quinta-feira, 16 de maio de 2019

QUANDO O CORREIO FALHAVA

Ninda, operação em curso - foto de Alberto Machado

Ia ter lugar, a partir de Ninda, a sul de Gago Coutinho, mais uma operação, que até ia ser acompanhada pelo jornalista Alfredo Farinha, de helicóptero, para fazer reportagem.
Naquele dia, o transporte do correio entre a sede do Batalhão, em Gago Coutinho, e Ninda, onde estavam os destinatários, foi feito por uma coluna que se deparou com o anoitecer e optou por permanecer a meio caminho, num acampamento da JAEA, Junta Autónoma das Estradas de Angola (mais conhecida como JAPA - Junta Autónoma das Picadas de Angola) que andava por ali a arranjar os pavimentos das "estradas".
O correio só chegaria, portanto, na manhã seguinte, para grande frustração dos soldados da companhia de Ninda, que sabiam que as notícias de casa estavam ali a uns meros vinte quilómetros de distância. Em véspera de saírem para o mato, gerou-se um grande burburinho com muitas reclamações e até alguma histeria. 
Estava na messe de oficiais de Ninda quando me apercebi do sururu. 
Construção da estrada Gago Coutinho/Ninda - foto de Pelotão Morteiros 3058

Por regra não se voava de noite por ser bastante arriscado, mas tinha a meu cargo um Alouette III e vi os homens numa tal angústia que pedi autorização para ir, com o mecânico, que não me recordo quem era naquela operação, buscar o correio para aquela gente.
De entre as várias missões que efectuei enquanto piloto, transporte de tropas, evacuação de feridos, foi a melhor missão entre todas as que desempenhei, e só quem lá esteve para ver a alegria e gratidão daqueles homens é que sabe avaliar o valor daquele voo nocturno, e a comoção que ainda perdura ao recordar aqueles momentos.
Convém salientar, que a correspondência constituía o principal pilar na vida dos militares, toda a hierarquia reconhecia essa importância.
Hoje em dia, felizmente a tecnologia evoluiu e a internet permite o contacto ao momento, naquela época o meio de comunicação possível era o "bate estradas".


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