Ao fim de 10 meses, fui ferido. Vinha passar cá
os anos, o Natal e o Ano Novo.
Era 25 de Novembro de 1972.
Levantei-me mais tarde, preparei-me para embarcar às 16h e fui despedir-me da malta ao hangar. De repente apareceu um jipe de alerta com um piloto. O gajo que estava de serviço foi para o helicóptero, preparou tudo, e quando o motor começou a trabalhar fiquei a pensar que ia andar um mês e tal sem andar num bicho daqueles.
Era 25 de Novembro de 1972.
Levantei-me mais tarde, preparei-me para embarcar às 16h e fui despedir-me da malta ao hangar. De repente apareceu um jipe de alerta com um piloto. O gajo que estava de serviço foi para o helicóptero, preparou tudo, e quando o motor começou a trabalhar fiquei a pensar que ia andar um mês e tal sem andar num bicho daqueles.
Desatei a correr, o piloto
parou, abri a porta e pedi-lhe: “Deixa-me ir a mim.” Quinze minutos depois
saltei com a maca para ir buscar os feridos à mata de Choquemone, ao pé de
Bula. Era pessoal do exército. Piriquitos, só com dois meses de Guiné. Tiveram
dois feridos, estenderam os oleados cor-de-laranja, pediram a evacuação e
ficaram sossegados, sem fazer o perímetro de protecção.
Os turras ficaram ali à
espera. Quando saí, ouvi uma morteirada cair. Ia a caminhar para os feridos e
os gajos levantaram-se à minha frente a disparar. Virei-me para ir para trás e
caí logo em cima da maca: levei com uma bala de cabeça cortada na artéria
femural da perna esquerda. Entrou, mas não saiu. Não sei se desmaiei logo.
Tenho flashes. Só ouvia uma voz: “Não grites para eles não saberem que estamos
aqui”. Era o furriel que me salvou a vida. Ficámos nós e os dois feridos. Os
outros fugiram e foram abatidos.
Morreram 35 gajos. Ele fez-me um torniquete e, como tinha um buraco a deitar
golfadas de sangue, agarrou nos guardanapos de papel das rações de combate, fez
bolas e empurrou-as lá para dentro com o dedo. Meteu tanto papel que aquilo
coagulou, secou e deixei de ter hemorragia.
O piloto ao ver-me cair levantou voo. O helicóptero
levou com 117 balas e só aguentou sete minutos no ar. Antes, comunicou para a
base que a tropa estava a ser dizimada e que eu tinha morrido.
Um rapaz da
Força Aérea embarcou para Lisboa com essa informação e, quando aterrou em Figo
Maduro, disse à minha família que eu tinha ido fazer uma evacuação antes do
embarque e que tinha falecido."
Isto eh História de Portugal que ninguem conta. Ha ainda muita gente que ignora deliberadamente o que muitos de nós passamos
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