sexta-feira, 20 de julho de 2012

CONVERSAS NA CIDADE Nº.2


Nota Introdutória
Com proveniência da Base e chegados à cidade para uma estadia de várias horas, os nossos convidados “especiais” encontram-se precisamente no cruzamento do “Hotel Pereira Rodrigues”.
Uma das avenidas, seguindo para Ocidente e passando resvés à “Fotolux”, caminha para o cinema “Chikapa”. Outra, projectando-se para Norte, reflecte uma paralela ao pequeno jardim do Hotel, dando rumo ao velho mercado e ao bar do “Estrela D`Alva”. Do Sul, acabou de chegar a carrinha da Base com os seus “veraneantes”, e para o Oriente, apenas a picada junto aos quartos do Hotel – atalho que servia aos destinos dos edifícios dos Correios, Palácio do Governo, Capela e Rádio Saurimo.
_______________________________ /// ___________________________
Marrador – O Vito e o Joca despertos para darem “guiso” à língua, chegaram à tal dita “Las Vegas”. Na encruzilhada do “fala-fala”,… e nada se diz, no local próprio das “calhandrices”, e de “peito feito”- tal e qual como dois galitos da índia se tratassem, eis que afinam o “lamiré”, mas num tom mais citadino …,… elegante para a “gente da Alta”. Vou dar corda aos falantes…
VITOHummm…Humm…
JOCATemos boi?
VITO - Lá estás tu!... Não estás a ouvir o “quissanje” a tocar?
JOCA – Bruxooo… Há batuque na esplanada, e já sei porquê…
VITO – Estou à espera… Dá à língua.
JOCA – Não ouviste falar no casório do Dinis? Trata-se do seu casamento, e os “toca-toca” são o grupo da Base. Os da “FAP”
VITO – O quê?! Os do “Cacimbo”?
JOCA – Yes, meu! E têm como Maestro, o celebríssimo Bilinhos a dar à “guita”.
VITO – Hummmm…
JOCA – Lá estás tu a chamar a “vaca”…
VITO - Escuta-me os acordes das guitarras, retira-me os “bemóis”, conjuga-me os “sustenidos”, e o que é que te fica retido nos tímpanos?
JOCA – Eh pá…Eh pá… Há uma certa desafinação!... Talvez alguma guitarra com cordas de marinheiro ou, “nocal” em excesso?!...
VITO – Olha! Olha o “IIM Careca”!... Saca-lhe novidades.
JOCA – “IIM Careca”? Estás a ficar gago ou, com a garganta seca? É o QUIM. Se falasses em alhos – já lhe tinhas colocado o “Q”!...
VITO – Ehhh… Quim. “Tweia kuno ao Muata”.
JOCA – Com esses termos quiôcos…ainda chateias o “especial”.
VITO - Só estou a chamá-lo. Estamos na Terra dos “Lunda”.
QUIM – “Moio Weno”… “Gungungo”?
VITO – “Moio”… ainda conheço!...Agora, com feno?! Só se for aqui para o Joca !...
QUIM – “Moio Weno” é um cumprimento mais completo em “Quiôco language”. E “gungungo” – é a perguntar se estão com força e sadios.
JOCA – Estamos sadios. Com força?! Nem tanto! Aqui o Vito está a ficar gago e precisa de molhar a goela…e amolecer o feno!
VITO – Quim, dormiste no “Hotel Palhota”? Eu, e o Joca, fomos os primeiros a chegar à cidade e tu já cá te encontravas…Estadia no “quimbo”? Por isso…é que sabes falar bem o “matumbo”!...
QUIM – Estás a ver miragens. O melhor é irmos às “cucas” para o Lux Bar.
JOCA - Já vamos. Vou chamar aqueles “canhicas” para me engraxarem os sapatos. Quero cruzar as pernas e mostrar as “ferraduras” sem timidez.
VITO – Bruxooo. Acertaste na “mouche”. Também quero. Oh Quim, aguarda pela malta. Oh… “xacala”, vem cá ao “Muata”. Quanto levas pela graxa? Quanta “falanga”? Vá…tu, e o teu mano, vamos ver quem é o melhor, mais rápido, e cantante.
JOCA – “Canhica”, quero música com o pano. Ginga, puxa, puxa…
VITO – Este sim! Até põe “sustenidos” no bater do pano. Ehhh… “cambutinha”!... Pareces um barrote queimado, mas trabalhas bem. Puxa…puxa…
QUIM – Até bato o pé … para acompanhar o batido do pano… O Conjunto aqui em baixo é melhor do que o do casamento! As notas musicais da esplanada estão a sair como bolas de sabão… Poc…poc…poc…
VITO – Meninos, já chega de tanta “cuspidela” no pano. Apanhas-me distraído, e da graxa – só sai cuspo? Toma cinco “falangas” e não digas que vais daqui…O quê? “falanga Kake”? É pouco?!
JOCA – Deixa. Eu dou mais cinco “falangas”. “Moio”, “moio”. “Zungo Kawaxi”.
QUIM – Um dos “canhicas” disse “tuje”!...
VITO – Aihhh… O Joca perguntou-me há momentos se tínhamos boi. Agora, Os “matumbos” dizem “muge”?!...
QUIM – “tuje”…”tuje” – “bull shit”!...
Marrador – Nesta “lenga-lenga” de encruzilhada, lá se ia passando o tempo duma forma descontraída, antes de se deslocarem para outras paragens. E que paragens? Mais metro, menos metro, e esbarrava-se com as sanzalas, com os musseques e os quimbos!... Deambulava-se de canto, sobre canto – na conversa fiada!...
VITO – Há tempos atrás fui apanhado neste local…com uma pinta do caraças!...
JOCA – Deram-te os gases?
VITO – Não. Mas fiquei azedo que só me deu vontade de tirar o “cabaço” à filha do pedreiro.
QUIM – Do pedreiro da Base?
VITO – Sim, sim. A que trabalha no Rádio Clube Saurimo. Olha!... colega do Dinis… Essa linda, como uma “tusula tchibandala”. Telefonou para a Base a querer falar comigo. O telefonista, nosso conhecido, encaminhou a chamada para mim a dizer que se tratava duma donzela que me queria segredar. Afiei a “dentola”, parafinei o “pífaro”, afunilei o bigode, insalivei a garganta, e numa voz suave e doce…anunciei-me. “Faça favor de se espremer”… falava assim o galanteador!... Ela, meigamente, com uma voz de derreter aço, convenceu-me a esperá-la neste local à frente de nós. Aqui, no jardim do Hotel, às 15:00 h, defronte daquelas janelas dos quartos do “Pereira Rodrigues”.
JOCA e QUIM – Vieste cá?
VITO – Vim. Quem não teria vindo? Com aquela voz – até me achei o “Elvis Presley”!...
JOCA e QUIM – Não pares. Acaba a “marração”. Talvez nos arranjes companhia para trincarmos as “moelas”…
VITO – Esperei … esperei … e já cansado e com o pescoço pendente de tantas curvas voltear – desanimei. Quando me desloco para sair da “ratoeira”, eis que lá de cima do Hotel oiço uma risada desenfreada. Era a “mula” com a pança cheia de gozo….
JOCA – Caíste? E as colegas a curtirem, também?
VITO – Deixa, deixa, que ainda lhe abato o “cabaço” e não pagarei nada ao “soba”.
QUIM – Não te aborreças com essa. Num baile do “Chikapa” fui para a convidar para uma dança, e quando ela se levantou da cadeira, gulosa para me abraçar, dirigi-me para a colega do lado e tomei a outra como minha dançante.
JOCA – Deste-lhe uma “tampa”?
QUIM – Das grandes. Parecida com a “Carlota” da feira – aquela que vende rifas!… Para gozona, gozona e meia…
VITO - Gozona, e…toda!. Toda, e no “sundji” dela.
JOCA – Maldoso!...
VITO – Vamos, vamos à “cuca” e à “nocal”, ali no Lux Bar. Depois, das “moelas”, comemos uns “pi-pis” com “gindungo” a valer. Segue-se uma “bilharada”, e tomamos rumo ao “Estrela D`Alva” ao encontro dos “Neves” – companheiros de estrada batida.
JOCA – Já me está a dar a “nzala”. Só “fominha” amarela!...
QUIM – Atacamos! Ainda mal nasceu o dia…e já vai longa a “cavacada”!...
Marrador - A poucos metros do cruzamento, situava-se o famoso Lux Bar, na avenida de maior circulação. Neste lado da avenida e até ao dobrar de ambas as esquinas, ficavam nos prédios de dois andares; a Foto Lux, o Banco, lojas comerciais diversas. Defronte, tínhamos o jardim com arvoredo crescido e alguns bancos. Caminhando para o Norte, a poucos metros e no topo do jardim, saía uma perpendicular de estrada oriunda do velho cinema “Chikapa” e Capela – com seguimento para a direcção do Oriente, Bar das Bombas de gasolina, (Mobil), Luso.
O segundo destino dos nossos “capangas” seria o “Estrela D´Alva”, e para isso, teriam que descer a avenida, cruzar com a via da Capela-Luso, passando a roçar pela paragem dos camiões e autocarros de passageiros, pelo velho mercado indígena e pela Casa de Circunscrição Florestal de Angola … onde morava a belíssima Amélia, a de cabelos loiros...loiros de arrepiar. Apre….. Até breve O amigo