sexta-feira, 4 de junho de 2021

A PRISÃO DO AB4

Porta de Armas e Casa da Guarda em fundo


Zé Mário e Antunes


Dos equipamentos do AB4, a Casa da Guarda era talvez uma das menos conhecidas pela maioria do pessoal, apesar de ficar logo à entrada da Base.
Uma das suas dependências era a prisão.
Porque felizmente, poucos a conheceram, trago algumas opiniões expressas ultimamente por alguns camaradas PAs, numa recente publicação no nosso grupo do Facebook.

José Neto - PA 1965/67:
Já que trouxeram à baila a prisão do AB4, que se situava no edifício da Casa da Guarda, aqui vai uma foto que tirei na antecâmara da prisão, a guardar "três presos" que, na verdade, não o eram. Era uma prisão com dois compartimentos que nem grades tinha. Os detidos estavam ali a cumprir as penas de prisão e dali não podiam sair até que terminassem as penas. 

Joaquim Caratao - PA 1968/70:
Em 1970 se não me falha a memória, um soldado de que não me recordo o nome, apenas sei que era natural de Fátima, conseguiu destruir uma daquelas camas de ferro Mod. FAP que equipavam as celas e com os destroços destruiu a porta da dita cela onde se encontrava detido. Não terá sido trabalho fácil pois quer a cama quer a porta tinha uma robustez considerável. Só foi possível levar a cabo esta loucura com o completo desequilíbrio psíquico em que se encontrava. 

José Rosa - PA 1968/70:
Boa memória Caratao ! Foi esse mesmo conhecido como o Fátima quem destruiu a porta da cela, também te lembras bem que o dito Fátima punha tudo em estado de sítio era desordeiro .

Joaquim Caratao
Joaquim Caratao:
Zé. E já agora impõe-se levar a história de alguns presos até ao fim! O Pára que te referes que eu não vou naturalmente citar o nome, "Chamar-lhe-ei apenas M" depois de bem bebido levou a cabo com outro companheiro uma investida nocturna ao bar. Como consequência dessa traquinice levou seis anos de prisão maior com expulsão das Forças Armadas ... Desta vez calhou-me a escoltá-lo para Luanda com destino a uma prisão que ninguém sabia qual seria. Apresentado no CMD da 2ª Reg. Aérea comecei a percorrer tudo o que era presidio civil e militar de Luanda sem que conseguisse que alguém o recebesse, assim andei três dias até pedir na Secção de justiça da Região Aérea para devolver o preso ao AB4. Foi então decidido que levaria no dia seguinte o detido para um Campo de Trabalho no deserto de Moçâmedes, próximo de Roçadas e se designava por Campo de trabalho do Péu Péu.
E Lá fui num PV2, como CMD do avião o Cap. Coias que era um inimigo figadal do dito Soldado por problemas que tiveram entre eles no Cazombo. O Capitão não sabia quem era o preso e quando o viu não conteve um comentário menos oportuno ao que o Soldado respondeu com vernáculo. Confesso que ainda hoje fico incomodado ao recordar o local onde foi deixado o M...
Entreguei-o ao Director do Campo que distava 15 Kms de Roçadas. Anos depois encontrei o M..., fiquei satisfeito quando ele me segredou que aquela prisão havia sido o melhor que lhe aconteceu na vida pelos ensinamentos e pelas prespectivas que lhe criou no futuro. Não cumpriu a pena completa com a emergência do 25 de Abril. Coisas da vida. 

José Rosa
José Rosa:
A prisão do AB4 era na casa da guarda em frente à porta de armas , haviam duas celas mesmo em frente aonde o pessoal de guarda dormia. Lembro-me ainda de alguns presos que por lá passaram em particular desse PA que era conhecido por Fátima, e de um que tinha sido Paraquedista, e foi parar à prisão por ter assaltado o bar de Sargentos ele e um alentejano que não recordo o nome nem numero, tenho uma recordação desse paraquedista que nunca vou esquecer. Fui eu cabo PA e um soldado de nome Cordeiro que era transmontano nomeados para o escoltar ao tribunal a Luanda para ser ouvido pelo Juiz. Quando estava dentro do tribunal fez-me andar atrás dele, pois eu tinha medo que ele fugisse e depois quem ia para a prisão era eu.
Recordo-me muito bem dele, ele era PA e não se dava nada bem com os bicos de pato, às vezes ia à camarata deles para fazer bagunça.

Joaquim Caratao:
Zé! O dito companheiro era de difícil trato. Sofreu um tal ataque de fúria que redundou naquela destruição toda. Como o Mundo é pequeno uns anos depois encontrei-o em Fátima, conheceu-me, conversamos um pouco, disse-me que tinha sido transferido para o Negage depois de cumprir o castigo após aquele destempero que teve. Mas... ainda continuava muito nervoso. 
Também passei muitas noites naquele local. Será bom recordar que os Cabos da PA, pelo menos entre Outubro de 1968 e Outubro de 1970 alinhavam dia sim dia não, chegou-me a acontecer sair de um serviço e entrar noutro no mesmo dia, entretanto aconteciam os imprevistos e lá estava o pessoal a alinhar quer em escoltas quer noutras actividades muito vulgares naquele tempo. Também os Soldados não tinham muito melhor sorte para além de guarnecer as torres durante a noite onde no tempo do cacimbo a temperatura era glacial, ainda lhes sobejava quase sempre mais um ou outro biscate que estava sempre á espera. Não era fácil ser PA naquele campo de férias. Ainda assim julgo que a maioria destes camaradas guarda suaves recordações daquele tempo, daquelas idades, e de muitos dos camaradas que conseguiam minimizar os sacrifícios que eram pedidos ao pessoal. 
Artur Santana

Artur Santana - PA 1968/71:
Pois é Caratao eram os soldados dia sim dia não nas Torres, Paióis, Rondas á Noite na cidade, e Porta de armas era uma vida infernal e para vocês Cabos também o pior era as torres que se passava lá um frio de rachar. Foi duro já passou e agora resta a saudade da rapaziada que andam por aí a quem desejo uma grande felicidade e um grande abraço 

Sem comentários:

Enviar um comentário