No regresso de uma viagem a Lisboa (como membro do MFA) encontro uma "comissão de recepção" à minha espera.
Estranhei, até que me contaram o seguinte:
Numa missão para recolha de refugiados, na Jamba (região dominada pela UNITA), os militares deste Movimento aprisionaram o avião (Noratlas), mas nada de mal fizeram à tripulação, que foi transportada de Jeep para Serpa Pinto para o Caminho de Ferro.
Diga-se que a Força Aérea tinha conseguido criar e manter um clima de neutralidade, que permitia que fossemos a todas as diferentes áreas e recebidos com suficiente urbanidade pelos diferentes Movimentos.
Daqui se compreende o envio, pela UNITA, da tripulação para arranjarem transporte para casa. Esta acção hostil, devia-se ao rescaldo das reacções políticas dos Movimentos ditos de Libertação, a quem não agradou o facto das nossas tropas terem desarmado os Movimentos, mas reentregarem as armas ao MPLA. Em poucos dias o mapa político de Angola ficou dominado por esta força.
Os outros não gostaram.
Perante a descrição dos meus colegas, a minha reacção foi: "temos de ir resgatar o avião!"
Ofereci-me e fui eu tratar do resgate.
Na manhã do dia seguinte, 31 de Agosto de 1975, com o Nord 6406 e com mais uma tripulação para o outro avião, dirijo-me a Nova Lisboa que, nessa altura, estava sob a autoridade da UNITA.
No aeroporto falo com um chefe da UNITA, explico-lhe a situação e peço-lhe que me arranje um membro importante do Movimento para me acompanhar, possibilitando assim negociar com os militares da UNITA.
Aterrámos, mas ao pararmos no estacionamento, fomos cercados por forças locais, que montaram um esquema agressivo à volta do avião: um morteiro, duas metralhadoras e vários elementos armados.
Perante tal espectáculo, conhecendo eu as características dos elementos da UNITA, que primavam pela ingenuidade, abri a janela da cabine e, como se nada de extraordinário se passasse, sorrindo, perguntei pelo Comandante da Força, pois tinha comigo um Comandante deles para lhes falar. Ficaram sem saber o que fazer, mas eu com o ar mais displicente do mundo, apresentei-lhes o membro da UNITA que tinha trazido de Nova Lisboa.
Pela janela conversaram e pouco depois era levantado o cerco armado. Abrimos as portas do avião e alguns minutos depois estávamos a conversar, no chão, numa boa camaradagem.
Conclusão.
A tripulação adicional regressou no avião que lá estava sequestrado, transportando alguns passageiros e “imbambas”, para Nova Lisboa, onde deixou o elemento da UNITA que serviu de parlamentar.
Quanto a mim, depois de verificar o avião sequestrado, descolámos para Pereira de Eça mais a sul, onde fomos apanhar mais alguns refugiados para Luanda.
Foi à tangente porque descolámos dali pelo lusco-fusco.
Tudo bem…
Esta missão ocorreu em 20 de Setembro de 1975.
Fotos de internet inseridos pelo editor.
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