sexta-feira, 2 de agosto de 2013

CACIMBADOS DO CAZOMBO


Eram dois bons companheiros do Norte, tripeiros de gema: sei que trazer esta história a público, identificando-os pelos próprios nomes, não os molesto em nada. Conhecedor que sou, dos seus humildes, mas nobres sentimentos, nunca me levariam a mal. Prefiro no entanto tratá-los por Zé Tó e Tó Zé, pois espicaço a vossa curiosidade para tentar identificá-los. Não andam por estes lados do FB, mas o Antonino já me deu os seus contactos. Quero um dia abraçá-los com aquele abraço que só os cazombeiros sabem dar. Cazombo, Julho de 72.

Depois do almoço e não tendo qualquer voo previsto, resolvi fazer uma “siesta” no alojamento reservado aos pilotos. Quem conheceu, deve lembrar-se que havia umas pequenas janelas altas, protegidas com rede anti-melga. Nas traseiras havia três , quatro cadeiras de esplanada, onde a malta se sentava a beber uma“cervejolas” e cavaquear um pouco. Enquanto passava pelas brasas, ia escutando a conversa entre os dois companheiros que referi.
Tó Zé:- tens umas botas porreiras pá!
Zé Tó;- pois tenho…
Tó Zé:- era gajo para “tas” comprar! Queres vender?
Zé Tó:-baah! Querias!!!
Tó Zé:-são porreiras vendes?
Zé Tó:-baah! Querias!!!
Tó Zé:-mas vendes ou não?
Zé Tó:-baah! Querias!!!

Acabei por adormecer: acordei cerca de uma hora depois. Enquanto passava um pouco de água pela cara ouvi:
Zé Tó:- querias!!!
Tó Zé:- anda lá pá, vende-me lá essa merda!
Zé Tó:- querias!!!
Sorri, vesti os calções e circundei o edifício para me juntar aos “bacanos”.
Boas, pessoal!
Oi, responderam em uníssono.
Tó Zé:- já viste que botas porreiras tem o Zé Tó?
Eu:- já! Se ele quisesse eu comprava!
Zé Tó:- também tu com a mesma conversa deste azeiteiro?
Querias!!!
Eu:- bom, vou lá dentro buscar uma cervejinha…
Zé Tó:- traz uma “pra” mim…
Eu:- Querias!!!
                     
Cinco e meia da tarde: O Sol já de tom alaranjado beijava o horizonte para lá do Cavungo, envergonhado e confundido com o cacimbo. O Zambeze na sua mansidão preparava-se para adormecer nos meandros, para lá da pista.
Nas mesas “jaziam” dezasseis garrafas de nocal prontas para ajudar o Natálio Parola a repor o vasilhame extraviado.
Á noite, depois do jantar, continuou o baile da cerveja no bar do meu amigo e conterrâneo Nogueira.
Caros Tó Zé e Zé Tó: sei que me perdoam esta “inconfidência”. Um dia destes, numa qualquer esplanada da Foz, havemos de nos rir um pouco. ABRAÇO



Sem comentários:

Enviar um comentário