Posição do CR-LKE após aterragem de barriga |
De todos os aviões civis e militares que controlei, o CR-LKE, foi o que mais recordações me deixou, quer no Cazombo, em Neriquinha , ou em Gago Coutinho.
Era um De Haviland DH-108 modelo Dove, “Pombo/a” com dois motores gipsy queen 70-2 de seis cilindros em linha com 400 cavalos cada, com um curioso cokpit em bolha destacada da fuselagem, transportava dois tripulantes e até oito passageiros, pertencente à AERANGOL, Transportes Aéreos de Angola, operava a partir de Moçâmedes, cruzando todo o Sul de Angola, passando por Sá da Bandeira, Vila Artur Paiva, Serpa Pinto, Cuito Cuanaval, Neriquinha, Gago Coutinho, Luso, Vila Teixeira de Sousa e Cazombo, a rota era delineada conforme os passageiros ou a mercadoria mas muitas vezes também o correio.
O início da produção deste modelo deu-se em 1945, para substituir o De Havilande modelo Dragon Rapid, de que existe um belo exemplar no Museu do Ar. Desconheço o ano de fabrico do LKE, mas já aparentava bastante uso, e nalguns instrumentos que guardo como recordação está inscrito o ano de 1965.
Vem tudo isto a propósito do acidente que presenciei em directo em Gago Coutinho. Efectuava um voo à vertical com o Corredeira, já tínhamos conhecimento do movimento do LKE, e o Corredeira já tinha entrado em contacto directo com o piloto, depois de verificar-mos a sua posição, acompanhámos a aproximação a Gago Coutinho voando na sua asa, retribuindo os acenos dos passageiros, no início da perna-base, a aproximação fizera-se de Oeste para Leste, comentei com o Corredeira se eles não estariam demasiado baixo, e ele respondeu-me que eles deveriam saber o que estavam a fazer, o avião voava cada vez mais devagar e mais baixo, e dei comigo a pensar que eles não iam chegar à cabeceira da pista sem bater na vegetação que ficava no seu enfiamento.
Acompanhávamos a aterragem e o afundamento do avião, quando o piloto se apercebeu finalmente que não chegava à pista, tentou em desespero elevar o avião, mas devido à pouca asa, praticamente não havia metido flaps e à pouca velocidade o pior aconteceu, a asa direita bateu numa árvore e o avião começou a rodar pela direita e afundou subitamente, envolto numa núvem de pó vermelho, soltando peças das asas e num bailado em câmara lenta, foi dando voltas arrastando-se pelo chão, levantando ainda mais pó até se imobilizar de nariz, perpendicularmente à pista mas ligeiramente fora dela.
Vem tudo isto a propósito do acidente que presenciei em directo em Gago Coutinho. Efectuava um voo à vertical com o Corredeira, já tínhamos conhecimento do movimento do LKE, e o Corredeira já tinha entrado em contacto directo com o piloto, depois de verificar-mos a sua posição, acompanhámos a aproximação a Gago Coutinho voando na sua asa, retribuindo os acenos dos passageiros, no início da perna-base, a aproximação fizera-se de Oeste para Leste, comentei com o Corredeira se eles não estariam demasiado baixo, e ele respondeu-me que eles deveriam saber o que estavam a fazer, o avião voava cada vez mais devagar e mais baixo, e dei comigo a pensar que eles não iam chegar à cabeceira da pista sem bater na vegetação que ficava no seu enfiamento.
Acompanhávamos a aterragem e o afundamento do avião, quando o piloto se apercebeu finalmente que não chegava à pista, tentou em desespero elevar o avião, mas devido à pouca asa, praticamente não havia metido flaps e à pouca velocidade o pior aconteceu, a asa direita bateu numa árvore e o avião começou a rodar pela direita e afundou subitamente, envolto numa núvem de pó vermelho, soltando peças das asas e num bailado em câmara lenta, foi dando voltas arrastando-se pelo chão, levantando ainda mais pó até se imobilizar de nariz, perpendicularmente à pista mas ligeiramente fora dela.
Enquanto eu assistia a este bailado macabro o Corredeira avisou o posto de rádio, para que mobilizassem o hospital e toda a gente que pudesse vir dar uma ajuda aos passageiros e tripulação. Passámos entretanto a rapar sobre o destacamento a abanar as asas, tentando chamar a atenção do pessoal que estava na placa.
Aterrámos contra o vento e parámos ainda longe do avião, corríamos na sua direcção quando a porta lateral se abriu e saiu um homem com sangue na cabeça, a esposa grávida em final de tempo, ia para o Luso onde teria a criança, e ele estava completamente alterado, tentando a todo o custo retirá-la pela pequena porta onde ela mal cabia. Um a um todos os passageiros e tripulação acabaram por sair pelo seu pé, ninguém para além do marido nervoso se feriu, e a mulher grávida aparentava ser a única calma do grupo.
O facto da pista ser de terra batida evitara o pior, uma das asas vertia combustível, a roda de nariz do trem de aterragem em triciclo estava dobrada, do mesmo modo que a esquerda, a direita fora simplesmente arrancada, os hélices, estavam dobrados, como o trem colapsara a aterragem fizera-se de barriga, toda a parte de baixo da fuselagem estava amolgada, as asas a mesma coisa, possivelmente teria sido a última aterragem do CR-LKE.
Aterrámos contra o vento e parámos ainda longe do avião, corríamos na sua direcção quando a porta lateral se abriu e saiu um homem com sangue na cabeça, a esposa grávida em final de tempo, ia para o Luso onde teria a criança, e ele estava completamente alterado, tentando a todo o custo retirá-la pela pequena porta onde ela mal cabia. Um a um todos os passageiros e tripulação acabaram por sair pelo seu pé, ninguém para além do marido nervoso se feriu, e a mulher grávida aparentava ser a única calma do grupo.
O facto da pista ser de terra batida evitara o pior, uma das asas vertia combustível, a roda de nariz do trem de aterragem em triciclo estava dobrada, do mesmo modo que a esquerda, a direita fora simplesmente arrancada, os hélices, estavam dobrados, como o trem colapsara a aterragem fizera-se de barriga, toda a parte de baixo da fuselagem estava amolgada, as asas a mesma coisa, possivelmente teria sido a última aterragem do CR-LKE.
Retirada do CR-LKE da pista para zona da placa. |
Agora levantava-se outra questão, o que fazer àquele monte de sucata, ali não poderia ficar. Com tudo mais calmo, fui a corta-mato para o posto de rádio confirmar com o Costa como se passaram os contactos na aproximação, não queria que ainda sobrasse para nós qualquer dúvida sobre o porquê da queda do avião, restavam os passageiros e a carga. Após conversa com o piloto, enviei uma mensagem para Luanda para a companhia, para que enviassem um transporte que levasse os passageiros e a carga, e para que nos informassem de como iriam proceder para retirar o avião da posição em que ficara, uma vez que obrigava à utilização bastante limitada da pista.
Feitos os avisos para a ICAO, Secarleste, a pedido do piloto recolhemos a carga, e “sequestrámos” uma das caixas de caranguejo de Moçâmedes, que “inexplicavelmente” ficara inutilizada e que constituiu o nosso jantar.
Feitos os avisos para a ICAO, Secarleste, a pedido do piloto recolhemos a carga, e “sequestrámos” uma das caixas de caranguejo de Moçâmedes, que “inexplicavelmente” ficara inutilizada e que constituiu o nosso jantar.
Quanto ao LKE, foi desmontado e transportado via terrestre para Luanda, julgo para ser canibalizado para outros aviões do mesmo modelo.
Ainda hoje passados quarenta anos, conservo alguns dos seus instrumentos.
Ainda hoje passados quarenta anos, conservo alguns dos seus instrumentos.
Conta e Indicador de Rumo de Rádio Farol (ADF) |
Gago Coutinho, 1973
Por:
OPC ACO
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