Na formatura para o almoço de segunda-feira, o oficial de dia anunciou em voz alta:- O presidente da junta de freguesia da Ota, pede-me para vos informar, que está uma bicicleta motorizada no leito do rio Ota, junto à ponte, à entrada da aldeia. Se pertencer a algum de vocês o melhor é ir lá retirá-la.
- É minha mas podem ficar com ela! – Respondeu peremptório o Manel Bento,
algarvio de Tavira e especialista de abastecimento na esquadrilha dos
electrónicos.
Durante o almoço Alfredo procurou inteirar-se do que se havia passado com o
colega de esquadrilha, para que a motorizada dele tivesse aparecido no rio.
Ficou a saber pela voz do próprio Bento, que não fora só em Cheganças que tinha
havido confusão entre militares e civis durante o fim-de-semana. Também na
aldeia da Ota os ânimos se exaltaram, quando um grupo que integrava o Manel
Bento, tentou entrar no baile da paróquia sem pagar. Como já estava toldado pelo
vinho, o que não era raro, as coisas deram para o torto e houve mesmo troca de
sopapos entre os contendores. Goradas as intenções de entrar no baile, Manel
Bento, furioso, montou a velha motoreta com a intenção de regressar à base. Era
tal a piela que entre o salão de festas e a ponte, numa distância de pouco mais
de duzentos metros, caiu da motorizada por cinco vezes. Como a última foi
precisamente em cima da ponte, não esteve com meias medidas e atirou com o
chaço ao rio fazendo o resto do percurso a pé.
- Ó Bento, então depois da trabalheira que nos deu ir buscá-la a Vila Franca,
atiraste com ela ao rio? – Admirou-se Alfredo.
- Estava bêbado. Mas também não se perdeu grande coisa. – Completou Manel
Bento.
A vinda da motorizada do Algarve para a Ota fora mais uma das muitas aventuras
em que Alfredo, involuntariamente, participou. Numa sexta-feira, à saída do
trabalho nos electrónicos, Bento perguntou ao amigo:
- Alfredo, queres ir amanhã comigo a Vila Franca buscar a minha “Pachancho” que
veio de comboio de Tavira?
- Pachancho?! Que raio é isso? – Perguntou Alfredo.
- É uma motorizada.
- Não conheço. É alguma marca nova?
- Já não é nova mas está impecável.
Na tarde do dia seguinte, Sábado, Alfredo e Bento lá foram na camioneta da base
para Vila Franca.
Oh surpresa das surpresas! Quando Alfredo viu a motorizada exclamou:
- Isto nem amanhã está na Ota, Bento!
Veio à memória de Alfredo o velho “Cucciolo” do amigo Du Fernandes, da Praia do
Bispo. Só que a “Pachancho” estava bem pior.
- Não de preocupes Alfredo, o motor está impecável. Tenho é de ir arranjar uma
garrafa de mistura porque o depósito deve estar seco. – Disse Bento.
- Já agora vê se arranjas também uma bomba para encher o pneu da frente.
- Pois é! Está vazio, porra! – Exclamou o amigo já menos entusiasmado.
- Sendo assim o melhor é ir com ela à mão até à primeira estação de serviço. Há
uma da Sacor à saída da vila. – Acrescentou Manel Bento.
Atestado o depósito de combustível e depois de cheio o pneu que estava vazio,
lá conseguiram pôr o motor a funcionar após várias tentativas.
- Monta, Alfredo. – Convidou Bento enquanto mantinha o motor acelerado para que
não se fosse abaixo.
Alfredo sentou-se na grade metálica que servia de assento do pendura e lá
partiram deixando um rasto de fumarada e um intenso cheiro a óleo queimado.
- Pára, Bento! Pára! – Gritou Alfredo ainda mal haviam percorrido cem metros.
Alfredo desmontou da motorizada, tirou o blusão e dobrou-o em quatro para
servir de almofada.
Motorizada Pachancho |
- O assento estava a magoar-me o cagueiro. – Justificou-se Alfredo enquanto se
faziam novamente à estrada.
Foi curta a etapa pois ainda antes de chegarem ao Carregado, o pneu de trás
furou.
- A câmara de ar deve estar ressequida. – Disse Bento a tentar justificar o
contratempo.
- É isso Manel... e o pneu da frente já está outra vez quase vazio.
Bento abriu a pequena caixa cilíndrica pendurada entre o selim e a grade metálica, na esperança de encontrar algum remendo. Apenas continha uma ferrugenta
chave de fendas e tiveram outra solução que não fosse procurar ajuda na
povoação do Carregado, para onde se dirigiram empurrando a motorizada.
Depois do Carregado ainda se verificaram mais três paragens forçadas o que,
feitas bem as contas, dava quase tantos quilómetros a levar a motorizada, como
a motorizada a levá-los a eles.
Chegaram à base a altas horas da noite,
cansados, esfomeados e sem um tostão pois o pouco dinheiro que levavam foi
inteirinho para pagar os remendos.Era esta desgraçada “traquitana” que jazia agora no leito do rio Ota.”
Ota - a ponte |
A PACHANCHO era toda feita em PORTUGAL, embora não fosse nenhuma obra prima, numa época em que a ciência por cá estava muito atrasada. Mas hoje passados cerca de 60 anos o que produzimos?
ResponderEliminarBoa tarde
ResponderEliminarO meu pai esteve pela Ota nesse ano.
Por acaso conheceu o cabo miliciano Granja?
Obrigado