Quando ia destacado para Gago Coutinho, levava normalmente um “suplemento alimentar”, à base de muitas latas de conservas e fruta enlatada, e a razão era bem simples, a comida para a arraia miúda era “confeccionada” pelo Batalhão do Exército, numa cozinha igual à de todos os outros quartéis espalhados pelo Leste de Angola, um telheiro negro do fumo, com um buraco no chão onde introduziam a lenha, por baixo da “baixela” onde inventavam todos os dias as receitas que aniquilavam qualquer tentativa de dar aos alimentos a simples função de alimentar o pessoal.
O refeitório |
Num desses períodos de “avareza” em que a comida andava tão má que até slides merecia, não morresse-mos todos envenenados e ninguém adivinhasse o porquê, resolvi “instigar” os MMA’s e os Pilotos uma vez que eram eles que faziam o abastecimento de frescos aos destacamentos dependentes do Batalhão de Gago Coutinho, para que confiscássemos alguma coisa decente e tenra, onde pudesse-mos ferrar o dente.
DO 27 preparando a saída |
Como combinado com eles, escondi-me no compartimento junto com a carga, e assim que descolámos, saquei da faca de mato, e abri o enorme saco de plástico cheio de frangos, que a viagem era curta, e peguei um frango pelas patas, para o transferir para o nosso saco, o frango estava prezo com os outros e eu fui exercendo cada vez mais força para o separar e retirar do interior do saco, eis senão quando dou comigo com as patas do frango na mão, concluindo para meu espanto, que os frangos estavam “tão frescos” que mesmo crus os ossos das coxas se separaram da carne, estavam roxos assim como os orifícios deixados pelo esforço que exercera. Voltei a enfiar os ossos nos orifícios, atei os sacos, e “confisquei” uma data de caixas de rações de combate, que escondi por diversos sítios do compartimento de carga, essas pelo menos, podiam ser ingeridas sem mais acidentes.
Na volta quando toda a gente já afiava o dente paro o churrasco, fizemos um refeição de “carnes (latas) frias” e guardámos a vontade de comer para melhores tempos, ou quando nos fosse permitido ir à caça.
Gago Coutinho, 12/1972
OPC ACO
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