Encontrámo-nos pela primeira vez na Ota nos primeiros dias de Janeiro de 1970, para as inspeções de admissão aos cursos de Especialistas, depois de já não nos vermos desde o final de 1964, quando acabámos o quarto ano do curso na Escola Industrial de Torres Novas.
Base da Ota |
O Joaquim Domingos Caixinha Monteiro assim se chamava, era fisicamente uma fraca figura, mas tinha um génio capaz de mover o Mundo, e como de “génio e de louco , todos nós temos um pouco” o Domingos assim lhe chamava, tinha tudo dos dois.
Na escola primária, espetou uma caneta de aparo pregando a mão do colega na carteira, outra vez foi à farmácia pedir glicerina e quando o farmacêutico lhe perguntou para que a queria ele, o bom do Domingos retorquiu todo entusiasmado que era para fazer nitroglicerina, para ir à pesca!!!
Outro dos motivos que o levavam a não passar despercebido, era a sua capacidade de comer tudo o que apanha-se à mão, nunca se vislumbrando onde conseguia meter tanta comida, pois era seco de carnes e não se lhe adivinhava um pingo de gordura.
Tudo isto vem a propósito, da alcunha que lhe foi im posta, pelo pessoal do nosso pelotão, “O Bandarra” por ele contar histórias mirabolantes que ninguém acreditava que fossem verdadeiras, como nos tinham sido atribuídos os números 90/70 e 96/70, pertencíamos ao 3º pelotão e normalmente ficávamos na mesma mesa no refeitório, o bom do Domingos estava sempre a “engendrar” maneiras para conseguir comer mais um pouco, e não interessava o tipo ou a qualidade da comida, o estado normal dele era “morto de fome”, um dia, a refeição era composta por arroz de tomate com pastéis de bacalhau, feita a aposta, numa mesa de doze, ele comeu: primeiro a terrina de sopa, o pão, e quatro travessas de arroz, com os respectivos 36 pastéis de bacalhau, mais a fruta, de seguida fomos todos para o bar pois ninguém comera, e ele ainda comeu dois pastéis de feijão para empurrar a bica.
Alunos |
Quando chegou a hora de escolher a especialidade, apostou que
conseguia convencer 90 recrutas a irem para Operadores de
Comunicações e ganhou a aposta, depois foi um dos muitos que
desistiu, dos 90 chegaram pouco mais de 10 ao final do Curso. Numa noite
de instrução noturna o Domingos desapareceu, tinha adormecido e quando
acordou já toda a gente se tinha vindo embora, resolveu
atalhar para não ser apanhado e acabou por aparecer com uma
saca de pão quente e uma embalagem de margarina que tinha ganho numa aposta na padaria, era este fura-vidas, que resolveu no final da recruta fazer uma aposta com toda a caserna...
nas férias iria ao Algarve e voltaria com mais dinheiro com
que saísse da OTA, as apostas subiram a um montante que nem
ele com toda a sua lábia conseguia garantir, não sei como o
Capitão da recruta bancou a aposta, e numa sexta-feira lá
partimos eu e o “bandarra” rumo ao Sul para gozarmos uma
semana no Algarve, à custa dos crentes que tinham avançado o
dinheiro.
Ilha de Faro |
Levávamos moradas de vários camaradas nossos no Algarve, onde esperávamos obter alguma ajuda se necessário. Passado o cacilheiro caminhámos pela N10 até arranjarmos uma sombra onde nos sentámos a descansar, fizemos as contas ao dinheiro e pelos dois tínhamos cinquenta e dois Escudos para uma semana de farra.
Portimão |
Seria fastidioso contar todas as peripécias por que passámos, mas em 1970, dois marmanjos com o cabelo rapado, vestidos com casacos e chapéu Colonial não passavam despercebidos em lado nenhum, estivemos acampados no ilha de Faro onde conhecemos um piloto Alemão destacado em Beja, com duas filhas
loiras, um barco enorme, onde fizemos ski aquático e tiro aos mergulhões. Passámos uma noite na quinta do Lago, ainda em construção, fomos à inauguração da discoteca sete e meio em Albufeira, onde fizemos furor com a farpela, dormimos na pousada do INATEL, passámos por Portimão e visitámos a família de um camarada nosso que o Pai era encarregado de uma fábrica de conservas e nos reabasteceu as mochilas, fomos a Lagos e a Sagres, e no último dia de férias.
loiras, um barco enorme, onde fizemos ski aquático e tiro aos mergulhões. Passámos uma noite na quinta do Lago, ainda em construção, fomos à inauguração da discoteca sete e meio em Albufeira, onde fizemos furor com a farpela, dormimos na pousada do INATEL, passámos por Portimão e visitámos a família de um camarada nosso que o Pai era encarregado de uma fábrica de conservas e nos reabasteceu as mochilas, fomos a Lagos e a Sagres, e no último dia de férias.
Com a família do nosso camarada |
Tínhamos
tanto dinheiro que resolvemos vir directamente de comboio, para encontrarmos uma infeliz algarvia, que ia para Paris, com várias
malas com o enxoval para se casar com um homem que ela nem
conhecia, mas a que os pais a tinham prometido, fizemos a viagem no mesmo compartimento, em Tunes, se não fôssemos nós teria perdido metade do enxoval na mudança do comboio, e quando a confrontámos com as mudanças que teria que fazer na travessia de barco do Barreiro para chegar a Santa Apolónia, aí é que ela percebeu no imbróglio em que a tinham enfiado. Comemos do farnel que ela levava, carregámos-lhe as malas até ao cais de embarque, mas na hora de nos despedirmos dela não nos contivemos a explicar-lhe que ninguém a podia obrigar a ir ao encontro de um homem muito mais velho que ela nem conhecia, e que o mais sensato seria ela procurar alguém amigo, ficar por Lisboa, vender as tralhas que trazia e juntar o que obtivesse ao dinheiro que os pais lhe tinham dado e seguir com a vida dela como muito bem entendesse, até hoje não sei se ela embarcou ou não.
Chegámos à Ota na última hora do prazo estabelecido, contado o dinheiro, ganhámos a aposta, mas o resultado só foi confirmado com os testemunhos do Zé de Portimão, e dos outros com quem nos encontrámos.
Até hoje nunca mais soube do Bandarra, espero que ele leia esta historieta e dê a cara, e o testemunho do que nos divertimos.
Por:
OPC ACO
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