quinta-feira, 9 de julho de 2020

ESTÓRIAS PASSADAS NO LESTE

Gago Coutinho, 1973 - foto de JFMA

Em Gago Coutinho, em 73 ou 74, eu e outro especialista fomos elogiados e compensados com um jantar na presença do comandante do exército, por termos doado sangue directamente a um civil negro, a quem toda a companhia de madeirenses (ou açorianos, não me lembro) se recusou a dar sangue. 
Lembro-me, que o civil tinha perdido muito sangue por ter levado uma grande facada nas costas e se encontrar sem assistência há muito tempo. Já estava deitado no helicóptero para evacuação, quando nos colocamos ao lado, deitados, para fazerem a transfusão directa. 
Antes, o Comandante tinha reunido a companhia e pedido a colaboração para salvar o negro, mas ninguém atendeu. Postura mais humana tivemos nós, que nos valeu um bom jantar com o comandante, a provocar inveja ao pessoal do exército (seria essa a intenção do comandante?). 
Bom bife e melhor reconhecimento.
Lucusse, 1969 - foto de Gonçalo de Carvalho

Uma célebre vez fomos de héli a Lucusse. 
O Administrador recebeu-nos com toda a pompa e circunstância.
Depois dos cumprimentos, levou-nos para a sua residência e, aí, presenteou-nos com um javali pequeno (tipo leitão) rodeado de frutas fatiadas e algumas entraditas. A chegarmos de uma viagem que nos obrigou a madrugar, o apetite era mais que muito. Então, em conversa amigável, lá nos saciamos. O senão foi que para beber só havia whisky do velhinho. 

Presumo, que a intenção era por-nos " finos'' para, depois, pedir para trazermos dois passageiros e bastante carga que incluía uma botija de gás grande. Isto, a tripulação, eu, o MMA e o piloto, só com um grande favor do piloto. 
Resultado, à tardinha, lá levantamos e regressamos com o héli (a partir fatias) tal era a carga que o piloto simpaticamente admitiu. 
Graaaannde viajem , sempre a rapar, e grande pitéu.
À noite só me apeteceu uma boa fumaça. É verdade! 
Como disse o helicóptero foi sempre a rapar e a ''partir fatias'', penso que o piloto era o Holstein, que era exímio no controle da máquina, nomeadamente na caça aos patos. Eheh!

A Honda 360 CB - linda, de cor verde garrafa, recém chegada ao Luso, onde estava em exposição numa montra, que visitei durante uns tempos , sempre que vinha da base, ao final da tarde. Com este ritual, namorei-a até vir de férias. Fazia contas e considerava possível esse sonho da época - 30 contos pedinchados em casa que cambiados, em Luanda, se traduziriam em 60 contos (angolares), que era aproximadamente o custo da dita. 
Lá vim de férias ao Continente e, no regresso, encontro dois amigos no avião da TAP, com destino a Luanda. Um era meu conterrâneo e amigo de longa data, o outro era um cabo especialista de Bragança. Grande animação na viajem de regresso repleta de simpatias com as hospedeiras. 
Chegados a Luanda, instala-mo-nos no hotel Mundial. Daí saíamos para almoçar e jantar no centro, Versalhes, Amazonas e outros restaurantes. De tarde percorríamos várias casas (o sete, o catorze, o vinte um, etc.) pois sabíamos que entraríamos em "regime" quando chegássemos ao Luso. À noite era um corridinho a bares e boates. Foi esse o ritmo diário até os bolsos ficarem leves. Então, regressados ao Luso, visitei uma única vez a montra com a linda Honda 360 verdinha, e disse- lhe adeus a muito custo, pois o devaneio em Luanda tinha-a ''consumido'' . 
Mas, em compensação fiquei com as pilhas carregadas, ou descarregadas, para o resto da comissão.
Em suma: ''não se pode ter tudo'', contudo não me arrependi.

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