quinta-feira, 3 de março de 2022

A GUERRA E OS RAPAZES!



Decorria o ano de 1971!
Portugal travava em África a sua última guerra!
Em Angola, Moçambique e Guiné os mais novos filhos da pátria, batiam-se para garantir a soberania portuguesa nos territórios atrás referidos.
Foram os melhores de nós que de barco ou avião partiram e chegaram à guerra!
A maior parte não sabia bem o que lhes estava reservado, desconhecendo também a razão ou razões de tão longa viagem.
Ao signatário aconteceu exatamente o atrás referido!
Carregado num avião DC6 versão cargueiro, lá foi no meio da carga com destino a Moçambique, aterrando depois de várias peripécias em Lourenço Marques.
Oito dias passados eis o novo destino!

Tete, norte de Moçambique, onde a guerra estava ao rubro!
Colocado numa esquadra de helicópteros (703, Vampiros), pronto para ali servir em todas as circunstâncias, em nome de Portugal.
Decorria ao tempo no rio Zambeze, o maior empreendimento hidroelétrico da África Austral, a barragem de Cabora Bassa, considerada a mais emblemática obra do “estado novo”, e a maior obra do género da África Austral.
Gorada que foi a operação “Nó Górdio”, planeada e executada por Kaúlza de Arriaga, os guerrilheiros da Frelimo, atravessaram o rio Rovuma, e instalaram-se no distrito de Tete, tentando a partir dali evitar com ações múltiplas a construção da já citada barragem de Cabora Bassa.
Tudo foram fazendo para evitar a construção, sabotando para além de outras coisas a chegada dos vários materiais necessários, mormente os transportados via-férrea caminho de ferro de Benguela.
Os comboios passaram a ser atacados através da colocação de minas, acionadas manualmente através de um simples cordel, que deixava na via, comboios e mercadorias em perfeito estado de imobilização.
Os guerrilheiros colocavam as minas na via, muito próximo da fronteira do Malawi, puxando o cordel na máquina do comboio, ou noutra parte do mesmo comboio.
Feito o acionamento, fugiam para o Malawi, onde ficavam protegidos, pese embora o bom relacionamento entre o presidente Banda e o primeiro-ministro português, Marcelo Caetano.


Interrompiam deste modo a chegada dos materiais à pequena vila de Songo, contribuindo deste modo para o atraso da construção da barragem.
Face ao que atrás referi, foi decidido colocar a bordo do comboio uma equipa de pisteiros de combate, formados na bonita cidade Moçambicana de Vila Pery, que após rebentamento da mina, tinham como objetivo seguir os guerrilheiros, que invariavelmente se refugiavam no Malawi, bem próximo da linha de fronteira.
Complementando este sistema de perseguição dos guerrilheiros, foi colocado em Caldas Xavier, uma pequena vila ferroviária (Entroncamento local), um helicóptero ALIII, armado com um canhão de 20mm de tiro rápido no compartimento de carga, sendo a sua munição de uma eficácia extraordinária, que tinha como função o abate e captura dos colocadores das minas.
Como quase sempre os guerrilheiros fugiam para o Malawi, a paciência começou a esgotar-se e até o próprio helicóptero queria entrar, e entrou várias vezes com os efeitos que se imaginam.
Com 20 anos tive esta poderosa arma nas mãos, e ainda hoje não consigo esquecer a ligação perigosa que tive com ela.
COISAS DE RAPAZES!
Por: Luís Faria Costa

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