ESTÓRIAS DE MISSÃO DE UM OFICIAL DA FORÇA AÉREA: ANGOLA – 1992
- “Sôr, dá-me
essas pilhas.” - Pediu ele.
- “Companheiro,
estas pilhas estão gastas, já não funcionam, perderam a eletricidade.
Entendes?” – Respondi-lhe.
- “Não faz mal,
Sôr. Dá-me as pilhas, por favor”. – Insistiu o miúdo.
- “Ho rapaz, eu
dou-te as pilhas mas elas não te vão servir de nada. Não consegues tirar nada
daí de dentro” – retorqui enquanto lhe dava as três pilhas AA do leitor de
cassetes portátil.
- “Consigo,
consigo“ – disse ele – “abro-as com uma catana e meto-as dentro de um panelo
com fruta e farelo de milho a fermentar, para fazer a Caxipembe [aguardente de
milho]. O ácido das pilhas apressa as coisas e amanhã o Caxipembe já está
pronto para eu vender no bazar!”
- “Ora toma” -
pensei eu em voz alta – “acabaste de receber uma aula de química aplicada, de
um puto com 12 anos! Então é assim que vocês fazem Caxipembe Expresso?” –
Perguntei.
Mas a criança já
tinha descolado em direção aos portões do aeródromo, com as três pilhas na mão
direita e uma lata com Jet A-1 na outra. Fiquei apreensivo com a qualidade da
poderosa aguardente que tinha estado a beber, com os meus amigos Russos, numa
das serenatas dessa semana. Seria feita à base de aceleradores de fermentação
do tipo: ácido sulfúrico? Pela forma como os Russos a consumiam à noite, quando
chegarem a Moscovo vão ter de trocar de fígado! A partir desse dia passei a
beber só bebidas estrangeiras, engarrafadas no exterior.
(O texto e os desenhos são extratos de um projeto de livro, da autoria de Paulo Gonçalves – Tenente-Coronel TOCART – sobre “Estórias de missão ao serviço da ONU”)
Os editores do Blog agradecem ao Sr.Ten.Coronel Paulo Gonçalves, a cedência das suas estórias vividas em terras do Moxico. Vinte e poucos anos após, representando uma nova geração da FAP, os seus relatos fazem-nos retroceder no tempo e recordar algumas das vivências, que marcaram a nossa geração. Bem Haja.
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