quinta-feira, 9 de setembro de 2021

NANCATARI - O ÚLTIMO VOO DO DAKOTA 6175


Quem presenciou o jantar de 06 de Maio de 1974, que se realizou na boîte "Bagdade", em Nampula, nem sequer suspeitaria de que alguns dos clientes que ali jantavam, estariam a viver uma segunda vida.

Tudo porque, naquele mesmo dia, cerca das 13 horas, um avião DAKOTA, da Força Aérea Portuguesa, com a matrícula 6175, que havia levantado voo de Nangade com destino a Nampula, transportando uma delegação de Adidos; da África do Sul Maj. W. A. Kempeu, da Alemanha Ten.-Cor. Edward Grubbs, da Grã-Bretanha Cmdt. Thomas Binney, dos Estados Unidos da América o Cor. Peter Blackley e o Cmdt. Alexander Thomson e do Brasil Brig. Alfredo Berenguer César e Cor. Roberto França, além do Alferes Alves, dos Comandos, que era o Oficial de Ligação, e tripulado pelo Capitão Pilav José Assunção, piloto da aeronave, o Alferes Costa, co-piloto, 1º. Sargento Roma Pereira e 1ºs. Cabos Pinheiro e Agostinho, tripulantes, tinha sido atingido por um míssil "Strella", que havia sido disparado pela FRELIMO, quando voavam entre Diaca e Mueda, num desvio de rota imposto pelo mau tempo que se fazia sentir.
Dado o estado deplorável da aeronave, que ameaçava "desintegrar-se" a todo o momento, como provava aquela bocadagem de chapa que se ia soltando uma após outra, após o embate do engenho explosivo, o piloto resolveu-se pela utilização de uma pequena pista destinada a aviões ligeiros, que ficava situada em Nancatari, junto ao aquartelamento do Exército, para aí tentar aterrar o DAKOTA em segurança, considerando os VIP que levava a bordo. Em escuta das comunicações entre a Torre de Controlo de Mueda e o Dakota, estavam, em missão de reconhecimento com apoio de fogo, dois helicópteros Alouette III (um deles em configuração de heli-canhão, e outro com 5 paraquedistas), sob comando do Tenente Luís Araújo e o Alferes Palma, que, de imediato, coordenam com o comando rumarem para Nacatari para apoiar o Dakota e os seus homens. Com os dois "hélis" Alouette III, com os 5 paraquedistas a assegurarem protecção acrescida no terreno, solicitaram apoio de mais "hélis", entre os quais um "Puma". Foi possível em menos de meia hora transportar os adidos militares para Mueda, de onde, e já com a melhoria das condições meteorológicas, seriam então transportados a bordo de um Noratlas, comandado pelo Ten. Adelino Cardoso, para o seu destino em Nampula, onde chegariam ainda nesse mesmo dia.
Segundo relatam algumas testemunhas, o Brigadeiro Alfredo César, Adido Brasileiro, terá dito então aos americanos, seus companheiros de aventura: "Aqui é como no Brasil, se corre bem, corre tudo bem, se corre mal, corre tudo mal! Vocês têm a mania de serem os melhores do mundo, que têm uma Força Aérea que é a mais capaz de todas, mas não chegam sequer aos calcanhares dos Portugueses!". "Como assim?" - pergunta um dos americanos, que também falava português.
"É que - prosseguiu o Brigadeiro brasileiro - nós fomos sériamente atingidos quando passámos à vertical de Mueda, o piloto põe-nos no chão, nas condições que pudemos verificar, ainda mal aterrámos e já tinham os helicópteros prontos para nos evacuar. Chegámos a Mueda e já lá encontramos um avião pronto para nos transportar para a base (Nampula). Diga lá como é que vocês alguma vez conseguiriam fazer uma coisa destas?".

Importará dizer que o DAKOTA 6175, tinha o motor direito a arder e "latas" a soltar-se por tudo quanto era lado, mas o Piloto Assunção fez-se à pista - que teria cerca de 350 a 400 metros e estava ocupada por alguns militares que jogavam à bola - , sofre um impacto ao tocar no solo, faz um cavalo de pau sobre a esquerda e... imobilizou-se, depois deste pensamento do Piloto: "Zé... acabou-se! O Zé morre hoje e não há mais nada!". Mas afinal sempre havia!
Na "Bagdade" a festa foi de arromba, e aqueles Adidos estavam mesmo doidos de todo! Pudera! Não era caso para menos. Nota: desconhece-se o autor.

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