Carlos Magro o primeiro em pé á esquerda, algures no leste de Angola |
Pertenceu à gesta de uma família Magro que viu todos os seus seis filhos partirem para a guerra do então chamado Ultramar Português, chegando a encontrar-se, em simultâneo, cinco irmãos nas fileiras – quatro dos quais, nos três teatros de operações – Angola, Moçambique e Guiné.
Carlos Magro, na savana, como bom “Saltimbanco”, descreve-nos algumas crónicas de então. Acomodem-se em redor da fogueira, sob o luar manhoso do planeta menor, e escutem as histórias angolanas do passado. Peripécias vividas em terras do “Outro Mundo”: Lumeje, Cazage, Luacano, Ninda, Cuito Canavale, Gago Coutinho, Léua, Chiume, Chilombo, Chafinda, Cazombo, Cassai, Mutumbo, Cancumbe, e outras…onde as cheetas viviam!...São várias as linhagens de Magros. Os Magros de Malpica, os Magros de Mondim de Basto, e os Magros de Montalegre. Mas os mais importantes…são os Lamares Magro, que descendem de D. Egas Moniz.
Carlos Magro, na savana, como bom “Saltimbanco”, descreve-nos algumas crónicas de então. Acomodem-se em redor da fogueira, sob o luar manhoso do planeta menor, e escutem as histórias angolanas do passado. Peripécias vividas em terras do “Outro Mundo”: Lumeje, Cazage, Luacano, Ninda, Cuito Canavale, Gago Coutinho, Léua, Chiume, Chilombo, Chafinda, Cazombo, Cassai, Mutumbo, Cancumbe, e outras…onde as cheetas viviam!...São várias as linhagens de Magros. Os Magros de Malpica, os Magros de Mondim de Basto, e os Magros de Montalegre. Mas os mais importantes…são os Lamares Magro, que descendem de D. Egas Moniz.
OPERAÇÃO SIROCO
A
Operação Siroco foi uma operação militar que se realizou, por sucessivos anos,
no Leste Angolano, e em que nela operavam tropas "especiais" – Comandos,
Fuzileiros e Para-quedistas, para além das ditas "normais".
A
FAP, como Unidade militar, prestava a sua valiosa colaboração no transporte de
militares das três Forças Armadas, colocava as mesmas no terreno operacional, prestava
apoio aéreo, transportava os feridos, fazia ataques com balas
explosivas e incendiárias com o
Héli-Canhão, bombardeava com bombas napalm lançadas pelos T-6 e PV2 e
dirigidas para os acampamentos das forças inimigas, transportava prisioneiros e armas capturadas, entre outros
serviços de porte guerreiro.
O HELI-CANHÃO
Quando fui para o destacamento do Cuito Canavale no Héli-Canhão, tive que aprender a disparar com o canhão. Na altura, pensei, e pensei bem!…Pensei que já estava tramado!...
Não só tinha que prestar serviço como mecânico, como servir frequentemente como atirador, enfermeiro, caçador, e dar apoio aéreo às tropas no terreno quando o solicitassem. Sempre em situação de perigo!
Lembro-me que no primeiro pedido de apoio aéreo, feito pelas tropas no terreno e em confronto com uma coluna de guerrilheiros do MPLA ou, FNLA, o piloto, com os pneus do helicóptero a roçarem a copa das árvores, entrou em contacto comigo, de transmissor para auscultador: “Magro, quando chegarmos ao local, vou subir e descer rapidamente aos “SS”, e tens que te aguentar agarrado ao canhão, de pé, e atento à mira telescópica porque, não sabemos quantos guerrilheiros poderão disparar para o helicóptero e, podem ser muitos”.
Assim, quando chegámos ao local, as tropas deram ao piloto o rumo que os “gajos” tomaram a fuga. Ainda percorremos uma vasta área, mas sem avistamento possível do inimigo. Evacuámos alguns feridos e regressámos ao Cuito.
No Cuito, informaram-nos que também tinha havido grande tiroteio no que resultou nalgumas baixas do lado dos “Flechas” – soldados negros recuperados ao inimigo.Juntámos um Héli dos “Saltimbancos” a mais quatro dos nossos “primos” da África do Sul, que nos ajudavam em algumas operações, e fomos verificar os estragos.
Havia muitos mortos, coisa impressionante, e um ferido que foi de imediato evacuado. Mas antes da sua evacuação, contou-nos que alguns dos nossos combatentes não tinham sido mortos, mas que as tropas inimigas lhes esfaquearam as pernas e, se reagissem, então, é que procediam à matança. O nosso sobrevivente, escapou, contando que teria ouvido: “Este está morto”. Foi a sua sorte!
Havia muitos mortos, coisa impressionante, e um ferido que foi de imediato evacuado. Mas antes da sua evacuação, contou-nos que alguns dos nossos combatentes não tinham sido mortos, mas que as tropas inimigas lhes esfaquearam as pernas e, se reagissem, então, é que procediam à matança. O nosso sobrevivente, escapou, contando que teria ouvido: “Este está morto”. Foi a sua sorte!
O CAÇADOR
Em todos os destacamentos do Exército por onde andámos, fomos sempre muito bem recebidos.
Todas as “cervejolas” que bebíamos eram “à borla”! A gratidão justificava-se por lhes levarmos o correio, materiais diversos, e ajudá-los na caça porque, a sua alimentação era muito escassa. Era um prazer trazer os animais caçados nos estribos dos Hélis pois, sentíamos que a refeição seria de rei, naquele dia. Na despedida, havia sempre a solicitação para novos regressos pois, a solidão por lugares onde nem “Cristo” tinha passado, impunha desesperadamente esse desejo.
Todas as “cervejolas” que bebíamos eram “à borla”! A gratidão justificava-se por lhes levarmos o correio, materiais diversos, e ajudá-los na caça porque, a sua alimentação era muito escassa. Era um prazer trazer os animais caçados nos estribos dos Hélis pois, sentíamos que a refeição seria de rei, naquele dia. Na despedida, havia sempre a solicitação para novos regressos pois, a solidão por lugares onde nem “Cristo” tinha passado, impunha desesperadamente esse desejo.
Cacei duas cheetas, mas a carne foi oferecida para os naturais. Eles comiam a carne e, para nós, entregavam-nos as peles. Coloquei-as a secar num telhado e, num dia de ventania, foram-se!...Cacei javalis, palancas e outros bichos. Mas havia pessoal que matava elefantes para lhes tirar os dentes e o rabo. Guardo religiosamente comigo um dente de um javali que abati, recordação dessas savanas longínquas. Amuleto para a vida!...
Como caçador, vivi um episódio aborrecido quando, num dia em que fomos à caça e matei uma fêmea. Quando aterrámos, ao procedermos ao seu arrastamento, verificámos que estava prenha e com o feto no chão, já fora da barriga. Deixámo-la ficar!... Permanecem os remorsos!...
AS EVACUAÇÕES
Numa evacuação, o helicóptero transportava feridos a abarrotar e, durante duas horas de trajeto, tive que vir de cócoras a segurar a perna de um soldado. Nos poucos ensinamentos de enfermagem, algo me indicava que deveria manter a perna do companheiro numa posição cimeira, dado que o mesmo tinha ficado sem pé devido ao rebentamento duma mina.
Noutra evacuação, os feridos jaziam sob a copa de árvores frondosas e altas. As manobras para o helicóptero eram arriscadas tratando-se de voo vertical e com pouca margem de manobra. Por isso, os soldados resistentes tiveram que cortar árvores e ramadas para facilitar a operação, imensidade de tempo perdido…impossibilitando melhor tratamento. As pás do Héli lambiam as folhas, mas a experiência dos bravos pilotos improvisava com êxito a operação.
Angola, Angola e…Angola, no Leste
Selvagem!...
Em
Angola na aviação
No Luso
e Henrique de Carvalho
O Carlos com o Heli-canhão
Manda tudo p´ra São Crincalho!
Integrou os Saltimbancos
Na Operação Siroco entrou
Evacuou pretos e brancos
E com o Heli-canhão caçou.
Nos Alouettes, os noviços
Sabiam pouco da matéria
E ele, pelos bons serviços
Gramou seis anos na Força Aérea!
A mulher foi lá ter
Foi amor e uma cabana
Voltou com a barriga a crescer
Oh Marta, és Angolana!
É verdade que sempre foram bem recebidos em todos os destacamentos do exército.
ResponderEliminarPelo menos no destacamento do Nengo, entre Gago Coutinho e Ninda, local onde foi tirada a foto da palanca suspensa no estribo do Heli. Belos tempos de quase meio século. Para todo o pessoal da FAP que connosco conviveu um grande abraço e até sempre.
(Um sobrevivente da CART3514)