sexta-feira, 8 de novembro de 2019

A MINHA PASSAGEM PELO LESTE DE ANGOLA 1974-1975...FAP DE 1973 A 1979



Não fui o “Grande Operacional” como outros camaradas o foram pelos diferentes teatros de guerra, já que fiz parte da última geração mobilizada e como costumo dizer “FOMOS A GERAÇÃO QUE FOI ENCERRAR A GUERRA”.
Contudo as mais de trezentas horas voadas por África, Angola de Novembro de 1974 a Setembro de 1975, falam por si. Fora do AB4 só fiz dois Destacamentos, um no AM 44 do Luso e outro no AM 42 no Camaxilo.
Chegado ao AB4 em Novembro de 1974, depois de cerca de uma semana na 2ª.RA-BA9 em Luanda, inicialmente tive como primeiro destino São Tomé e Príncipe (AB6 que nunca o foi mas sim AT2), digo o primeiro porque posteriormente fui colocado no AB4, chegando lá depois da viagem em Nordatlas, avião de transporte comum por África pela FAP. Na aproximação à pista pelo Sul o que se vislumbrava era apenas capim e mais capim – só mais tarde me apercebi depois de lá estar que contígua à Unidade havia uma “Quinta” (Agro-Pecuária) de onde se colhia entre outros produtos fruta – por lá passei já em 1975 de “tractor –reboque” de aviões colher pencas de cachos de bananas, não as normais e vulgares que hoje e por cá comemos, mas bananas que ao comermos uma eram quase uma refeição.
Comando e alojamentos

Apresentado no edifício do Comando, dirigi-me à camarata de Especialistas com o meu amigo e camarada de curso Helder Gourgel, um também jovem angolano com familiares por Henrique de Carvalho. 
Escolhida a cama e armário, por lá "encafuámos" os nossos haveres e ala que se faz tarde para ir tomar a primeira refeição de almoço no Clube de Especialistas, sobre
os mirones dos veteranos vindos de Destacamento e que na esplanada, junto ao lago dos “crocodilos” em tempos e sobre a sombra de uma árvore onde solarengamente se movimentavam dois camaleões – lá dentro de igual modo outros camaradas com mais de um ano ou até dois de presença pelo “habitat” do AB4 e seus Destacamentos uns dando “palmadinhas” nas costas outros interessados em saberem notícias de Portugal e do que por lá se passava, entravavam conversas, mais parecendo “moscas em volta de mel” e outros com os célebres “piropos” aos maçaricos, ávidos pela praxe da ordem que se praticava no AB4 (desde finais de 69/70 até finais de 74, pois fomos praticamente dos últimos a serem “desterrados” para o Leste – até ao Natal mais uma meia dúzia de outras especialidades e o camarada José Pinto também MMA e um outro MMT entretanto chegaram), com a qual “aceitei” mas contra os meus princípios, talvez porque quando chegado à Escola Industrial e Comercial de Tomar, com os meus 11 ou 12 anos, também fui alvo de “tratamento idêntico”, não com os “requintes” que o fomos então pelo AB4, pois apenas os ditos “Finalistas” na escola nos podiam dar-nos uns “calduços” quando subíamos e descíamos ao intervalo as escadarias.
Almoçados acompanhados sempre pela “comitiva de recepção”, após o almoço logo fomos encaminhados para a Manutenção da Unidade apresentando-nos ao Tenente MMA que a chefiava (do qual não recordo o nome), tendo o mesmo de imediato chamado o 1º. Sarg. MMA Norberto Marques e um outro baixinho e gordinho que mais tarde também foi meu “Chefe” na BA1 – o resto do dia fomos dispensados para tratarmos da roupa da cama e demais burocracias.
Hangar da manutenção
Não nesse dia mas uns dias depois lá fomos “sujeitos” à tal “brincadeira”, digo eu e reafirmo, de “mau gosto” da referida Praxe, na zona das instalações sanitárias, as quais por “sigilo” aqui omito...   ...   ...
Inicialmente estive na Manutenção, Esquadra 403, onde fiz equipa com o 1º. Sarg. Norberto na manutenção e operacionalização do único PV2 que por lá ainda estava a voar, fazendo “chek up” regulares aos motores e seus sistemas, primeiro de carburadores e depois de bombas de transfega, pois o avião há algum tempo que estava sem voar e teria como seu destino final o Luso para exposição estática num jardim.
Vieira junto do PV2 canibalizado
Além deste que estávamos a operacionalizar, havia um outro já sem motores de onde se retiravam peças, o qual estava estacionado na placa em frente ao Hangar, lado oposto ao Hangar da Manutenção (dum efectivo de sete unidades, das quais cinco já tinham sido deslocados para Luanda, BA9).
Mas vamos então descrever este meu primeiro destacamento de 14 dias entre 17dez74 e 30dez74 no Ar Luso, AM44 – estando o PV2  operacional, já havia instruções de o levar a voar para o Luso, local “emblemático” de Base Operacional dos mesmos no Leste de Angola e de o colocar em exposição estática num Jardim do Luso.
A cidade do Luso e o AM - foto de Gonçalo de Carvalho

Assim por volta das oito, oito e picos da manhã descolamos de Henrique de Carvalho e pouco mais de uma hora de voo, depois de umas passagens baixas sobre a cidade e o Aeródromo (anunciado a sua chegada) aterrámos no Luso. Nesse mesmo dia foram tomadas medidas para se escolher o melhor local para se trabalhar, tendo sido escolhida zona na placa e não em hangar para as manobras de remoção das asas, visto estar bom tempo e para cuja remoção era necessário para poder-se deslocar o avião sem asas pelas ruas da cidade - a restante equipa de manutenção  chegou já depois de almoço ao Luso vinda de C-47, Dakota. Para a primeira etapa de remoção de asas e desmontagem de equipamentos desnecessários, permanecemos por lá até às vésperas do Natal, onde passámos a Noite de Natal, com o Comandante João Oliveira do AB4 que tinha vindo especialmente para o “evento”, o qual discursou aos presentes aludindo “O Último Natal Português por terras africanas”.
Nos dias seguintes ao Natal, retirados os equipamentos de rádio e demais acessórios convenientes e eventualmente reutilizáveis para outros aviões, lá se rebocou o avião em “procissão” pelas ruas do Luso até ao jardim, já que as asas tinham sido transportadas na véspera por camiões da Câmara. No local e por ausência de gruas adequadas a deslocação e elevação das mesmas foi efectuado por um “rancho” de trabalhadores “tipo formigas” à ordem de comando de um encarregado o qual em dialecto local, foram elevadas e milimetricamente posicionadas para serem cavilhadas nos seu locais – finalizou-se os trabalhos com colocação das chapas de revestimento e no dia 27 deram-se por terminados os trabalhos – sendo sexta-feira por lá passámos o fim de semana. 
O PV2 no Jardim - foto de 2011
Este avião, PV2, cujo número não posso precisar (devido a extravio da minha caderneta de voo aquando da minha ida do AB4 para a BA9, onde estavam os registos de voos efectuados e  por conseguinte os aviões e aeronaves voadas no leste), foi depois de umas décadas em exposição, tanto quanto sei pelo camarada Bernardes Neves, foi substituído por um MIG soviético, usado na Guerra Civil que se sucedeu.
O MIG 21 que substituiu o PV2 em 2013
Terminada a missão, No dia 30 de Dezembro a meio da manhã, regressámos todos ao AB4 de Dakota e por lá passei a passagem de ano no Nosso Clube de Especialistas.  
Como os PV2, deixaram de existir na Esquadra, voltei à Manutenção começando a trabalhar em T6 e DO27 com os 1º. Sargentos Lima e Grilo e um outro de bigode farto que de momento já não me lembro (“Sebastião”? ou algo semelhante, “dizendo-se” por lá que tinha sido “colaborador” da PIDE, em Janeiro, foi um dos que de imediato foi enviado para a Metrópole, assim como uns camaradas “janados” de 1972 à medida que chegavam dos destacamentos) e passamos também a  dar assistência aos Alouette III, á medida que estas aeronaves iam e vinham de substituídas nos destacamentos.
Em Fevereiro deu-se o inicio ao fim dos Destacamentos tal como entendidos até aí, prolongando-se até Abril e Maio, já que o Exército que os ocupou se iam reunido nos aquartelamentos Base no Leste, tais como Henrique de Carvalho, Luso (Comando Militar Leste – CML) e Teixeira de Sousa, acabando os Comandos de Sector e de Subsectores espalhados por lá na quadrícula no Leste de Angola, agrupando-se.
Assim e entretanto já desactivado o primeiro Destacamento do AB4 na Portugália, fui enviado para o Camaxilo em 17 de Fevereiro num T6 com um Ten.Pil., salvo erro o Oliveira e por lá permanecemos até dia 28fev75, sexta-feira – lá também estava um Dornier e mais uns camaradas, PIL, MMA e MELEC.
AM 42 - Camaxilo
No restante tempo no AB4, estive afecto à “Linha da Frente”, esta reduzida com meia dúzia de T6, quatro Alouett III, três DO27, um Dakota e um Beechcraft, não na Placa entre a Placa dos Nord e Boeing 707, este último passou por lá duas vezes para recolher familiares do pessoal da Diamang para os transportarem para a Metrópole, mas sim na placa em frente ao Hangar da Manutenção, fazendo “run ups” de quando em quando e realizando voos locais de observação de possíveis deslocações das Forças Armadas dos Movimentos e acompanhando alguns dos seus dirigentes a Comícios, onde “ouvíamos e calávamos os insultos” que aos portugueses eram dirigidos.
O meu último mês no AB4, Junho de 1975 foi a partir da noite de 12 para 13, um mês muito complicado por Henrique de Carvalho, tendo-se aumentado o reforço nos postos e as rondas ao perímetro da Unidade. Foi o fim das idas à cidade as quais só por extrema necessidade por lá os efectivos do AB4 se deslocavam, ou ainda quem por lá “tinha residência” pois estávamos todos ansiosos de regressar.
Efeito dos confrontos entre os Movimentos

Tais confrontos entre o MPLA, FNLA e UNITA, suas Forças Armadas, nessa noite de 12 para 13 de Junho, não obstante até aí terem elementos nas Forças Integradas com elementos das nossas Forças Armadas, conforme Acordo de Alvor, os movimentos de libertação, decidiram “digladiarem-se” pela conquista da cidade de Henrique de Carvalho, aliás como o vinham fazendo por outras cidades, nomeadamente em escaramuças em Luanda desde Março  e em especial em Malange onde também houve tiroteios. Além da noite de 12 para 13 de Junho referida, em 16 de Julho, volta a haver nova disputa pelo território, com violentos tiroteios entre o MPLA e a FNLA durante cerca de 18 a 20 horas e de novo redobrada a vigilância em todos os postos da Unidade e Rondas.
Militares do Batalhão de Cavalaria 8322 no AB4
No dia 22 de Junho de 1975, o Batalhão de Cavalaria 8322/74 do Exército, veio definitivamente para o AB4, deixando o seu aquartelamento na cidade de Henrique de Carvalho, ficando por lá apenas um pelotão da dita “Forças de Segurança Integrada”, composta por elementos dos diferentes movimentos e das nossas Forças Armadas, ou melhor o que nessa data restava, já que no último confronto a ELNA, praticamente foi dizimada e os elementos restantes  abrigaram-se no AB4.

Finalmente em Luanda, concluída a etapa pelo Leste de Angola, colocado na BA9,  Esquadra 92 nos Nordatlas, como 2º. MMA, regressei ao Leste em missão de Nord, bem como por Luanda ainda fiz um ou dois voos local em T6, o Nº. 1685 e na Esquadra como MMA voei também no C-47, N.º. 6164 a 2 e 20 de Julho de 1975. O restante tempo voei em Nord em Julho, Agosto e Setembro nos: 6401; 6404; 6405; 6406; 6413 e 6415, percorrendo o espaço aéreo angolano desde Cabinda a Tchamuttet e de Benguela a Teixeira de Sousa e Henrique de Carvalho nesses três meses de voos intensos, até ao meu regresso à Metrópole em 27 de Setembro de 1975 no Boeing 707 da FAP, Nº. 8801. 
Na Metrópole, fui colocado na BA1 em Sintra, gozando férias e apresentado na Esquadra 401 de Fotografia, Reconhecimento, Detecção de Recursos e Oceanografia (Beechcraft, Dakota, Broussard, Aviocar e Cessena FTB), pouco tempo depois dá-se o 25 de Novembro com “mexidelas” de pessoal em especial dos SUVs que foram “corridos”, estabilizando-se os Quadros com o pessoal que tinha regressado do Ultramar, passando uns à disponibilidade e outros renovando-se as contratações, “Readmitidos” por períodos de dois anos, onde permaneci até 30nov79, momento em que me “chateei” com a FAP, ingressando de imediato no ensino como professor, pois enquanto estive na BA1 fui continuando a estudar...


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