quinta-feira, 4 de setembro de 2014

CASOS VIVIDOS. POR ÁLVARO BARROSO

O AB4 - Aeródromo Base nº. 4 tinha mais alguns destacamentos, como o Camaxilo, Gago Coutinho, Luso e o Cazombo ( Aeródromo de Manobras nº. 43  -  AM43 ), local onde se passaram estes dois casos em datas diferentes, mas não muito distantes, um do outro.
Cazombo - foto de Luis Tomóteo
Como destacamentos que eram e embora fosse cumprida a disciplina militar, ela não era tão rígida como na Base principal (AB4), daí a rapaziada deixar crescer o cabelo, a barba, não se fardar a rigor, etc..
Em ambas as situações a razão é a mesma e tem como primeira figura o Comandante do AB4 na época, que fazia visitas periódicas aos destacamentos, mas de surpresa e voava sempre, sem revelar o destino. Quer isto dizer, que só se sabia quando ele lá ia, quando já lá chegava.

Primeiro caso:
Aproveitando a tal liberdade de barbas e cabelos, um especialista que desde criança tinha uma cabelo muito fraco ( e que por essa razão os pais, chegaram a levá-lo a Espanha a consultas da especialidade ) resolveu rapar o cabelo, na tentativa de que ele quando voltasse a crescer, viesse com mais força.
E ao mesmo tempo que cortou o cabelo, deixou crescer a barba. A barba ia crescendo o cabelo também, mas ele a barba deixava e o cabelo, ia sempre cortando rente.
Passado algum tempo, já tinha uma bela barba mas sempre com o cabelo rapado.
É nesta figura, que o Comandante faz uma das suas visitas surpresa ao destacamento e ao encarar com o especialista, vira-se para o comandante do destacamento e pergunta:
- Quem é aquele “ gajo “  que está ali, com a cabeça virada ao contrário ?
Seguiram-se as explicações e razões, mas não sem a ordem imediata de ir cortar a barba.

Segundo caso:
Numa dada tarde e sem nada para fazer, pois que tudo estava operacional, o que é que a rapaziada se lembrou: Ir fazer tiro ao alvo, para um morro que havia perto do AM. Levámos as latas do óleo de abastecer os aviões e o helicóptero, para servirem de alvo e lá fomos.
Quando tudo decorria normalmente eis que surge no ar um T6 sozinho (caso raro, pois que voavam sempre em parelha) e logo pensamos: É o Comandante !?!? ...E não nos enganámos !
Mas assim que tínhamos avistado o avião, logo arrumamos tudo e quando já vínhamos de regresso, ia ao nosso encontro o jeep do AM, que nos confirmaram ser mesmo o Comandante e que estava “bravo“, pois que tinha uma avaria no avião e já tinha perguntado por mim (que era o electricista dos aviões e da central eléctrica) e claro, não estava presente.
Passei rapidamente pela camarata para me compor (fardamento), e lá fui direito ao avião
para saber da avaria. Os mecânicos que tinham recebido o avião puseram-me ao corrente, reportando as palavras do Comandante (que era quem pilotava) embora viesse acompanhado de outro oficial piloto.
- Aterrei com o trem desbloqueado, podia ter tido um grave acidente! Vejam isso rapidamente e façam ensaios de trem.
- Senhor Comandante, mas nós aqui não temos macacos para pôr o avião no ar e fazer testes, além de que o trem está bloqueado e o problema deve ser só, falta de indicação luminosa (parte eléctrica).
- Se não têm macacos, vão pedir à JAEA (Junta Autónoma das Estradas de Angola) os macacos das camionetas “como se tudo, fosse a mesma coisa “ e vejam isso.
Após esta conversa saiu de junto do avião e foi-se reunir com o comandante do exército, que tinham o aquartelamento anexo ao AM, separado por uma vedação de arame farpado.
Após estar a par dos acontecimentos, fui ver o que estava a acontecer: Verifiquei que na realidade a luz avisadora de trem bloqueado estava apagada e que a lâmpada estava boa, só poderia ser do micro interruptor. E era mesmo, pois que o tive que regular e afinar. ( Para quem não sabe, a luz avisadora situa-se no painel frontal do piloto e o micro interruptor, fica na estrutura do avião, junto à perna do trem ).
Quando o Comandante regressou, foi-lhe dito o que tinha acontecido e o que tinha sido feito, e que o avião estava operacional.

Meteram-se no avião o Comandante e o oficial piloto, motor em marcha, e lá se foram.
Ainda nem tinham passado cinco minutos, eis que o começamos a vêr de volta, e a preparar -se para aterrar.
Primeiro pensamento e troca de impressões: Lembrou-se de que o pessoal não estava cá, quando da chegada e vai distribuir “porrada“ …..
Nada disso, pára o motor abre a carlinga, começa a esbracejar sem sair do avião e grita para o mecânico, que sobe pela asa: - Vi saltar faíscas aqui, o que estiveram a fazer?!
Acto imediato, o mecânico vendo pela indicação que ali era a parte de rádio, chama o mecânico de rádio. Este logo diz, que não mexeu em nada, que quem esteve a mexer, foi o electricista.
Lá vou eu e é-me dito a mesma coisa, que tinha visto faíscas a saltar.
- Senhor Comandante, aí é da parte de rádio, onde eu estive a mexer, foi lá em baixo no trem, e está tudo em ordem.
- Tá bem, ok, SOU EU QUE ESTOU MALUCO. Hó Terminado (nome fictício para o oficial piloto) vamos mas é embora.
E lá foram, chegaram bem ao AB4 e felizmente para todos, não houve “porradas“.

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