriente, Bar das Bombas de gasolina, (Mobil), Luso.
O segundo destino dos nossos “capangas” seria o “Estrela D´Alva”, e para isso, teriam que descer a avenida, cruzar com a via da Capela-Luso, passando a roçar pela paragem dos camiões e autocarros de passageiros, pelo velho mercado indígena e pela Casa de Circunscrição Florestal de Angola … onde morava a belíssima Amélia, a de cabelos loiros...loiros de arrepiar. Apre….. Até breve O amigo

quinta-feira, 12 de julho de 2012

NOMES QUE FIZERAM A HISTÓRIA DA AERONÁUTICA PORTUGUESA


O ar exercerá sempre um enorme fascínio sobre o Homem. Isto acontece há séculos, em todo o Mundo, e os portugueses não poderiam ser diferentes. Portugal é conhecido por ser um país de marinheiros, de navegadores, de gente corajosa que se lançou ao mar para descobrir novas terras. No entanto o nosso país também tem marcado grandes e importantes páginas da História da aviação, mesmo que tais factos sejam menos conhecidos ou, então, apenas menos divulgados. Muitos nomes ficarão para sempre ligados ao percurso da aviação e um conjunto deles escreve-se em língua portuguesa.

Vale a pena conhecer melhor quem foram os pioneiros, os primeiros a aceitarem as mais perigosas aventuras. Muitos são os nomes e as historias que vale a pena conhecer, porque ninguém fica indiferente ao acto de voar, não há quem não reaja ao ruído de um motor de avião.

Os feitos históricos dos aventureiros nacionais devem encher de orgulho a nossa herança, mesmo que tenham passado anos demais sobre esses factos históricos.
D. Luís de Noronha
O primeiro aviador português a voar no nosso céu com brevet da F.A.I. chamava-se Luís de Noronha e acabou por falecer no mesmo ano em que obteve tal distinção. Sócio do Aero Clube de Portugal e um dos grandes incentivadores da aviação nacional, tanto militar como civil, promoveu a constituição de escolas de aeronáutica.
Morreu a 24 de Julho de 1913, na sequência da queda do aeroplano que pilotava, numa apresentação nas Festas da Cidade de Lisboa, daquele ano.
Jorge de Castilho
Visto como um verdadeiro cidadão do Mundo, Jorge de Castilho nasceu em Lisboa a 23 de Maio de 1880, e morreu no outro lado do Mundo, na Austrália, mais propriamente em Melbourne, em Fevereiro de 1943. Estudou engenharia na universidade de Louvaina, na Bélgica, regressando a Lisboa sem o curso terminado, matriculando-se, então, na Escola Politécnica de Lisboa. Em 1902, entrou na Escola do Exercito, onde tirou o curso de Oficial de Infantaria.
Foi promovido a alferes em 1906 e, dois anos depois, partiu para Moçambique como ajudante do governador. Em 1910, foi nomeado governador do distrito de Damão, lugar que ocupou durante quatro anos. Em 1914, passou à situação de licença e partiu para o Brasil, onde se dedicou ao ensino. Com a entrada de Portugal na Primeira Grande Guerra, regressou e foi integrado CEP.
Participou na Primeira Travessia Nocturna do Atlântico Sul como navegador do Argos em 1927.
No ano seguinte, foi promovido a major e colocado na arma da Aeronáutica, prestando igualmente serviço na Comissão de Cartografia do Ministério das Colonias. Entre 1929 e 1932, executou trabalhos de delimitação de fronteiras em Angola e Moçambique. Em 1937, foi promovido a coronel e nomeado chefe dos Serviços Meteorológicos do Exercito. Nesse mesmo ano passou à reserva.
Crédito: Euro Impala/Força Aérea Portuguesa