Messes dos especialistas, oficiais e sargentos, vista da torre de control |
Quando cheguei ao AB4 em Outubro de 1970, estava instalado o “orientanço” (para não utilizar outro termo) generalizado.
O 2º. Cmd. Major Ladeiras, era tão só o "administrador" da cerâmica, da agro-pecuária, dos combustíveis e das messes. Ele voava pouco, até pela inerência do comando e pelo se constava mal, logo era razoável ter outras "girências", nomeadamente o famoso “saco azul”.
Mas estava a dizer, chego ao AB4 ido da "estância" GDACI/Montejunto e constato que no que respeitava a alimentação e condições das várias messes, era uma miséria.
Estávamos a mais de 1.000Km do mar, mas graças a Deus, peixinho era uma coisa que nunca faltava.
A carga do Nord bissemanal, era essencialmente constituída por caixas do dito. Bom, então peixinho e 365 (arroz) era a "dieta" quase diária!
Ao domingo, dizia-me na primeira semana o Manuel Ramalho (do meu curso e quase há um ano no AB4), havia frango com 365 e batata frita ! Mas convém dizer, que do dito frango, ao refeitório dos especialistas só chegavam as asas (a que chamávamos brevets) e as patas.
Bifes, costeletas (apesar de termos porcos na agro-pecuária) era coisa rara, só para dias de festa. Fruta idem, quem quisesse, que comprasse no bar as latas sul-africanas, bem boas e, que serviram muitas vezes com as de atum, salsichas e sardinha, para apaziguar a larica.
Quem eram os "girentes" das messes? O Ten. Brito e Cunha e o Sgt. Pára José Carneiro, que por ser bom moço tinha sido despachado para o SG do AB4.
Não se pense que isto se passava apenas na nossa messe, não, a situação era generalizada.
O que é que este mal estar originava?
Tinha poucos dias de HC e ao jantar foi mais uma de chaputa cozida (?), uma cabeça enchia o prato e era uso pô-la ao alto com um cigarro na boca (nos queixos)!
Nesse dia, alguém dos mais velhos diz: ninguém janta, o que aliás não era difícil de cumprir.
O Sgt. da messe, o tal pára, estava na cozinha, estava de sargento de dia e ao aperceber-se da "rebelião", avançou pelo postigo para a sala, exigindo aos berros que o pessoal comesse ! Claro que a malta não ligou patavina e abandonou a sala ficando ele aos berros tendo chegado a puxar da arma na tentativa de se fazer obedecer.
Olha com quem ! Naquele tempo ?! Ele que metesse a arma no cú ! Ninguém comeu.
Neste período várias situações similares de contestação ocorreram, como aquando da visita do "Vison Voador" e do secretário de estado, ou governador geral (?), mas estas "manifestações" nunca surtiram melhorias.
Visitas em massa ao posto médico, como forma de fazer sentir o nosso descontentamento, solicitando vitaminas, passividade no trabalho por alegada debilidade física , tudo foi utilizado.
Em princípios de 1971, o Comt. Ladeiras cometeu o erro crasso de nomear para a gerência das messes o Cap. Amarino Pereira, um bom e honesto oficial do quadro, da especialidade de Abastecimento.
Ele próprio nos dizia que não percebia nada do assunto, mas enfrentava o desafio. Era a nossa esperança !
Um dos seus primeiros actos foi comprar um livro de culinária !
Depois, adquiriu para as cozinhas equipamentos universais de restauração que não existiam, comprou toalhas, talheres e louças (as celebres “pirex”) que não havia em quantidade suficiente. Pelo mesma razão mandou fazer, nas oficinas da Base, mobiliário, mesas e cadeiras. E começou a funcionar .
A primeira grande surpresa; afixação no clube, da ementa do dia e a do dia seguinte. A ementa contemplava, sopa, prato de dieta, prato de peixe ou carne, sobremesa (até gelado chegou a mandar vir da cidade !) e bebidas. Tudo de alta qualidade e bem servido. As ementas dificilmente se repetiam, antes de decorridos quinze dias .A partir daqui, as messes passaram a restaurantes do AB4, pessoal que comia na cidade, principalmente sargentos e oficiais, passaram a utentes assíduos, até ao fim de semana.
Claro que o Comt. Ladeiras, ao ver este ”desvario” ficou preocupado … via as receitas desta área acabarem e decide convocar o Cap. Amarino ao comando.
Claro que o Comt. Ladeiras, ao ver este ”desvario” ficou preocupado … via as receitas desta área acabarem e decide convocar o Cap. Amarino ao comando.
Contou-nos ele mais tarde, da preocupação do comandante, em que as verbas não chegassem, e que ele Amarino tivesse de suportar do seu bolso os “prejuízos” inerentes. A resposta foi lapidar: senhor comandante, não tenho intenção que tal aconteça…se há coisa que sei fazer são contas…lhe garanto, que não espero pôr um único escudo do meu bolso e a verba que me é atribuída para alimentação do pessoal, será gasta na sua totalidade para o efeito.
Não esqueço, quando acabou a sua “missão” e o pessoal do SG e não só, pretendeu passeá-lo em ombros, tal a admiração e reconhecimento que mereceu a sua gerência.
Não esqueço, quando acabou a sua “missão” e o pessoal do SG e não só, pretendeu passeá-lo em ombros, tal a admiração e reconhecimento que mereceu a sua gerência.
Havia
pessoal na FAP com muita categoria, o Cap. Amarino Fonseca Pereira, foi um
deles.
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ResponderEliminarCá está um bom exemplo de que os Homens são o que decidem ser.
ResponderEliminarProcuro Vitor Manuel Martins furriel que vivia na Messe de Sargentos em Luanda em 1967
ResponderEliminarPassei tão pouco tempo no AB4, sempre destacado, que sinceramente nem me lembro da qualidade da comida da messe. Gostei da explanação....
ResponderEliminarAdorei ! O título diz tudo ! Havia Pessoal na F. A. P. com muita categoria ! Bem haja Capitão Amarino Pereira ! Respeitosos cumprimentos , 1º Cabo P. A. 214/73 Silva
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