Já tinha mais de dois anos de comissão, e sempre que chegava um novo OPC, lá tinha que aturar mais um "mike", como outros fizeram comigo, e eu sei do que falo, a integração de pessoal praticamente recém chegado da OTA, era um trabalho que cabia à totalidade dos operadores que estavam de serviço, uns tinham mais paciência que outros, e como em tudo era preciso sorte de parte a parte, um pequeno descuido ou distração, e uma mensagem que poderia ser a diferença entre salvar vidas e provocar mortes era passível de ter os dois tratamentos, dependendo do traquejo do operador mais velho de serviço, e do recém chegado que não sabia ainda muito bem como lidar com a decisão do que era ou não prioritário. Quando o "mike" que estava comigo a ser “lançado", me disse todo excitado: uma mensagem ZULO o que é que eu faço? Lá tive que lhe dizer tem calma, isso não é para levar a sério.
A coluna Dala-Luso em 1970, foto de Gonçalo Carvalho |
Diariamente vinha uma mensagem “Zulo” máximo de prioridade, que só deveria ser tida em atenção se posteriormente confirmada em tempo real pela chefia militar de acompanhamento da coluna, resumindo, haviam uns bacanos, que não faziam mais nada que esconderem-se na mata e quando passava a coluna constituída por viaturas civis escoltadas por outras militares, davam uns tiros de arma automática ou outra, e depois piravam-se e recolhiam a bom recato, só voltando à acção no outro dia à passagem da coluna. Num desses dias, houve um dos atiradores que se entusiasmou mais um pouco, saiu do coberto da mata, e foi baleado e apanhado à mão pela escolta.
Confirmada a “evacuação” (p.f. não liguem à conotação do termo técnico) quando o homem chegou à placa do Luso, tinha a DGS à espera, foi-lhe feita uma revista sumária, e pasme-se, tinha no bolso um bilhete do Cine-Teatro Luena.
Na véspera “cansado das agruras da guerra” tinha vindo à cidade quebrar o stress com um jantarzinho, companhia e um bom filme.
Luso - 1973
OPC ACO
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