quinta-feira, 31 de março de 2022

A HISTÓRIA DA POLÍCIA AÉREA


Ao longo deste artigo vamos dar a conhecer parte significativa da história da Polícia Aérea; das mulheres e dos homens que a construíram desde o nascimento da Força Aérea até à atualidade. Vamos falar da participação nas guerras de África, na Base Mãe de Tancos, nos símbolos da Especialidade, no armamento e nas viaturas. Vamos abordar as diversas facetas do emprego operacional da Polícia  Aérea, nomeadamente nas atividades cinotécnicas de guarda e de deteção de odores, de proteção da força, de inativação de engenhos explosivos e de segurança militar e defesa imediata das Unidades do Ramo.
BA9 porta de armas em 1966


DA GUARDA DE POLÍCIA À POLÍCIA AÉREA
A Guarda de Polícia
O primeiro diploma que definiu os quadros e efetivos da Aeronáutica Militar em tempo de paz «bem como os efetivos normais em pessoal das bases aéreas, unidades, formações, estabelecimentos e outros órgãos territoriais afetos às forças aéreas», o Decreto-Lei 39071, publicado em 31 de dezembro de 1952, não contemplava ainda pessoal destinado às tarefas de segurança e defesa.
No entanto, a história da força que, desde a fundação da Força Aérea Portuguesa procede até hoje à vigilância do património humano e material do Ramo, tem como protagonistas iniciais militares provenientes de diversas unidades do Exército, essencialmente do Regimento de Lanceiros, voluntários ou cumprindo o serviço militar obrigatório (SMO), e Praças, Sargentos e Oficiais oriundos dos dois serviços de Aeronáutica!
Aviação, e que integravam os então designados serviços de Guarda de Polícia à Unidade.
No seu percurso como Ramo independente, e à medida que a Força Aérea se autonomizava, ainda que continuando a ser fornecida por pessoal formado no Exército, o Serviço de Guarda de Polícia foi sendo substituído por Serviço de Guarnição e Defesa Próxima, criado pelo Decreto-Lei 39921 de 23 de novembro de 1954.
Datam ainda, desta altura, as primeiras referências documentais ao Serviço de Polícia de Aeronáutica ou de Polícia Militar de Aeronáutica. Comprovam-no publicações nas Ordens de Serviço de 1954 e 1955 da Base Aérea n.° 2, Ota, e da Base Aérea n.° 4, Lajes.

A Polícia de Aeronáutica (PA) da Base Aérea n.° 2
A primeira referência à Polícia de Aeronáutica terá surgido em 1954. No anexo à Ordem de Serviço (OS) n.° 246 da BA2, publicada em 3 de setembro de 1954, encontramos o «Regulamento Provisório da Polícia de Aeronáutica da Base»:

«REGULAMENTO PROVISÓRIO DA POLÍCIA DE AERONÁUTICA DA BASE
1.- A Polícia Militar de Aeronáutica (PA.) é constituída por:
1 Oficial (Comandante) 1 Sargento ou Furriel (Auxiliar do Comandante) 4 Primeiros-Cabos 21 Soldados.
2.- O serviço da P.A. é permanente e da responsabilidade do respectivo comandante, o qual em todas as ordens e instruções dadas deverá ter em vista as circunstâncias locais.
3.- Ao comandante da P.A., além das atribuições especiais que lhe sejam conferidas, compete-lhe:
a) Cumprir e fazer cumpriras normas determinadas pelo Comando da Base;
b) Elaborar e submeter à aprovação superior todas as directivas que considere necessárias a uma eficaz acção da PA.;
c) Promover a instrução e adestramento do pessoal;
d) Manter a disciplina e o bem estar dos seus subordinados;
e) Formular as instruções relativas ao serviço diário, organizando os respectivos horários;
f) Determinar os itinerários e horários das rondas normais exteriores, dos quais será dado conhecimento em impresso próprio ao oficial de dia, para este providenciar o fornecimento de transporte (Jeep) e que um dos sargentos de serviço acompanhe a ronda;
g) Rondar, sempre que de tal veja necessidade, as povoações e estradas limítrofes da Base, num raio até 20 quilómetros, verificando o estado de atavio e compostura do pessoal e o transito das viaturas militares pertencentes à Unidade;
h) Estabelecer os deveres especiais do pessoal da P.A. não prescrito no R.G.S.E, ou neste regulamento.
6 - O uniforme da PA. é o regulamentar; usando um braçal distintivo de cor azul e um capacete da mesma cor; ambos com as letras PA.
(...)
7 - São deveres de todo o pessoal da PA.:
(...)
c) Manterem sempre a máxima correcção e aprumo militares, de modo a constituírem exemplos permanentes para os seus camaradas;
d) Auxiliarem, quando tal lhes for solicitado, qualquer civil, em especial velhos, mulheres ou crianças;
e) Serem delicados e respeitadores, nunca abusando dos poderes especiais que lhes são conferidos;
f) Não esquecerem nunca que a sua missão é de prevenir e não de procurar; faltas ou transgressões;
13.- Este regulamento anula todas as determinações anteriores referentes à PA.»
(Assinado pelo Comandante Interino, Tenente -Coronel Aviador José Costa Franco)
Porta de armas e posto de vigia da BA9 em 1966

corpo de Polícia Aeronáutica da Base Aérea n.° 4
A instalação da Força Aérea dos Estados Unidos da América (USAF) na Base das Lajes, na sequência da cedência de facilidades no âmbito de acordos com os EUA, no seu plano de defesa de 1953 (Plano de Operações 1/53), previa um dispositivo de defesa constituído por Serviço de Vigilância e Alarme, forças de defesa estática, forças de defesa móvel e forças de defesa passiva, além de serviço de informações e contra-espionagem e serviço de segurança contra sabotadores. A segurança da Base das Lajes foi planeada considerando a área alargada da Ilha Terceira pelo que contou, desde essa altura, com militares portugueses provenientes do Exército, dos quadros da Força Aérea e da Guarda Nacional Republicana, assim como com militares norte-americanos.
A preocupação em modelar a designação das forças responsáveis pelo controlo de acessos e circulação na Base ao ainda jovem Ramo das Forças Armadas levou à nomeação, em 1955, de um conjunto de militares provenientes do Exército ou dos próprios quadros da Força Aérea, para um serviço designado por Polícia Aeronáutica.
De acordo com o Artigo 1O.° da OS n.° 151 de 31 de maio de 1955 da Base Aérea nº.4:
«Artº. 10º - Polícia Aeronáutica:
a. Que, a partir de amanhã, é criado um Corpo dePolícia destinado ao  serviço de guarnição e vigilância da base (...).
b. Que, a partir de amanhã, fica a cargo da PA:
- O serviço de guarda ao Quartel de Santa Rita;
- O serviço de guarda ao Posto de Polícia n.° 2;
3°- O serviço de vigilância e ronda na Base.»
Este Corpo de Polícia era constituído por 1 Oficial, 1 Sargento, 10 Cabos e 22 Soldados.

O Serviço de Polícia e Defesa Próxima em 1957
Em 31 de dezembro de 1957, cinco anos após o estabelecimento da Força Aérea como Ramo independente das Forças Armadas, surgiu, pela primeira vez em documento oficial, integrado no quadro do Serviço Geral, referência ao quadro de "Serviço de Polícia e Defesa Próxima». Foi no Decreto-Lei n.° 41492, no primeiro reajustamento dos quadros e efetivos da Força Aérea, relativo ao pessoal militar permanente e privativo deste Ramo, Sargentos e Praças readmitidas, assim como ao pessoal militar não permanente, Sargentos Milicianos e Praças não readmitidas.
Em 18 de abril de 1958, conforme a Portaria n.° 16666, o Subsecretario de Estado da Aeronáutica mandou que fossem transferidos dos anteriores Quadros de Especialistas e do Serviço Geral (serviço de guarnição, secretaria e parque (Polícia Militar)) para o Serviço de Polícia e de Defesa Próxima, 14 Segundos-Sargentos ou Furriéis e até 58 Primeiros-Cabos. A partir de 1959 foi possível a criação de subunidades de Polícia e Defesa Próxima em todas as unidades do Continente.

A instalação da Esquadrilha de Polícia e Defesa Próxima na Base Aérea n.° 5 em 1959
De acordo com a Ordem de Serviço n.° 127 da BA5, em Monte Real, publicada no dia 15 de setembro de 1959, passaram desde essa data a desempenhar funções na Esquadrilha de Polícia e Defesa Próxima o Aspirante a Oficial Miliciano Hélio Bettencourt (Comandante), o Primeiro-Sargento Francisco Neves, o Primeiro-Cabo Manuel Sobral e ainda 36 Soldados.

1959 e 1960 - As primeiras referências à POLÍCIA AÉREA
As primeiras menções à Polícia Aérea em documentação oficial terão surgido nas Ordens de Serviço n.° 122 da BA2, publicada em 13 de maio de 1959; n.° 19 da BA5, publicada em 23 de janeiro de 1960; e n.° 110 da BA2, publicada em ide maio de 1960.
Ordem de Serviço n.° 122 de 13 de maio de 1959 da Base Aérea n.°2
«Artigo 5°. - RONDAS DA POLÍCIA AÉRFA
Que, diariamente, a partir das 16.40 até as 00.00h devem ser feitas rondas pela polícia aérea ao longo da estrada Nacional n.° 1 entre Cheganças e o posto de abastecimento de combustível existente no lugar conhecido pelo "Pinheiro Grande"- Ota.
- Finalidade:
Não permitir a presença de praças estacionadas ao longo deste troço de estrada e obrigar a cumprir as normas de boa conduta militar.»
Ordem de Serviço n.° 19 de 23 de janeiro de 1960 da Base Aérea n.° 5
«Art°6.° Que passem a observar-se as seguintes normas relativas à Polícia Aérea:
1. Fica a partir de hoje dispensada de todo o serviço de faxinas.
2. Terá camarata privativa (enquanto possível,).
3. Terá no refeitório mesas separadas do restante pessoal.
4. Fica autorizado a fumar durante o serviço de plantão (salvo nos casos em que tal prática não seja aconselhável: junto dos aviões, carros de combustíveis, carros de plenos, etc) por ser serviço com duração de 12horas.
5. Forma sempre em separado, à direita da formatura, comandada por um cabo da PA, ou por um soldado mais antigo presente, se não houver outros graduados.»
Ordem de Serviço n.° 110 de 7 de maio de 1960 da Base Aérea n.° 2:
«Art.° 1º. - POLÍCIA AÉREA - SERVIÇO INTERNO:
Que, durante a época calmosa, o serviço interno a cargo das praças da PA passe a ser feito com barrete de campanha das 07.00 até à montagem do reforço, hora a que passarão a fazer uso do capacete.
Esta concessão é feita até 1-11-1960.»
BA12 Bissalanca, 1968

ÁFRICA: INSTALAÇÃO DA FORÇA AÉREA EM 1961
Entre 1961 e 1974, período em que as Forças Armadas Portuguesas estiveram envolvidas em conflito bélico com diversos movimentos de libertação províncias ultramarinas, nos Teatros de Operações de Angola, Moçambique e Guiné, a Polícia Aérea esteve presente, nestes territórios1 desde o início até ao fim, na segurança e defesa das infraestruturas, aeronaves e pessoal da Força Aérea.
A Força Aérea estava organizada em três Regiões Aéreas: a 1ª. Região Aérea, que incluía as unidades do Continente, ilhas dos Açores, Madeira e Cabo Verde e ainda a Guiné; A 2ª. Região Aérea, que cobria Angola e São Tomé e Príncipe; e a 3ª. Região Aérea, que abrangia Moçambique e Timor.
Existiram subunidades PA na Guiné, no Aeródromo-Base (AB) n.° 2 mais tarde BA12 em Bissau; em Angola, na BA9 em Luanda, noAB3 no Negaje, no AB4 em Henrique de Carvalho; e em Moçambique na BA10 na Beira, no AB5 em Nacala, no A86 em Nova Freixo, no AB7 em Tete e no AB8 em Lourenço Marques.
Cada um destes aeródromos tinha vários Aeródromos de Manobra (AM) na sua dependência.
O Memorando nº.7/61 do Estado-Maior da Força Aérea, 2ª. Repartição, de 15 de junho de 1961, relativo à preparação da instalação de Unidades da Força Aérea nestes territórios, refere o dispositivo previsto, em meios aéreos e forças de defesa, que inclui Companhias de Polícia Aérea:
"(...)
4. Base Aérea nº.9 - E
m Luanda, para uso operacional por aviões F-84 e devendo possuir instalações para uma Companhia a 4 Pelotões de Polícia Aérea.
5. Aeródromos Base -  Serão criados dois - NEGAGE e HENRIQUE CARVALHO - devendo ambos ser preparados para F-84G, incluindo faixas asfaltadas, JP-4 e paióis. As suas instalações compreendem as necessárias a uma Companhia a 2 Pelotões de Polícia Aérea.»
Nas Unidades da Força Aérea em território ultramarino, tal como na metrópole, os militares em serviço de Polícia Aérea desempenhavam múltiplas tarefas relacionadas com a manutenção da disciplina, a segurança militar e a defesa imediata das unidades. É interessante ler, devendo, no entanto, ser enquadrada com a época, como era regulado o acesso ao embarque de passageiros da BA9, em 1961, e o empenhamento do pessoal da Polícia Aérea, extraído da OS n.° 230 do AB3 de 30 de dezembro de 1961:
"(...)
2. A entrada de passageiros na BA n°9 é feita unicamente pela porta de armas mediante mediante a apresentação ao militar da PA. do bilhete de passagem ou guia de marcha.
O militar da PA. fará sempre a identificação de todos os passageiros pelos seus bilhetes de identidade, verificando especialmente as fotografias e os nomes.
O militar da PA. nomeado para este serviço é o sargento da guarda.
3. Após a identificação o sargento da guarda mandará uma das praças (armada com pistola metralhadora) que se encontre de folga na casa da guarda, acompanhar os passageiros e respetivas bagagens ao local de embarque, seguindo o trajeto indicado pelas setas colocadas ao longo dos arruamentos.
4. Chegados ao local do embarque a praça da guarda entrega os passageiros ao oficial da PA que se encontra naquele local e pede licença para se retirar.
5. No local do embarque o pessoal da PA. constituído por 1 oficial, 11º. cabo e 1 soldado, nomeados de véspera para esse serviço e usando todos braçais azuis da PA. procederá da seguinte maneira:
a) O oficial identifica cada passageiro pelo seu bilhete de identidade; verifica se o nome dele consta da lista de passageiros a embarcar que
recebeu na véspera e descarrega-os nessa lista e descarrega-os nessa lista.
b) Elabora uma relação nominal dos que apenas são portadores de guia de marcha.
c) Em seguida passa revista a toda a bagagem dos passageiros coadjuvado neste serviço pelo cabo miliciano e o soldado e no caso de serem encontrados materiais explosivos ou armas apreende-as. Os volumes conforme são revistados vão sendo marcados com um sinal a giz.
d) Os passageiros são igualmente revistados quando o oficial suspeitar de algum. Todavia, quando se trate de uma senhora, deve o oficial proceder da seguinte forma:
- Mandá-la revistar pela empregada da Alfaiataria da Base.
- Não a deixar embarcar ordenando ao cabo miliciano que a acompanhe até à porta de armas, expulsando-a do aquartelamento, quando não se queira deixar revistar.»
AM31 Maquela do Zombo, 1964

1963, A PRIMEIRA RECRUTA DE PRAÇAS COM DESTINO À POLÍCIA AÉREA.
Em 19 de Julho de 1953, na Base Aérea n.° 3, em Tancos, 400 soldados terminaram o primeiro curso de 
especialização em Polícia Aérea, integrado na primeira recruta da especialidade de Serviço Geral.
Depoimento do Soldado PA 510/63 Fernando Silva, um dos militares formados na primeira recruta de praças com destino à Polícia Aérea:
«No dia 17 de janeiro de 1963 apanhei o comboio de Lisboa em direção ao Entroncamento e daí para Vila Nova da Barquinha. Cheguei depois à Base Aérea n.° 3, em Tancos, acompanhado por diversos camaradas que fui encontrando no comboio, e que tinham o mesmo destino. Apresentámo-nos ao Oficial de Dia e entregamos a Guia de Marcha. Recebemos o quarto, a roupa da cama e o fardamento. No dia seguinte, em 78 de janeiro de 1963, pelas 08H00, fizemos a primeira formatura onde fiquei a conhecer o meu número. Era o 510/63 e fiquei no nono pelotão.
A recruta durou três meses. Aprendemos a marchar a reconhecer os postos e as divisas e galões, e a fazer fogo com a espingarda Mauser 98K e com a pistola Walther.
Fiz juramento de bandeira na Esquadra de Instrução de Polícia Aérea (EIPA), então comandada pelo Tenente Mota Carmo. 15 dias depois voltámos para tirar a especialidade onde, me recordo, o Primeiro sargento Paraquedista Oliveira nos ensinou as táticas da guerra de guerrilha.
Três meses depois, já em julho de 1963, terminou o martírio de seis meses: Ganhámos a Boina Azul.
Depois, vi embarcar muitos dos meus camaradas com destino a África. Em 25 de agosto de 1963 calhou-me seguir o mesmo caminho e embarquei no paquete  Vera Cruz, com destino a Luanda, de onde deveria, mais tarde , seguir para Moçambique.
No dia 19 de setembro de 1963 parti para Nampula, onde recebi o número 115/63, e a partir daqui fiz destacamento em Mueda por dois meses. Era assim, cada pelotão que seguia para Mueda era rendido ao fim de dois meses.
Em Nampula fazíamos sobretudo serviço à Porta de Armas, rondas pela cidade e aos cinemas, Guardas de Honra e outras cerimónias. Até que um dia a viatura em que seguíamos se voltou com um estrondo. Fui transportado para o hospital em estado grave e, quando recuperei, soube que alguns camaradas que seguiam comigo tinham falecido.
Hoje, conservo a Boina Azul que ganhei em 1963, que guardo com carinho, amor, estima e orgulho.»


1965, A INSTALACÃO DA PA NA BASE AÉREA N.°11 
BA 11, 1968
Depoimento do Alteres Miliciano PA José Manuel Marques dos Santos Costa:
«Em 1965 saímos da Base do Montijo para a de Beja, eu, um Pelotão PA composto por 30 soldados e cabos, três furriéis e um sargento. A nossa missão era controlar pessoas e viaturas, fazer a segurança do perímetro da base, a manutenção da ordem interna e as guardas de honra.
Na época, na Base que nascia em Beja, só existia um Capitão nas lnfraestruturas. As pistas estavam em construção, havia somente uma pequena pista, e começavam a construir-se os alicerces dos hangares. Havia, sobretudo, grande movimento de camiões e algumas, poucas, casas onde trabalhavam engenheiros das «Infras» e onde estava também o refeitório do pelotão. Ficámos instalados num pré- fabricado onde diariamente hasteávamos a Bandeira Nacional.
No início, as rondas eram efectuadas a pé e só mais tarde recebemos um «Jeep» e um condutor; o que permitiu dar a conhecer a «Boina Azul» à cidade de Beja. Passámos também a fazer rondas na cidade.
Vestíamos o uniforme PKS e utilizávamos a pistola metralhadora FBP e a pistola Walther.
Antes da nossa chegada o controlo de entradas era inexistente, apesar de haver uns vigilantes civis que não  eram respeitados, sobretudo pelos camionistas, e que viram com grande entusiasmo a nossa chegada.
Com a nossa acção, usando meios muito limitados pois não havia rádios nem sequer bicicletas, conseguimos fazer respeitar limites de velocidade controlar as entradas de veículos e pessoas e manter a ordem e a segurança no transporte de trabalhadores. 
À entrada da Base havia um Posto de Controlo com comando de cabo que funcionava H24/24, além de rondas apeadas, conseguidas com o reduzido número de dispensas no fim-de-semana. Depois da alvorada e do içar da Bandeira, com o Pelotão formado, havia sempre uma sessão de Ginástica de Aplicação Militar; GAM, (é linda!) que frequentemente os nossos vizinhos civis aplaudiam. Muitas vezes, ao fim do dia, a equipa PA de voleibol jogava contra os engenheiros das lnfraestruturas e a de futebol, aos fins de semana, defrontava equipas das redondezas. Nos quatro meses que durou a nossa missão recebemos uma delegação de altas individualidades alemãs e altas patentes da Força Aérea, além de visitas avulsas de inspectores alemães, onde a Bandeira Nacional se revelou de grande utilidade para mostrar quem mandava naquele território.»

OS SIMBOLOS
Utilizado inicialmente na
boina azul
«O espírito de corpo e a coesão apenas são gerados por duas fontes, e só por elas em conjunto. Todos os livros de história militar assim o ensinam. A primeira fonte é o treino contínuo e a execução de exercícios bem sucedidos. A segunda fonte é o exercício de atividades da especialidade, levada ao extremo. Só através destas práticas é possível levar o soldado a conhecer os seus poderes ou capacidades.(...) Só o orgulho de suportar trabalhos e de vencer dificuldades e perigos forja nos homens o espírito de corpo e a honra da sua arma ou especialidade»

(TGen Vasquez, despacho na Informação n.° 51/88 doGabinete de Segurança Interna e Defesa Anti-Aérea, sobre a proposta da criação de um distintivo de função para a PA datado de 23 de junho de 1988)

Os símbolos são parte essencial da consciência e da identidade do grupo. Os símbolos agregam vontades, alinham comportamentos, fortalecem a coesão e o espírito de corpo. São ainda depositários das memórias coletivas, conferindo-lhes grandeza e poder. E em torno dos símbolos que os grupos se unem, pois carregam a história e glória do que simbolizam.
O Escudo Romano
Foi oficialmente introduzido pela portaria n.° 658/82 de 1 de julho, e é, ainda hoje, o distintivo da especialidade de Polícia Aérea.


A Boina Azul
Pela sua visibilidade e distinção, a boina azul é, desde a sua introdução, o elemento de maior simbolismo na identidade da Polícia Aérea. O sacrifício necessário para a conquistar, pela exigência física e pela necessidade de superação colocadas durante a fase da instrução, torna alto o valor do prémio recebido por quem se atreve e é bem sucedido na sua conquista.

A primeira referência à boina azul, enquanto artigo de fardamento de uso exclusivo pelos elementos da Polícia Aérea, data de 1963, inserida na Ordem de Serviço n.° 37 do Estado-Maior da Força Aérea, publicada em 23 de julho desse ano.


O Bastão, o Braçal e o Capacete PA
O braçal representa, tipicamente, no meio militar, o identificativo visual do pessoal a quem foi atribuída uma missão de serviço. Ao longo da história da Força Aérea é conhecido o uso, pelos militares em serviço na Polícia Aeronáutica ou na Polícia Aérea, de um braçal azul com caracteres PA de cor branca, ou, mais tarde, de um braçal branco com os mesmos caracteres em cor azul.
O capacete, habitualmente utilizado em conjunto com o braçal e o bastão nas rondas ao exterior das Unidades, apresentava as mesmas cores e caracteres.

O Código de Honra da Polícia Aérea
(MCOFA 114-1, Normas de conduta da Polícia Aérea, dezembro de 1985, capítulo 3)
O "Código de Honra da Polícia Aérea» constitui um núcleo de normas e virtudes por que se devem pautar os militares da Polícia Aérea.

CÓDIGO DE HONRA

«Eu sou da Polícia Aérea. Leal ao meu País e ao Ramo das Forças Armadas que sirvo. Sou devotado ao dever e asseguro a integridade do pessoal e do material da Força Aérea contra tudo aquilo que os possa ameaçar.
Uso o meu distintivo de autoridade com dignidade e compreensão e suscito com o meu exemplo os mais elevados padrões de conduta, apresentação, cortesia e competência.
Não posso obter da minha posição quaisquer regalias, favores ou benefícios.
Cumpro os meus deveres de maneira firme, cortês, e imparcial, independentemente da pessoa com quem contacto.
Esforço-me por merecera respeito dos meus camaradas e de todos aqueles com quem trabalho ou trato.»



Extraído da Revista Mais Alto 31

quinta-feira, 24 de março de 2022

MEMÓRIAS DO AB4

No Conselho Administrativo

As memórias das terras do fim do mundo, em certa medida são mais acerca de uma trabalheira incrível, afinal tirei muito proveito disso, foi a minha Universidade da vida, aprendi imenso, conheci pessoas fantásticas, entre alguns poderei começar por aquelas equipas de Futebol e Andebol, dali o Raminhos, o Alcantarilha, o Morais, tinha sido guarda redes do ASA, gabava-se de ter ido a Lisboa jogar com o Benfica para a Taça (infelizmente já faleceu) o Restolho, o Laranjeira, o António Sequeira, o Álvaro Barroso, o Hermínio Martins, o falecido Parreira e tantos outros.

Por outro lado tive uma equipa como não outra, o Comandante João da Cruz Novo (um homem honesto e sério, o único problema é que não sabia sorrir pela frente), o Segundo Comandante Pinho Freire, um sorridente, costumava dizer; "-faz o teu melhor, se tiveres dúvidas vem ter comigo". O meu verdadeiro chefe na questão das contas, o Cap. Lobo da Fonseca, formado em economia e finanças (ainda não sei porque foi para a FAP), depois o primeiro Rodrigues, queria mandar na secção de vencimentos, quando não conseguia dar conta do recado virava as costas, arranjava uma desculpa de urgência e dizia; "-oh Russo se precisares de mim chama-me"! Eu respondia-lhe assim; "-isto de darem promoções de velhice é uma merda"! Então o tipo ia-se, quantas vezes isto aconteceu.
Confraternização do pessoal do CA com o 2º.comt. Pinho Freire (3º.à dtª.)

De vez em quando estas e outras vem-me à memória, recordando os tempos em que éramos “meia dúzia” e nos conhecíamos pelo nome ou alcunha.
Pós julho de 1967, com o despoletar da guerrilha no leste tudo mudou, tanto do Exército como dos nossos tudo se alterou, as capacidades de crescimento estavam espremidas.
Mais uma viagem
Nesses primeiros tempos ia a todos os destacamentos levar os envelopes com a "massa". Cheguei a ir
à Luiana, um destacamento do Exército, somente barracas de lona, um calor dos diabos, eles tinham um frigorífico a petróleo, mas que não fazia frio, fizeram um poço para através dum saco preso com uma corda arrefecerem a bebida, ali não havia problemas de guerra, havia muita caça, através do Nord, mandavam carne para Gago Coutinho e recebiam bebida tabaco e munições.
Nós portugueses temos o espírito do desenrascanço!
O Luso cresceu como uma estância de férias, o Nobre (Pensão) cresceu, depois foi o Hotel, isto tudo entre 1967 e 1969.
Na Pensão Nobre

Apetece-me acrescentar de que nos anos seguintes a Administração Portuguesa tentando manter o controle das Colónias, a verdade é que já não tinha poder económico para prosseguir com a guerra, não seria possível continuar com maquinarias terra e ar obsoletas, ao tempo uma afirmação de um gajo graúdo da África do Sul ali mesmo no AB4, por estas e outras durante alguns anos desapareceram os meus documentos militares.
Sempre aprendi mais com as turbulências da minha vida, a FAP deu-me muitos conhecimentos, responsabilidade e disciplina.
Bons tempos, um pedaço de nós fica espalhado na experiência e na saudade, impagável.

Por: Floriano Silva



quinta-feira, 17 de março de 2022

DIVISAS DE CABO POR UMA "VIOLA" DE CHAVES !



Instantes da vida real : "A Viola de Chaves".
Em Janeiro de 1972 dei entrada na BA3-Tancos e fui frequentar o curso de formação de PA. Passada semana e meia estávamos formados na parada quando o Alferes comandante do meu pelotão chamou pelo meu número, mandou-me sair da formatura e acompanhar um Furriel que se encontrava junto dele, eu ia deixar o curso de PA e ser transferido para o curso de condutor auto. Lá fui conhecer e lidar com novas. Pela manhã tínhamos preparação física, de seguida aula de código de estrada e regras de trânsito, oralmente e por escrito, da parte da tarde uns tinham aula de mecânica, outros de condução e vice versa. Até que me sentia quase como peixe dentro de água. Todos dávamos o nosso melhor, até porque no final do curso os primeiros 14 classificados eram promovidos a primeiro cabo. No final do mesmo foi afixado uma lista com as classificações e lá constava o meu nome e o número em sexto lugar. No dia seguinte formatura em frente à camarata para ficarmos a saber qual a unidade de destino. Quando chegou a minha vez fiquei a saber que o meu destino era a Segunda Região Aérea, e aguardar embarque na BA1-Sintra. Seguidamente houve o momento da colocação das divisas aos primeiros cabos. Não foi mencionado o meu nome nem o número para tal. Depois da ordem de destroçar fui ter com o furriel que também era nosso instrutor e a quem eu já tinha desenrascado um Mini Clubman que ele tinha, se ele me sabia dizer a razão de eu não ter recebido as divisas. Com cara de saber o que se tinha passado, lá me confessou que tinha sido obra do primeiro sargento David.
Afinal, as divisas que por mérito próprio me pertenciam foram parar aos ombros de outro que na lista de classificação estaria nos primeiros se a mesma fosse virada ao contrário. Esse camarada seguiu comigo para a BA1 onde ficou a prestar todo o serviço militar. Segundo informação do Furriel, o primeiro sargento David teria recebido um belo presunto de Chaves e uns garrafões de vinho de Colares. A minha vida militar na Força Aérea por cá foi assim, até ir parar ao nosso AB4-Henrique de Carvalho, ainda bem que assim foi. Para todos um grande abraço.

Por: António Pereia

quinta-feira, 10 de março de 2022

SÓ HÁ DUAS MACAS, SÓ POSSO LEVAR DOIS FERIDOS!


"Só há duas macas, só posso levar dois feridos!
Vai este e vai aquele." A decisão é fria, rápida e lógica. Resume-se a quem será salvo. E quem fica para resistir ou morrer.
-"Não sei se fazíamos bem. Provavelmente não. Mas tinha de ser assim. Quando éramos nós a fazer a seleção, levávamos aqueles que estavam em choque, com sinais evidentes de grandes hemorragias internas e que, se não fossem, iriam morrer pouco tempo depois." 
Rosa Serra a 13 de Março de 1968, foi para a Guiné por 13 meses. Regressou a Moçambique em 1973, para o mesmo tipo de operações, no Alto dos Macondes:
-"Foi o pior sítio onde estive. Aterrávamos em zonas de conflito, em pleno mato ou aquartelamentos. Quando chegávamos raramente ouvíamos tiros, porque já tinham feito a limpeza. Mas, numa guerra, tudo é inesperado e a qualquer momento podia acontecer qualquer coisa." Para a enfermeira, há um grupo de militares que tem todas as razões para estar traumatizado: -"Os que tinham de pegar nos mortos ou feridos extremamente esfacelados e levá-los para a retaguarda enquanto o homem do rádio pedia socorro." O cenário onde Rosa Serra aterrava de helicóptero era a pouca distância de onde havia os conflitos: -"Ouvia-se os bombardeiros, o helicanhão e os caças enquanto tratávamos dos feridos, que eram trazidos em unimogs ou às costas." O balanço dos mortos é grande: -"Muitos. Amigos e inimigos; civis e mulheres." Se medicava portugueses, também o fazia com inimigos: "Um deles, na Guiné, causou mais burburinho quando cheguei ao hospital porque era um chefe da guerrilha."
Não esquece aquilo que os soldados feridos evocavam:
-"Sempre pela mãe. Quando trazia alguns mortos, fazia algumas preces e ficava com problemas de consciência se me tivesse esquecido de rezar por algum. Pedia a Deus que confortasse as famílias quando soubessem o que acontecera àquele filho, marido ou namorado. Eu acho que eram corajosos, mesmo que se lamentassem mais do que os negros - que não davam um "ai" - com a dor.
Diziam: 'Meu Deus, quando a minha mãe souber que perdi uma perna!'."
texto CM e DN.

quinta-feira, 3 de março de 2022

A GUERRA E OS RAPAZES!



Decorria o ano de 1971!
Portugal travava em África a sua última guerra!
Em Angola, Moçambique e Guiné os mais novos filhos da pátria, batiam-se para garantir a soberania portuguesa nos territórios atrás referidos.
Foram os melhores de nós que de barco ou avião partiram e chegaram à guerra!
A maior parte não sabia bem o que lhes estava reservado, desconhecendo também a razão ou razões de tão longa viagem.
Ao signatário aconteceu exatamente o atrás referido!
Carregado num avião DC6 versão cargueiro, lá foi no meio da carga com destino a Moçambique, aterrando depois de várias peripécias em Lourenço Marques.
Oito dias passados eis o novo destino!

Tete, norte de Moçambique, onde a guerra estava ao rubro!
Colocado numa esquadra de helicópteros (703, Vampiros), pronto para ali servir em todas as circunstâncias, em nome de Portugal.
Decorria ao tempo no rio Zambeze, o maior empreendimento hidroelétrico da África Austral, a barragem de Cabora Bassa, considerada a mais emblemática obra do “estado novo”, e a maior obra do género da África Austral.
Gorada que foi a operação “Nó Górdio”, planeada e executada por Kaúlza de Arriaga, os guerrilheiros da Frelimo, atravessaram o rio Rovuma, e instalaram-se no distrito de Tete, tentando a partir dali evitar com ações múltiplas a construção da já citada barragem de Cabora Bassa.
Tudo foram fazendo para evitar a construção, sabotando para além de outras coisas a chegada dos vários materiais necessários, mormente os transportados via-férrea caminho de ferro de Benguela.
Os comboios passaram a ser atacados através da colocação de minas, acionadas manualmente através de um simples cordel, que deixava na via, comboios e mercadorias em perfeito estado de imobilização.
Os guerrilheiros colocavam as minas na via, muito próximo da fronteira do Malawi, puxando o cordel na máquina do comboio, ou noutra parte do mesmo comboio.
Feito o acionamento, fugiam para o Malawi, onde ficavam protegidos, pese embora o bom relacionamento entre o presidente Banda e o primeiro-ministro português, Marcelo Caetano.


Interrompiam deste modo a chegada dos materiais à pequena vila de Songo, contribuindo deste modo para o atraso da construção da barragem.
Face ao que atrás referi, foi decidido colocar a bordo do comboio uma equipa de pisteiros de combate, formados na bonita cidade Moçambicana de Vila Pery, que após rebentamento da mina, tinham como objetivo seguir os guerrilheiros, que invariavelmente se refugiavam no Malawi, bem próximo da linha de fronteira.
Complementando este sistema de perseguição dos guerrilheiros, foi colocado em Caldas Xavier, uma pequena vila ferroviária (Entroncamento local), um helicóptero ALIII, armado com um canhão de 20mm de tiro rápido no compartimento de carga, sendo a sua munição de uma eficácia extraordinária, que tinha como função o abate e captura dos colocadores das minas.
Como quase sempre os guerrilheiros fugiam para o Malawi, a paciência começou a esgotar-se e até o próprio helicóptero queria entrar, e entrou várias vezes com os efeitos que se imaginam.
Com 20 anos tive esta poderosa arma nas mãos, e ainda hoje não consigo esquecer a ligação perigosa que tive com ela.
COISAS DE RAPAZES!
Por: Luís Faria Costa