Na foto podem ver-se os F-84, na placa do AB4 com depósitos ditos pylon |
Em Outubro de
1966, eu e outro piloto, experientes, fomos enviados para Luanda para fazer um
refrescamento no F-84G para, de seguida, ir reforçar o contingente em
Moçambique para fazer frente à Esquadra inglesa durante o bloqueio do Canal de
Moçambique. “Farroncas” do tempo do “António”.
Em Luanda voei no F-84 quase 500 h em 2 anos e 3 meses.
Não falarei das missões por não me parecer apropriado mas, há duas histórias
que quero contar.
1ª - Viagem a Teixeira de Sousa
Esta aventura tem que se lhe diga.
Pouco depois de chegarmos a Luanda, no Dia de Natal de 1966, estávamos de
Alerta eu e o outro piloto que tinha chegado há pouco tempo.
Como não tínhamos família connosco, ficámos de serviço nessa noite.
Contudo, nessa mesma noite, houve um ataque a Teixeira de Sousa, na fronteira
Leste de Angola. Num local até aí calmo aparece esta provocação.
Reação: enviar uma parelha de F-84 para patrulhar a zona e mostrar força e
capacidade de intervenção...
Claro que fomos nós, os pilotos de Alerta, nomeados para a missão. De referir
que nunca tínhamos ido ao Leste, que desconhecíamos totalmente.
Enquanto colocavam depósitos suplementares pylons (a viagem era longa) tentei
obter cartas aeronáuticas para preparar a viagem, porque os F-84G estavam
confinados no seu dia a dia, a atuar no Norte de Angola, pelo que, só tínhamos
as cartas dessa área. A Região Aérea forneceu as outras necessárias.
Após o planeada a missão, descolámos a seguir ao almoço.
O percurso seria: voar em altitude, descer e sobrevoar Henrique Carvalho (Base
da Força Aérea) na Lunda, daí continuarmos até Teixeira de Sousa, sobrevoar e
aterrar em H. Carvalho.
Fizemos a viagem a 20.000 pés, por cima de nuvens e, de acordo com os nossos
cálculos, iniciámos a descida, cerca 20 milhas antes. Devido à distância
(julgávamos nós) e à baixa qualidade das ajudas rádio, ainda não se sintonizava
o radiofarol HC nem se conseguia falar com a Torre.
Não esquecer que era Dia de Natal…
Saímos das nuvens cerca de 2000 pés acima do terreno e, surpresa: quando
devíamos estar a ver a Base – nada. Chamámos – sem resposta.
Estávamos praticamente perdidos mas com combustível. Avistámos uma picada e
pouco depois uma povoação que, felizmente, como era costume em Angola, tinha o
nome escrito no telhado. Esta povoação estava no mapa, mas a cerca de 50 milhas
antes de H. Carvalho. Era esquisito mas nada se poderia fazer nessa altura.
Seguimos a picada e… H. Carvalho.
Falámos com a Torre e estavam surpreendidos – não tinham sido avisados da nossa
chegada e tinham o radiofarol desligado – era Dia de Natal e não tinham
movimento.
Expliquei-lhes a nossa missão pedindo que colocassem os candeeiros de
iluminação na pista pois aterraríamos já de noite.
Sobrevoámos o aeródromo e fomos para Teixeira de Sousa onde demos duas ou três voltas para nos mostrarmos ao inimigo e, ao mesmo tempo, animar as nossas “hostes”. Estava a anoitecer.Começámos o regresso e já perto de HC e às escuras, verifico que não tenho recepção do radio farol.
Incrível! Chamo a Torre e respondem-me, alguém tinha desligado a rádio ajuda.
Enquanto iam ligar o equipamento, continuamos o voo e passados alguns minutos apercebo-me da claridade dos potes utilizados na iluminação, acabando por aterrar em segurança mas já “apertados” em termos de combustível – daria para cerca de 10 minutos. Tempo de voo total 2:55 h.
O problema da Torre deveu-se à mudança de turno, rotina, ser domingo e Natal ninguém ter sido avisado do voo extraordinário.
Após mais dois voos de soberania na área, regressámos a Luanda no dia 29, tendo corrido tudo normalmente.
Esta viagem teve vários problemas, alguns impensáveis – Nada se saber em H. Carvalho foi o mais incompreensível. Falta explicar o erro de navegação – descida bastante antes de HC: em Luanda e com calma, tento compreender onde esteve o erro. As duas cartas aeronáuticas fornecidas pela Região Aérea eram de origem americana, fiáveis. Juntei as cartas, refiz os cálculos mas os resultados mantiveram-se. Até que reparei que o erro correspondia a ± 60 milhas náuticas. “Acendeu-se uma luz” - correspondia a 1 grau nos paralelos.Conclusão, as cartas fornecidas não se justapunham - faltava exactamente uma faixa de 60 milhas náuticas de terreno.
Mais um erro em que me sinto também culpado mas não esperado.
Texto:Cap(Ref) Fernando Moutinho
Transcrito por especial deferência do site e do
Sr. Cap. Fernando Moutinho
Pois este ataque a Teixeira de Sousa foi no principio da noite de Natal,foi por pouco tempo porque as tropas que lá estavam depressa resolveram a questão foram tropas da UNITA que por sinal iam mal armadas foi uma carnificina, mas a história foi muito mal contada. A Companhia que lá estava era de Cavalaria 779, e eu pertenci à 781 fiquei no Mucussuege e a C.C.S. no Luso, tinha-mos acabado de chegar Havia muito que contar sobre este ataque a Teixeira de Sousa. Saudações.
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