Sanzala do Macondo - foto de Armando Monteiro |
Fiz perguntas, onde está o animal? – Fugiu!
Perguntei se ele deitava espuma pela boca: -Sim muita espuma!
Suspeitei estar perante um caso de raiva, sabia que a raiva era uma coisa muito perigosa e lancei um pré-aviso para uma possível evacuação, mas que ficava suspenso até confirmação final.
Entretanto informei, que a mulher ia ser evacuada para o Cazombo, vinha aí um avião.
Veio uma embaixada solene a pedir para não fazer isso, a mulher não queria ir para o Cazombo.
Cães da sanzala - foto de José Prates |
A mulher era a irmã do soba, a mulher mais importante da sanzala, será o filho dela e não o filho da mulher do soba que será o futuro soba.
Recordo aqui, que estas evacuações funcionavam com militares, mas também com civis em casos de justificada necessidade, fazia parte da guerra psicológica, a tropa estava ali para ajudar, mais depressa chegava lá um meio aéreo, que hoje por aqui se pede um heli do INEM.
Cerca de duas horas depois sou chamado à sanzala, tinham conseguido capturar o cão maluco.
Cheguei, olhei para o animal que me pareceu assustado, como é que se vê se tem raiva? Pedi uma lata com água e espalhei em frente ao animal, o animal sedento depois de todas as perseguições começou a beber água…a raiva é também conhecida como HIDROFOBIA, ou seja medo da água, recordava uma cena do filme em que o homem ia para lavar as mãos e estremeceu de horror.
Anulei o pedido de evacuação.
Hoje sei que não era urgente, entre a mordedura ou contaminação há um prazo de cerca de 10 dias, então em caso de suspeita, mantém-se o animal em observação, se ele começar a ficar fraco das pernas e a cambalear, é sinal que tem raiva e só aí a pessoa é vacinada.
As coisas que aprendemos por lá, as coisas que tivemos de improvisar. Também aprendi, que qualquer cão a ser perseguido por meia sanzala, fica raivoso e deita espuma pela boca…
Armando Monteiro
Alf.Mil.Transmissões BCaç 3831
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