Em finais de 1971, fui para o Luso cumprir o meu segundo destacamento, na altura, não existiam ainda instalações para o pessoal, cada um desenrascava-se como podia, normalmente indo ocupar o lugar do substituído onde e com quem ele vivesse.
As refeições eram tomadas num restaurante civil, (a Pensão Nobre) sendo o pessoal “arrebanhado” por um transporte militar (quando se vivia em sítios mais ou menos dentro do limite da cidade) era o salve-se quem puder, com o poder de desenrasque Português a imperar sobre a anarquia da organização militar.
Existiam pontos de embarque, no Luso Hotel, onde viviam os Oficiais dos três ramos das Forças Armadas, e alguns furriéis pilotos, na República dos Saltimbancos, e o resto da canalha, esperava ou na pastelaria, ou na berma da estrada e apanhava boleia onde mais lhe convinha.
Existiam pontos de embarque, no Luso Hotel, onde viviam os Oficiais dos três ramos das Forças Armadas, e alguns furriéis pilotos, na República dos Saltimbancos, e o resto da canalha, esperava ou na pastelaria, ou na berma da estrada e apanhava boleia onde mais lhe convinha.
Neste contexto a República dos TÁ-RI-RÁ-RIS, foi criada pela necessidade de suprir a falta de alojamento para os Operadores de Comunicações, que com a criação do Sector Aéreo do Leste de Angola, (SECARLESTE), foram sendo sucessiva e permanentemente colocados no AM-44, (LUSO), acabando com a situação de destacamentos a partir do AB4, e aumentando substancialmente o efectivo sem que houvessem para tal instalações apropriadas para o efeito.
Edifício da República |
Quando “aterrei” no Luso, existiam dois cubículos só com uma porta, sem luz ou água potável, nas traseiras do Luso Hotel, onde a título excepcional e de forma mais ou menos clandestina, dormiam parte dos operadores que mantinham no ar 24 horas por dia o posto de rádio existente, (primeiro de forma provisória numa viatura móvel, e posteriormente nas instalações do hangar existente no aeroporto) mas numa área militar que foi crescendo com o desenvolvimento da própria luta armada e o seu consequente deslocamento para Leste; para além destas duas “arrecadações”, existiam ainda outros locais dispersos inclusive pelas sanzalas em torno do aeroporto, o que tornava por vezes impraticável, a localização do pessoal de serviço por não existir uma morada fixa para o mesmo, nem forma expedita de o contactar.
Tentei desde a primeira hora mobilizar os Operadores “residentes”, para a vantagem de existir um espaço fixo com condições de salubridade suficientes para poder albergar todos os OPC’S, evitando as situações existentes de ninguém ter um local para deixar os parcos haveres, tomar um banho, fazer uma refeição, ou simplesmente um espaço onde nos pudéssemos encontrar para conversar ou fazer o que nos apetecesse, mas embora todos estivessem de acordo ninguém se voluntariou para assumir qualquer responsabilidade quanto ao facto.
Entretanto foi criado o SECARLESTE, e como a minha relação com as chefias de Carvalho não era a mais “coloquial” fui por minha expressa vontade, o primeiro Especialista de Comunicações a integrar o quadro permanente de pessoal do AM-44.O núcleo fundador da República, foi composto essencialmente por operadores da primeira incorporação de 1970, o autor, Martins, Costa, Cardoso, Zé Galo, Gomes, Vilhete, a que se foram juntando outros de outras incorporações como o Moutinho, Vaz, Pina, Gesaro, Neves, Abreu, Casaca, Fernandes, Timóteo, só para citar os que de forma mais ou menos permanente passaram pela República.
O nome de baptismo resultou da “decomposição onomatopeica” da Lêtra “C” de Comunicações, em código Morse, composta por uma sequência de “traços” TÁ ou RÁ e “pontos” RI ou plural RIS, resultando no compósito: TÁ-RI-RÁ-RIS, ou seja os (CÊS) para leigos. Como outras Repúblicas, tinha um regulamento, corpos gerentes e um distintivo, ou crachá, constituído por um boneco representando um cabo especialista OPC, a transmitir com uma chave de Morse. O número de ocupantes, estava condicionado pelas dimensões do próprio edifício, mas variava consoante a necessidade de alojamento.
O seu apogeu deu-se nos anos de 1972 e 1973, antes da inauguração do selfservice, e da implantação das novas camaratas no perímetro militar do aeródromo, a partir dessa data, alguns dos residentes recém chegados começaram a questionar a necessidade de manter uma casa na cidade, com as despesas inerentes, quando as instalações militares ofereciam já boas condições; prevaleceu a opinião dos fundadores, relutantes em abandonar um local neutro onde cada um podia ter o seu espaço, e conviver com outros militares de outras especialidades, ou civis que também frequentavam a República, e que era o oásis retemperador, por comparação com os “buracos” que constituíam os destacamentos do Leste de Angola, e cito: Neriquinha (o buraco do cu do mundo) único destacamento conhecido em que a guarnição era composta por dois especialistas, um OPC e um MRádio, Cuito Cuanaval, Gago Coutinho ou o Cazombo.
Por:
OPC ACO
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