Gago Coutinho, foi pela sua
singularidade, o destacamento do AB4 primeiro, e do Secarleste depois, em que o
pessoal mais se integrou.
Embora existissem elementos diferenciadores, os
pilotos independentemente da patente, comiam na messe de oficiais do Exército, incluindo
os furriéis e sargentos, e tinham um alojamento separado. Mas no restante e não
era pouco, a relação era de cada um com a sua especialidade, concorrer para o
mesmo objectivo, independentemente da qualidade, e operacionalidade do
material,potenciando ao máximo o desempenho e intervenção do destacamento no
esforço de guerra desenvolvido na sua área de intervenção. Mas proporcionando à
sua guarnição, uma relação humana e profissional ímpar, no contexto dos seis
outros destacamentos.
Instalações do AR |
Vem isto a propósito do tempo de estadia para além das
tarefas diárias de cada um, só em Gago Coutinho era possível o OPC Asseiceiro,
ensinar morse ao MMA Tomaz, ou ao MELEC Lino, o MMA Tomaz, ensinar o OPC
Asseiceiro, a abastecer uma DO, ou T-6, ou o MAEQ, ter como ajudantes outros
especialistas, a municiar os T-6, ou a fazer "napalm", ou o MELEC, Lino ensinar
os OPC,S a perceberem como identificar uma avaria básica, nos emissores.
Nos tempos livres, eram normais as saídas conjuntas, entres pilotos e especialistas, sem serem necessariamente os mecânicos que os acompanhavam nas missões. Ou no fim de uma das muitas noites de churrascos, falar-se de tudo um pouco, religião, política, mulheres, sexo, ou mesmo do papel de cada um e da sua posição em relação à guerra onde todos estávamos, consciente ou obrigatoriamente metidos.
Numa dessas noites após um churrasco de “facocheros” a conversa proporcionou uma audição que só um OPC podia concretizar, sintonizei num hamarllund, uma frequência por mim conhecida e lá estava a rádio “Maria Turra” assim lhe chamava por ter como locutora uma mulher e auto-intitular-se a “Rádio Voz do MPLA” depois de uma conversa numa língua que nenhum de nós entendia, veio a locução em Português, e para espanto dos presentes, era um desfilar de ataques a colunas, quartéis e bases aéreas, o abate de aviões, afundamento de navios e destruição de quartéis, com centenas de mortes, e capturas de oficiais e soldados, bem como a libertação de kimbos, vilas e cidades, tudo isto à mistura com insultos, e ofensas à “tropa colonial fascista portuguesa”, bem como tentativas de aliciamento, das populações civis e dos militares na deserção, passagem de informação sobre operações, sistemas de defesa e segurança...
Após acabar a transmissão, toda a gente confirmou que nem lhe passava pela cabeça que aquilo pudesse ser verdade, e cada um se manifestou quanto ao conteúdo, cimentando com a discussão, a camaradagem que nos unia, e a certeza que tudo aquilo não passava de propaganda, bastava constatar o decréscimo dos pedidos de RVIS e RVIS-ATIR, dos TEVS, ou dos ATAP, para perceber que com a UNITA, confinada ao papel de contra guerrilha, na área das nascentes do Lungué Bungo, a FNLA refugiada na Zâmbia desde Setembro de 1972, e a eliminação do último grupo organizado do MPLA no Leste de Angola, numa mini-siroco em 29 Julho de 1973, não tardaria o fim da guerra, e duma solução mais política que militar...
Dezembro de 1973, Gago Coutinho
OPC ACO
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