quinta-feira, 11 de fevereiro de 2021

OPERAÇÃO MONTES CLAROS





Recuo 59 anos na minha vida e volto à "Operação Montes Claros" ou seja à deslocação de Tropas para ocupação efectiva da Zona de Intervenção Leste (ZIL), em Angola, em 1962.
O navio "Niassa" embarcou as tropas em Luanda em 4 de Dezembro de 1962. Não embarcou o Radar AN/TPS1D do Pel. AA 55 que seguiu por terra para Nova Lisboa.


O "Niassa" ia superlotado com pessoal e material. Recordo que alguns militares ocupavam viaturas e até as baleeiras no convés do navio que rumou ao Lobito.


Aí as tropas foram embarcando, com equipamentos individuais, em composições convencionais de carruagens dos Caminhos de Ferro de Benguela (CFB). As locomotivas a vapor eram abastecidas não a carvão mas a lenha (de eucalipto) e como auxiliares de tracção dispunham de uma roda dentada que engrenava nos trajectos mais íngremes num carril dentado entre os carris normais. Após o embarque do grosso dos efectivos, embarcaram em composições abertas (carruagens de carga) os materiais e armamentos pesados que iam acompanhados por grupos de militares que os guardavam. Cada composição devia levar as rações de combate destinadas ao tempo de percurso desses grupos. O radar que fez o percurso por terra até Nova Lisboa, foi ali carregado numa carruagem atípica com base rebaixada entre os rodados e "descalços" sem rodados, para redução da altura visto que havia uma ponte metálica entre Silva Porto (actual Kuito) e Luso (actual Luena), onde as tropas destinadas à Lunda iniciavam a concentração para se movimentarem, por meios próprios, com o material pesado entretanto recebido e descarregado. Procuramos desembarcar o Radar com auxílio da grua existente no cais da estação do CFB mas tivemos que suspender a "operação" de descarga quando, para surpresa nossa vimos que a grua ameaçava cair sobre o Radar colocado na carruagem rebaixada. A solução encontrada passou pelo seguinte improviso: 1)-Montagem dos rodados com auxílio de macacos de deslocamento vertical e lateral (usados pelo CFB para colocar carruagens nos carris); 2)-Oleamento do pavimento para redução da fricção entre os pneus e o piso da carruagem; 3)-Tracção lateral por cabos ligados a viaturas...e finalmente reboque pelo tractor próprio, AEC Matador.

Esta mesma viatura entraria heroicamente em Henrique de Carvalho (actualmente Saurimo) rebocando metade das viaturas pesadas e seus atrelados pertencentes ao Pelotão AA 55, após um percurso de cerca de 300 km efectuado em 3 dias, com o Natal de 1962 pelo meio, perto do Dala...

Por: Mário Arteiro (Comt.do PAA55)


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