quinta-feira, 30 de novembro de 2023

GONÇALO LOBATO

6/6/1935 - Destroços do acidente do piloto Gonçalves Lobato

Para quem não sabe a origem do nome do Aeródromo Gonçalves Lobato, em Viseu, tem aqui a história deste grande pioneiro da aviação portuguesa.

António GONÇALVES LOBATO, Militar, nasceu em Lisboa, a 05-04-1909, e faleceu em Viseu, a 06-06-1935. Depois de frequentar o Ensino Comercial, assentou praça como voluntário na Aviação em 1927.
Primeiro-Sargento Mecânico da Aeronáutica Militar (actual Força Aérea Portuguesa). Antes de acompanhar Humberto da Cruz, na viagem de 1934, estivera nos Estados Unidos da América com Plácido de Abreu, e noutros países europeus com outros Aviadores Portugueses.
Humberto da Cruz escolhera-o como companheiro de viagem devido à sua competência, ao seu carácter alegre, aos seus aspectos morais, à sua correcção, aprumo e camaradagem.
Trabalhou como mecânico na Força Aérea Portuguesa, tendo atingido o posto de primeiro-sargento. Em 1931, viajou até à Alemanha e Suécia no avião Lisboa, em conjunto com o major António Maia, o capitão Amado da Cunha e o tenente-coronel Ribeiro da Fonseca, em missões de estudo para os Serviços Aéreos Portugueses.
Acompanhou o tenente Plácido António da Cunha Abreu numa viagem até aos Estados Unidos da América, a bordo do avião Foguete. Também participou, com o tenente Humberto Amaral da Cruz, no Raid Aéreo Lisboa - Timor - Lisboa, em 1934.
Faleceu em 6 de Junho de 1935, num acidente durante o II Rally Aéreo de Portugal. Nesse dia, descolou de Viseu às 6 horas da manhã com o tenente Tovar de Faro, e aterrou em Espinho às 9h15, tendo de seguida voltado para Viseu. No entanto, quando tentavam aterrar no campo de aviação da Muna, em Viseu, por volta das 10h30, o avião capotou, ficando quase totalmente destruído. Com a ajuda das pessoas no local, o tenente Tovar de Faro conseguiu sair dos destroços, tendo depois sido retirado o corpo do sargento António Lobato. Foram ambos levados por automóvel até ao Hospital de Viseu, onde António Lobato chegou já morto, com todas as costelas fracturadas, enquanto que o tenente Tovar de Faro ficou gravemente ferido. Às 16h30, o corpo foi transportado para a Câmara Municipal de Viseu, num cortejo fúnebre onde participaram muitos populares e as entidades oficiais. O funeral realizou-se no dia seguinte, ficando o corpo depositado no cemitério de Viseu até ser transladado para Lisboa, após as festas da cidade.
Na altura do seu falecimento, tinha 25 anos de idade, e estava noivo.
Aeródromo Gonçalves Lobato - Viseu


"Dos fracos não reza a história."

quinta-feira, 23 de novembro de 2023

O PENSADOR TCHOKWE


Este Pensador foi concebido simetricamente, com a face ligeiramente inclinada para baixo para exprimir um subjectivismo intencional. 
Na sua filosofia, os Idosos ocupam um estatuto privilegiado: A sabedoria, a experiência de longos anos e o conhecimento dos segredos da Vida!...                                                        
E, pensando em nós que, em tudo o que o Pensador exprime é verdade, recuemos ao passado, a Angola, ao Leste dos Tchokwé´s e, trilhemos a nossa Vida, Experiência adquirida pelos anos fora, Sabedoria e…ainda com grandes segredos por desvendar!...
Na partida, sentimos uma saudade que em versos aqui se retrata: A nossa Majestosa esteve sempre presente connosco e ainda dá sinais da sua existência. Sentiu e ainda sente tudo aquilo que se passa em seu redor. Está viva, como nós vivemos a alegria deste 47º. Encontro.

Quando a noite veste de sombras o mundo
E o silêncio me desperta a solidão
Verto lágrimas e o meu sofrer é profundo
Põe-me louco de saudade o coração.

Quando penso que lá longe ela me espera,
Ansiando pelo dia da chegada,
Grito a Deus, que minha alma desespera,
Grito a Deus, mas o silêncio não diz nada.

Quando os pássaros saudando a madrugada
Me despertam para a guerra uma vez mais
Sinto o peso desta vida amargurada
Sinto ódio às minhas "asas" infernais.

Oh ! Henrique de Carvalho, meu desterro,
Que por dois anos me farás teu prisioneiro,
 Se eu morrer quero bem longe o meu enterro,
 Quero ser da paz eterno companheiro.

 Rocha Marques – AB4 - 1969

E O PENSADOR OBSERVA O NOSSO, REGRESSO!...



OS ANOS PASSAM…
As nossas vidas refazem-se e, sobrevivendo, eis-nos presentes neste Convívio, em Argomil. Surge a Esperança de voltarmos a reviver a nossa infância. A voz do Comandante João Pinto vibra e, a luz renasce!










AS JANELAS DESTE ENCONTRO, ABREM-SE!...



NA DESPEDIDA, COME-SE O BOLO




E…RECOLHEM-SE AS BANDEIRAS



ESTAMOS TODOS GRATOS AO SIMÃO CABRAL
SAUDAÇÕES AOS PRESENTES E AUSENTES
ATÉ PR´Ó ANO!...



Texto de V. Oliveira – 17/11/23



quinta-feira, 9 de novembro de 2023

GENERAL ANACORETA ALMEIDA VIANA

Inauguração do Clube de Especialistas, Gen. Anacoreta Viana comandante da 2ª. RA discursando, em 2º plano o Comandante Ten. Cor. Manuel Andrade Fernandes - Foto de Mário Mendes


Foi como aluno piloto que conheci, pela primeira vez, o Ten. Almeida Viana. Não era instrutor dos pilotos mas, dava aulas de Tecnologia, aos alunos mecânicos.
Mais tarde, voltei a encontrá-lo na qualidade de Director da Aeronáutica Civil, ao tirar o Certificado de Piloto Comercial.
Quando fui colocado em Angola (Out 1966) o Comandante da 2ª Região Aérea era, precisamente, o Gen. Almeida Viana.
A sua especialidade principal era Engenheiro Aeronáutico mas, também, piloto. Devido aos variados cargos como Engenheiro, a última função, como piloto, nunca a desempenhou em permanência.
Contudo, gostava de se sentar aos comandos mas, atendendo à idade e falta de experiência, pilotava mas sempre acompanhado.
Na altura, na Base, só havia um único piloto a voar C-45 Beechcraft, sendo necessário qualificar mais algum. Fomos nomeados dois pilotos para esse fim. Fizemos os voos de Adaptação considerados necessários e largados.
Logo depois comecei a ser nomeado para acompanhar o General. Ele fez-me uma “dissertação” em que reiterava a sua qualidade de piloto mas, inexperiente e já “velho” como dizia, mas exigia que em caso de necessidade eu é que era o responsável. Tinha de o corrigir quando necessário.
Assim, pouco depois, num voo de regresso de Cabinda, ao aterrar em Luanda, bate com o trem no chão e vamos para o ar numa posição um tanto ou quanto anormal. Reagi de imediato, tomei os comandos, reponho o avião a voar junto ao solo e, entrego-lhe o avião. Aterrou de seguida e bem. No vestiário volta-se para mim e diz: acerca da aterragem, fez muito bem, é para isso que quero um piloto experiente. Não sabia mas tinha acabado de passar num teste.
Foi por causa desta aterragem que ficou definitivamente a voar comigo. Quando precisava de sair, telefonava-me para saber da minha disponibilidade pois não queria estragar as outras minhas missões. Quando eu estava ausente chegava a aguardar a minha chegada para efectuar as suas saídas.
Entretanto, ainda em 1967, o General é nomeado Comandante-Chefe.
Inicialmente, os voos eram efectuados com o General, eu, o mecânico e o Ajudante de Campo mas, ao fim de pouco tempo, dispensou o Aj. de Campo. Na prática fiquei eu a substituí-lo. Para enfatizar disse-me: a partir de agora andará sempre comigo, vai para onde eu for.
Nesta fase, ainda não me tinha apercebido da profundidade daquele conceito.
Pouco depois, como disse, já na qualidade de Comandante-Chefe foi efectuar uma visita ao Governador da Lunda (na altura Maj. Soares Carneiro, mais tarde General que concorreu a Presidente da Republica), daí termos ido a Henrique de Carvalho. Aterramos eram quase 12 h. O Gen. seguiu nas viaturas da comitiva e, eu fiquei na Base. Almocei e estava a beber o café após o almoço. Toca o telefone – era o “nosso” general, a dizer-me: “então Mestre, estamos à sua espera para almoçar”.
Gaguejei… “mas, acabei de almoçar… e… sim meu general”.
“Já mandei uma viatura para o trazer”.
Tinha acabado de ser posto na “ordem” quase definitivamente.
Ao chegar à residência do Governador, cumprimentando as entidades apresentei as minhas desculpas pelo atraso – tinha estado a aprontar o avião (desculpa).
À mesa (8 pessoas) como se compreenderá, estava com fastio – tinha acabado de almoçar. Aí o “meu” general diz: Ó “Mestre” está mal disposto ou com fastio?
Compreendi que me tinha acrescentado mais uma lição. Não esqueci.
Enchi-me de coragem e virando-me para a anfitriã, pedi desculpas pela minha atitude e, pela minha falha perante as instruções dadas pelo meu chefe. Muito bem. Acharam graça, com especial relevo, para a minha franqueza.
Nunca mais deixei de o acompanhar, até em situações muito delicadas do ponto de vista militar. Não querendo identificar vou dar um exemplo.
Um chefe militar (brigadeiro) recém-chegado a Angola permitiu-se fazer algumas considerações depreciativas dos comandos.
O “general” foi-lhe fazer uma visita surpresa. Conseguimos entrar na Sala do Comando sem sermos detectados. Aí, começou uma “cena”. Sentindo que estava a mais comecei a recuar para a porta para abandonar a Sala. Eu era um simples Capitão e estavam a admoestar um Brigadeiro à minha frente. O General reparou e obrigou-me a ficar…
Normalmente, o General, equipava-se com uma combinação de voo em camuflado mas sem insígnias e, ao apresentar-se para quem o não conhecia, dizia: “Alf. Velho”.
Um dia fomos ao Camaxilo, AM42 destacamento do AB4. Após pararmos o avião, aparece um jeep com um alferes a apresentar-nos cumprimentos e dar-nos transporte. Claro, o General, apresentou-se como: Alf. Velho. Fomos para o bar. O alferes ofereceu-se para nos servirem qualquer coisa e… “meu capitão para aqui, alferes para ali”, enquanto se aguardava a chegada do Comandante (Ten. Cor). Quando este chegou apresentando-se com uma valente continência, dizendo: “muito prazer em vê-lo meu General”. O alferes abriu a boca de espanto e… pediu desculpa pela ignorância. Tudo bem. Foi um momento de descontracção.
Seguiram-se muitas e variadas saídas por toda a Angola.
Já contei noutro local uma viagem a “Terras do Fim do Mundo” – Coutada do Mucusso, junto à fronteira da Namíbia.
Como foi no Fim de Ano, a missão principal era confraternizar com o pessoal mais isolado de Angola. Connosco seguia um convidado especial, o Vice-Reitor da Universidade de Lourenço Marques amigo do general.
Jantamos com os soldados e ficamos até cerca das 3 da manhã em amena cavaqueira. O general tinha um jeito especial para lidar com as pessoas. No dia seguinte visitamos Luengue, Vila Nova de Armada, Cuito Canavale e paramos para visitar a guarnição de Gago Coutinho. Aí esperava-nos um almoço especial mas, o General quis, primeiro, fazer uma visita à Unidade. Passamos pelo Refeitório dos soldados, em pleno almoço – uma bela feijoada. Pretendendo dar uma lição de simplicidade, mete conversa com alguns soldados, gaba o almoço e virando-se para o Comandante do Batalhão pergunta se pode partilhar do almoço com o pessoal. A resposta só poderia ser uma. Lá nos sentamos em agradável convívio. Saiu de lá com um elevado capital de simpatia mas, das classes baixas porque, os outros não gostaram.
Foto com dedicatória
Houve algumas missões muito especiais e até secretas, como por exemplo, uma Reunião no Palácio do Governador em Serpa Pinto com o Ministro da Defesa da África do Sul, e mais 2 entidades com altos postos para negociações quanto a apoios militares da África do Sul. Estive sempre presente, as conversações foram em inglês (levamos um tradutor – oficial da Armada) mas esforcei-me para não querer saber pormenores.
Também recordo o último voo que fizemos. Já de noite de regresso de Silva Porto para Luanda. Expressou-me a sua nostalgia e o desgosto por ter de regressar a Lisboa.
Tinha caído em desgraça perante a capital. Pouco tempo antes as forças vivas locais prestaram-lhe uma grandiosa homenagem. Isto assustou Lisboa. Tiveram medo duma Declaração de Independência.
Para a sua exoneração serviu de desculpa o ataque ao Caminho de Ferro em Nova Lisboa.
Infelizmente já faleceu.
Tenho imensa honra e ficarei infinitamente grato pela confiança que em mim depositou. – Obrigado General Almeida Viana

Cap. Fernando Moutinho