O relato seguinte tem por intenção abrir um pouco a questão de como pensavam os intervenientes naquela guerra. Seria interessante abrir o diálogo com alguns familiares mais jovens que por aqui andem, alguns mentalizados de forma alheia às situações, Acho e entendo que nós os que participámos naquela guerra temos alguma coisa a dizer, a nossa opinião, sujeita a análise e a críticas se for caso disso, mas a nossa opinião. Não sou belicista porque fiz a guerra, mas também não sou pacifista, porque os pacifistas atraem as guerras.
Luacano 1969-foto de Pereira Rodrigues |
Lago Dilolo-foto de Julio Corredeira |
Lembrei-me de alguns relatos que ouvira em Mafra sobre estas situações, na verdade eu era mais um estudante mobilizado para uma missão militar, que um chefe militar, mas estava ali agora com a missão de levar aqueles homens até ao Lago Dilolo. Em primeiro lugar tinha de demonstrar segurança, que a pior coisa que um chefe militar pode fazer perante os “seus” homens é mostrar insegurança. Aqueles homens, em caso de algum ataque ou situação de risco, esperavam que eu soubesse tomar as medidas e as atitudes certas, mas eu não estava assim tão certo, nada podia demonstrar dessa insegurança e lá fomos direitos ao pó da picada.
Armando Monteiro |
Durante a minha estadia o alferes comandante do destacamento, contou-me que tinham sido atacados uns tempos antes. Organizada a defesa um dos soldados pegou no morteiro 60, nestes casos era só usado o tubo do morteiro, de modo a torná-lo mais manejável, aponta mais ou menos para a zona onde estavam a ser disparados os tiros e enfia pelo cano abaixo uma granada de morteiro, grande estrondo e lá vai granada, aquilo ia ensinar aos outros para não se meterem com o pessoal do destacamento, de repente o céu fica iluminado e lá vem uma estrelinha brilhante a descer lentamente de para-quedas, iluminando o cenário.
Coisa estranha, que era aquilo? E vai mais morteirada, e nova luz a iluminar o cenário… os guerrilheiros foram-se embora, estavam ali para fazer um ataque a sério e o pessoal do destacamento a lançar foguetes, como se a guerra fosse a brincar! Foram fazer a guerra para outro lado, estes eram uns brincalhões, não levavam as coisas a sério.
Verificadas as coisas, chegou-se à conclusão de que todas as granadas de morteiro existentes eram de iluminação…foi uma guerra bonita em que ninguém ficou ferido, afinal todas as guerras deviam ser assim.
Regressei ao Luso de Heli.
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