quinta-feira, 13 de junho de 2019

AB4-HENRIQUE DE CARVALHO E ALGUMAS HISTÓRIAS



A grande leva de especialistas ligados aos PV2 entre Outubro de 1970 a fins de 1972.
Introdução:
Os PV2 estavam na BA9 em Luanda sendo a sua base de apoio. Por decisão dos cabeças gordas foram transferidos para Henrique de Carvalho, AB4, e com eles uma grande saída de especialistas das diversas áreas, principalmente quem não tinha cunhas, outros vieram directamente completar o quadro de pessoal como foi o caso do Raimundo e eu próprio.
O aeródromo ficou dotado de muito mais pessoal, embora só estivessem ao activo 5 PV2, o que restava dos 8 aparelhos que vieram directamente do Montijo, em fins de 1960, conforme relato do Gen. Silva Cardoso no seu livro de memórias.
Luso 15/7/1971 - PV2 4616
Em 1972 só havia 3 aeronaves a voar, mas mesmo estas com muitas avarias e faltas de peças. Neste ano, um deles não levantou e explodiu na pista de Luso por manifesta aselhice do Capitão Heitor, que nessa altura já era vegetariano e deixou cair o manche por falta de força. Pertencia ao grupo dos inábeis que o Gen. Kruz Abecasis descreveu no seu livro “Bordo de Ataque”, como sendo "pelicanos", que como já é sabido é uma ave desajeitada e não sabe voar em condições. 
O grupo dos PV2 pouco ou nada tinha que fazer. A minha secção tinha 10 sargentos e 11 cabos especialistas, o que quer dizer que estava tudo pirado. Eu e o sargento Mota formávamos a equipa “maravilha” o que nos fazia alinhar mais vezes.
Com o tempo disponível era muito comum existir mais actividades lúdicas, desporto e leitura, que beneficiou o nosso grupo e pôs-nos muito acima dos sargentos e oficiais que tudo faziam para merecer ir as nossas festas. Vou nomear mais essas actividades noutras histórias.

De forma aleatória vou prestar homenagem aos amigos, companheiros ou camaradas, as suas particularidades, virtudes, defeitos, retidos na memória até aos nossos dias.

Jaime Dias "Abi"
Lisboeta da Rua Angelina Vidal, já na recruta se dispunha a não fazer nada. Foi com ele que conheci Lisboa, comi e dormi na casa dele. Foi para os Açores e voltei a vê-lo no AB4.
Foi ele que me recebeu na placa e fiquei assim sem a praxe. Atrevo-me a sustentar que o Jaime Abi foi das pessoas mais inteligentes que conheci na FAP.
Em Henrique de Carvalho já dominava os jogos a dinheiro, king, poker e ramim, o abafa e lerpa, deixava pena vê-lo levar os tansos. O "Cacimbo 71" foi um evento que saiu da sua imaginação. Tivemos autorização de nos vestirmos á civil e foi a concurso um grupo de 10 canções.
Cacimbo 71, Bilinhos, Vitor Oliveira, Biker, Margalho e Abrantes


O Jaime era o apresentador, bem vestido com talco no cabelo para parecer que tinha o cabelo grisalho. Foi muito bom. O Jaime continuou a conviver com o grupo de amigos do AB4. Infelizmente já nos deixou há cerca de 10 anos. Trabalhou na seguradora Império, mas também em actividades comerciais, criou o modelo da loja do "pica-pau ", que era uma espécie de desconto para quem comprasse nas lojas aderentes, que tinham o símbolo do "pica-pau amarelo". Pelas quantidades pedidas comercializava mais barato e dava umas comissões para ele. Mais tarde, montou um esquema de fornecimento de materiais da loja dos trezentos e quando deixou de ser negócio incendiou o armazém, mas só recebeu muitos anos depois o valor segurado. Teve negócios pouco claros no Brasil e Angola. Enfim era o amigo que jamais esquecerei.
Fernando Braga
Este nosso companheiro também nos deixou. Era mecânico MMA e era a alegria do hangar. Formava com o António Braga e o Bilinhos a equipa que nos dava fado amiúdes vezes, mais tarde juntaram-se na fadistagem o Guedelha, o Castelo e o Abrantes. 
O Braga tinha fado em todo o corpo, valorizava e transmitia-nos a mensagem que necessitávamos.
Como todo o artista que se prezava tinha que possuir alguma loucura, e tinha-a na dose certa.Foi castigado pelo presidente do Clube, pelo excesso de crédito e mal fazer. 
Foi de férias para Luanda e alugou um carro juntamente com o António Braga que o conduzia. Na primeira rotunda, na ilha, o António perguntou ao Fernando se devia circular ou ir em frente. A resposta foi em frente, não hesitou e assim acabaram as férias de carro. 
Os charros fizeram o seu efeito.

José Gonçalves, Mendes Martins, Caixinha Borges e Vitor Faria "Pilas".

Estes artistas formavam o grupo de meteorologistas da base, a que pertencia também o Jaime "Abi" e o Eusébio. Eram muito esquisitos! Costumávamos dizer que eles estavam contaminados pelos charros e cacimbo.
O José Gonçalves, hoje dedica-se à pesca industrial, já organizou juntamente com o Viegas 3 eventos dos especialistas com todo o sucesso e primor. O grupo dos sexta-feira já foi a Olhão de propósito para um almoço amariscado.
Margalho, Gonçalves, Schmit e Eusébio


O Mendes Martins, que é originário da Guarda embora fizesse grande parte da vida em Lisboa, o seu apelido é “olho nele” pois foi maningante desde a recruta.
Mendes Martins, à esquerda em pé
É irmão do antigo provedor da comunicação social com o mesmo apelido Mendes Martins. Como era tradição no fim da recruta dava-se uma lembrança ao alferes e cabos milicianos após repasto num restaurante da Ota ou Vila Franca, para o qual também era convidado o major Noronha. O nosso amigo M.M. fez discurso e foi entregue uma lembrança, bem embrulhada, que todos tinham quotizado. Viemos depois a saber, pelo alferes, que a prenda, um relógio, tinha gravado: "oferta do RCP-Rádio Clube Português", onde trabalhava o irmão!
Em Henrique de Carvalho, era locutor da rádio Saurimo juntamente com o Dinis MMA e movimentava-se muito bem na fina flor do entulho da cidade. De mim posso afirmar, que me roubou um colar de malaquitos e uns óculos Rayban. Voltei a vê-lo em Luanda aquando da visita á cidade do PERCY SLEDGE. Já era habitué do clube mais “in” da cidade, o Flamingo.
Nos anos 80 era director comercial da Lusa, actualmente esta reformado onde atingiu o grau de professor universitário do Instituto Politécnico. Como é possível fazer a 4ª. classe com frangos e chegar tão longe?!
O Caixinha Borges não era do nosso mundo. 
Borges numa de músico
Pintava com classe, foi ele que fez o último trabalho plástico na nossa messe e num clube privado da cidade onde parava o Capitão Neto Portugal.
Via tudo através de um espelho, ou seja, ao contrário. 
Dormia com uma venda nos olhos almofadada e francamente com mau aspecto, em termos de masculinidade. Não se relacionava com as pessoas, que  por fugir dele e ele entrou mais tarde, já em Lisboa, na indigência. Parece que faleceu não tenho a certeza.

Parte da pintura do Clube



Vítor Faria "Pilas", um lisboeta castiço, mas com uma maluqueira de esfriar os ossos. Andava com as calças e camisas muito cintadas, organizava eventos nocturnos, loucos como as noites árabes no clube onde não faltavam odaliscas. Encenou uma matança com catanas junto a um lago que não era mais do que uma charca das águas pluviais, aguas essas onde cresciam rãs.
Vitor Faria "Pilas"
Foi para Luanda consertar os dentes, colocaram-lhe uma uma placa. Um dia mergulhou-a num copo com cerveja na mesa onde almoçavam 5 pessoas. Continuou a beber, embebedando-se, foi vomitar e perdeu a placa. Deixou de ter novamente dentes no dia que retornou ao AB4.
Noutra vez, na minha mesa, estávamos a jantar e estava um
Fernando Braga e Pilas
lagarto assado no redfish na travessa do Pilas, chamamos o Sargento Dia. Alertado o Oficial Dia, que fazia o primeiro serviço na Base, este olhou para o peixe, pediu um prato e talheres ao empregado de mesa civil, que neste caso era o Coimbra, retirou da travessa, cortou o peixe e comeu de seguida virando-se para o pilas disse: “Isto está bom”, se o oficial comeu ele também o podia fazer, e se reclamasse era castigado. A chiquice também tinha disto!

José Abílio "Bilinhos"
Esta figura típica não pesava mais que 50 kg sustentava-se somente de cerveja, tocava guitarra e qualquer instrumento. Era natural de uma aldeia de Ponte de Lima onde possuía uma quinta de família. Fui muitas vezes a casa dele que era no centro da vila e explorava com os pais uma mercearia. Mais tarde, faria extracção de areia do rio Lima, que teve que deixar por não serem emitidas licenças. Trabalhou depois numa firma de materiais de construção perto de casa. 
"Bilinhos"
Á sexta-feira carregava num carro velho, Fiat Ritmo, duas grades de cerveja e refugiava-se na sua quinta, propriedade que tinha vinho próprio e terra para cultivar. Vivia como um eremita, fazia as suas próprias refeições num fogão a lenha e não era raro pedir reforços de material bebível ao domingo de manhã. Tinha um cavalo na propriedade, que era montado por uma filha que estava no exército em Braga. 
Tentou com o advento da cultura biológica a plantação de batatas, sem fertilizantes no estado natural, a colheita foi inferior a metade, o que restou pôs à venda no estabelecimento da mulher com o rótulo de material biológico, mas mais caro e ninguém aceitou essa modernice. Para chegar ao edifício da quinta os carros tinham que encolher os espelhos tal era a largura da via. 
Nos últimos anos da sua vida já não tocava somente guitarra, preferia o banjo, o cavaquinho e a viola braguesa. Quando lhe pediam muito, dedilhava os acordes de Alcino Frazão, um vulto da guitarra que não foi muito conhecido porque morreu de acidente com menos de 30 anos. 
Um grupo de amigos constituído por mim, Esteves, Adriano, Neves e Dinis, há cerca de 11 anos fomos a casa dele para o convidarmos para almoçar o que declinou apesar da nossa insistência. Faleceu 10 dias depois!
Filipe Raimundo, "o poeta"
Raimundo com puto Mateus 
É um alentejano simpático de Portalegre nascido no ALEGRETE. Começou a recruta na Ota comigo e voltamos a ver-nos em Henrique de Carvalho. Estava ligado aos JUs e Alouettes na BA3, foi colocado no AB4 na secção das baterias, o que era típico na FAP pois já havia no Luso Alouettes III.
No AB4 estudámos e fizemos alguns exames em Luanda. Também ele como eu gostávamos de ler livros, nessa altura lia STENBEK e HEMINGUAI e ele SARTRE e FAULKNER. Não manifestava naquela altura a veia poética que tinha e presenteou-nos mais tarde com poemas lindíssimos, retratos do nosso dia-a-dia como a Rosa e o Radio farol.
Raimundo no Kimbo da Rosa (Rádio Farol)

Quem não consegue ser amigo do Filipe é porque não tem capacidade de se relacionar com ninguém.
Quem privar com este amigo sabe ver a grandeza da sua alma, a arte de se entregar. Merece o respeito de todos nós. Vai fazer 70 anos no dia 15 de Agosto, não se esqueçam dessa data. O Filipe está reformado, trabalhou numa multinacional ligada ao fabrico de polímero e poliéster, dedica-se á agricultura, tem um rebanho de borregos, muita terra para lavrar e plantar.
Enfim, vive feliz na companhia da sua grande companheira, a Anjos, filhos e netos. Recebe os amigos como ninguém.
Antonino Neves e Adriano Rui "Secas"
Adriano, Renca e Neves
Estes dois mamíferos do Norte tinham em comum sitiarem-se na Esquadrilha de Abastecimento, um grupo muito restrito que possuía uma certa autonomia.
Tinham um bar próprio, faziam  festas no local de trabalho e eram comandados pelo grande senhor Capitão Maia, que tinha aquários iluminados dentro do seu quarto.
Como eram muito amigos e ainda prezam essa amizade, as suas andanças eram similares. O primeiro mais alto e esgrouviado, não sei, o que faziam nos “ganfas”, posso dizer apenas que a sua preocupação era visitar as sobrinhas do Munhica, assalariado da secção. O Adriano Rui acompanhava-o nessas visitas diárias. 
Em HC, Neves, Pereira e Adriano

O Antonino Neves foi um dos animadores das marchas de Santo António, onde formaria a "rusga do bacalhau" que se executou no ringue da base em Junho de 1971. Baldas quanto baste, graças ao andebol, em representação da Base, andou por Luanda e Negage. 
No Camaxilo com Almeida
O Adriano Rui, que foi corrido de Luanda para Henrique de Carvalho por não ter cunhas, puxou pela imaginação e arranjou um Coronel do Exército, amigo ou conhecido do pai, que por outro lado conhecia o nosso Comandante Wilton Pereira e conseguiu que fosse nomeado "inspector de inventários" nas mudanças de comando dos destacamentos e assim conheceu a Maria "dos 6 dedos" e o Manel "da pedras", o mesmo que salvou de morrer queimado o Capitão Neto Portugal. 
O Adriano Rui quando saiu da tropa, com as habilidades aprendidas meteu uma cunha no banco Fernandes de Magalhães, fez concursos até gerente, mas reformou-se cedo como maluco, para exercer Advocacia já que se tinha aventurado a estudar á noite. Deu-se uma grande mudança, passou a ser o "Dr. Secas". Tem escritório na baixa do Porto, toda a gente o conhece pela sua simpatia e pistanice, só falta fazer consultas na rua. 
Começa a trabalhar as 10 horas e á sexta-feira (santa) não está para ninguém, vai almoçar com os amigos do AB4. 
Há quem diga que o Adriano é o terror dos juízes, como é cortês e simpático nas alegações, que são próprias nas defesa dos clientes, são tão longas e técnicas, que não o ousam interromper, só o fazem quando a noite se aproxima.
Azuil Jacinto, Luis Gomes, Brilhante Dias e Damiano Gil.
Tinham em comum serem electricistas de aviões e os três primeiros guarda-redes de andebol e futebol de salão. 
Azuil, Gomes e Mira
O Azuil de fino trato, veio de Tomar, tinha um estatuto especial, não estava na secção que devia de estar e ficou nos electrónicos juntamente com o Sargento Galante, enfim era mais um beneficiador das cunhas. Posteriormente mudou-se para os melhores já numa altura que quase nada se fazia. 
Pertencia ao trio da direcção do clube dos especialistas, na vigência do seu alto cargo nunca nos faltou cerveja, uísque e vinho. Não passou despercebido nos dois anos de comissão. 
O Luis Gomes de apelido o “carralhinho” por ser de Setúbal tinha
Brilhante Dias e António Braga
o sotaque dos “erres” dessa terra. Amigo muito simples e simpático. Hoje com menos cabelo e pinta-o! Ao que chegamos! 
Brilhante Dias era um lisboeta sociável no AB4, nas jornadas anuais dos encontros dos ex-especialistas só apareceu uma vez. Foi director da Feira Popular de Lisboa na sucessão do pai neste cargo. Tem um sobrinho ligado a politica, o Eurico Brilhante Dias, que até é parecido com o nosso amigo.
Gil e Fernando Braga
Damiano Gil conhecido também por Gil "Malavisa", que parece que foi atribuído para o diferenciar do Gil Lemos, também electricista. 
Era um rapaz alto, e um maravilhoso amigo que infelizmente nos deixou muito cedo. Fez parte da direcção do clube dos especialistas, quando o Charrinho acabou a comissão.
Arranjou-me algumas garrafas de uísque e uma delas ainda a tenho em meu poder. Foi concorrente ao Festival da Canção Cacimbo 71 onde ficou em último lugar (décimo). Reclamou mas não adiantou, o júri foi soberano. Foi a única vez que o vi muito mal disposto.
Simão Cabral 
Um domingo de general Mack Mack...uma desgraça. Neves, Fernando Braga, Simão
Foi um Zé especialista de vanguarda. Criava amizades com toda a gente, tinha acesso privilegiado ao Comandante, geria de forma exemplar o Clube dos Especialistas.
Gandas malucos, Azuil e Simão
Teria com certeza cunhas, pois nunca o vi trabalhar no hangar, na sua especialidade MMA, estava asilado na ferramentaria.
Já era muito conhecido na recruta, às 5 horas no fim das actividades dirigia-se às casernas com o slogan “Olha a bolachinha”. Começou sózinho e no fim já tinha uma organização de revendedores.
Embora ele seja oriundo da Guarda de uma aldeia que se chama Argomil foi para Felgueiras e depois Guimarães. Fundou uma firma ligada ao fabrico, comercialização e assistência de bombas de gasolina a Petrotec, que cresceu, cresceu, e hoje é líder em Portugal com delegações em Angola, India, Espanha e México. Não se deslumbrou, continua a ter as mesmas relações com os velhos amigos e companheiros da FAP, participa nos encontros e organizou o melhor de todos nas suas instalações na aldeia de Argomil. 
Actualmente, dedica-se á plantação e comercialização de mirtilos, criou condições extraordinárias para esta actividade. Fez um projecto, a terraplanagem, a procura e a retenção das águas e adquiriu a tecnologia necessária para esta planta tão incomum. 
Do 41º. Encontro em Argomil

Criou empregos na aldeia que não existiam, tem muitos hectares plantados que regalam os olhos. É um homem superior, não era qualquer um que se dedicava a um empreendimento tão gigantesco. Ele fê-lo com a convicção que ainda é muito novo.
Parece-me que só tem um defeito, é benfiquista!
João Esteves
Um dia chegou a Henrique de Carvalho, em Fevereiro ou Março de 1972, vinha dos jactos da BA5 e foi cair nos T6 e DOs, era assim a FAP. Já tinha experiência pré-militar pois foi levado precocemente para os Pupilos do Exército, onde desenvolveu um tique de poupadinho que lhe ficou até aos nossos dias.
O Esteves tinha qualidades para o andebol e rapidamente se sobressaiu dos restantes. Foi para a linha da frente, depois para o Luso e daí para destacamentos.

Era e é uma pessoa simpática, amigo do amigo, mas não gosta de gastar dinheiro, mas não é certamente por não o ter, pois possui um apartamento duplex no Porto e uma simpática quintinha em Vidago onde colhe vinho, azeitonas, amêndoas, cerejas(quando os melros deixam) e tem uma piscina de alimentação de água natural sempre corrente. Gosta e faz alarde de se sentir bem na companhia de amigos. Faz parte do grupo das “sextas-feiras santas” e agora deixou de ranhosar pelo preço das refeições, às vezes ainda se lembra e pede para não porem entradas e suspender a entrega da última garrafa, mas passa-lhe.
Já está reformado mas durante os restantes dias da semana, pega na pasta e vende pratos, tigelas, copos e agora cadeiras. Ainda não percebeu que este país não está para velhos! 
O dia-a-dia do nosso amigo é duro, só anda em estradas nacionais porque não têm portagens. Almoça em sítios escolhidos com, sopa, pão, prato do dia, um jarrinho de vinho, café e um cheirinho de bagaço paga o descalabro de 5,5€ a 6€. No barbeiro de Santo Tirso, onde vai há muitos anos, gasta a astronómica verba de 3€!
Na gerência da sua quintinha é exemplar. Ele não tem naturalmente tempo para se dedicar as actividades agrícolas, nem sabe, e por isso tem um vizinho na aldeia que faz a poda, sulfatagem, colheita das uvas, e a quem no fim da vindima o Esteves vende as uvas ao quilo, homem que faz delas, com outros vinhos daquela zona que são tradicionalmente bons. 

Para consumo próprio quando está em casa com a família compra o vinho. O vinho que adquiriu é pago naturalmente, sendo sempre do mais barato. Uma vez ofereceu-me um almoço na casa dele com um vinho que não parava de elogiar, provei-o e de imediato fiz uma cara tão feia que se admirou e perguntou: “Não gostas?”, disse-lhe que era vinagre, contrapôs que não podia ser.
Cheguei a conclusão que lá em casa o vinagre e o vinho eram a mesma coisa. O nosso grupo das “sextas-feiras” já lá foi mais duas vezes, mas eu levei uma grade de vinho que era sem dúvida melhor que o vinagre da casa. 
Tem também um relacionamento exemplar com os habitantes da aldeia. Fomos cerca de 10 pessoas a casa dele almoçar e rumamos a um café a 100 metros da entrada da quinta. Com tanta gente no café o ambiente entrou em reboliço, com mais sossego a dona perguntou-nos de onde vínhamos e explicamos-lhe que viemos a casa do Srº. Esteves, seu vizinho, aquele que morava na porta em frente. Ela disse que não conhecia e em tantos anos nunca ninguém da casa foi la ao café. Sem dúvida é um grande relações públicas. 
Na próxima haverá mais histórias do AB4.

Por: Toneta





                             

2 comentários:

  1. ganda descrição!!!!felizmente ainda me recordo de toda esta malta,"parceiros das farras, copos e noitadas" e a esta narrativa está impeque, com imagens apresentadas que durarão para sempre, principalmente a do clube de especialistas, que eu ajudei a pintar...Obrigado amigo e um até sempre (Smith)

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