quinta-feira, 5 de agosto de 2021

A BIZARRA HISTÓRIA DO SUPER CONSTELLATION CS-TLA


Em Julho de 1955 a TAP recebia na fábrica da Lockheed em Burbank, California, o seu primeiro avião "a sério". Até então a companhia portuguesa só tinha usado aviões em terceira ou quarta "mão" provenientes dos excedentes de guerra. Aviões honrados, os DC3 e Skymaster, mas a pedirem reforma mesmo antes de entrarem ao serviço da companhia portuguesa.
Desta vez tudo seria diferente. Tratava-se de receber um novíssimo Lockheed L1049G Super Constellation, avião de médio e longo curso a que foi dada a matrícula CS-TLA. Seria o primeiro de seis aparelhos deste tipo que voaram para a TAP.
O "Connie", como carinhosamente era conhecido, estava equipado com quatro motores Wright Cyclone 972 TC18 DA3, com 18 cilindros e hélices de três pás, cada um deles capaz de debitar 3250 cavalos em regime de descolagem. Estes motores estavam tão "esticados" que por vezes davam problemas; havia até quem dissesse que o "Super" era o mais belo trimotor do mundo. Seriam as más línguas do costume (com algum fundamento, diga-se) mas a verdade é que era mesmo um belo avião, estética e tecnicamente falando. Não falo por experiência própria (mal tinha nascido) mas pela voz daqueles que o voaram.
Terminado o seu valioso serviço em 1967, o belo TLA foi vendido ao governo do Biafra, um estado da Nigéria que se separou do resto do país e passou por uma breve mas muito conturbada existência. O avião ficou baseado em São Tomé e participou activamente na "ponte aérea" destinada a apoiar as centenas de milhar de biafrenses que se viram cercados e sem recursos alimentares com o decorrer da guerra.

Aos comandos do "Connie" ia um português, Artur Alves Pereira, que mais tarde integraria também a mini Força Aérea do Biafra, um pequeno grupo de aviões de treino Harvard T6 "Texan" que desempenhavam missões de ataque ao solo com algum sucesso.
Terminada a guerra Artur Pereira entrou para a TAP e o velho "Connie" acabou por aparecer no aeroporto de Faro onde ficou estacionado e esquecido durante anos.


Até que um dia alguém se lembrou de lhe retirar o que restava de dignidade e o transformou em restaurante. Vá lá. Se tivesse sido em Bar de alterne, como aconteceu a outros, teria sido bem pior.


Como estas histórias têm sempre um final trágico, um dia surgiram uns quantos rufiões muito zangados - provavelmente clientes a quem foi servido marisco fora do prazo - e pegaram fogo àquilo tudo. Não se aproveitou nada.
Uma pena. Assim se perdeu um dos mais belos aviões que alguma vez ostentaram a bandeira portuguesa.

Artigo de "O Aviador", Comt. José Correia Guedes


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