O AB4 - Aeródromo Base nº. 4 tinha mais alguns
destacamentos, como o Camaxilo, Gago Coutinho, Luso e o Cazombo ( Aeródromo de
Manobras nº. 43 - AM43 ), local onde se passaram estes dois casos em
datas diferentes, mas não muito distantes, um do outro.
Cazombo - foto de Luis Tomóteo |
Como destacamentos que eram e embora
fosse cumprida a disciplina militar, ela não era tão rígida como na Base
principal (AB4), daí a rapaziada deixar crescer o cabelo, a barba, não se fardar a
rigor, etc..
Em ambas as situações a razão é a
mesma e tem como primeira figura o Comandante do AB4 na época, que fazia
visitas periódicas aos destacamentos, mas de surpresa e voava sempre, sem
revelar o destino. Quer isto dizer, que só se sabia quando ele lá ia, quando já
lá chegava.
Primeiro caso:
Aproveitando a tal liberdade de
barbas e cabelos, um especialista que desde criança tinha uma cabelo muito
fraco ( e que por essa razão os pais, chegaram a levá-lo a Espanha a consultas
da especialidade ) resolveu rapar o cabelo, na tentativa de que ele quando
voltasse a crescer, viesse com mais força.
E ao mesmo tempo que cortou o
cabelo, deixou crescer a barba. A barba ia crescendo o cabelo também, mas ele a
barba deixava e o cabelo, ia sempre cortando rente.
Passado algum tempo, já tinha uma
bela barba mas sempre com o cabelo rapado.
É nesta figura, que o Comandante faz
uma das suas visitas surpresa ao destacamento e ao encarar com o especialista,
vira-se para o comandante do destacamento e pergunta:
- Quem é aquele “ gajo “
que está ali, com a cabeça virada ao contrário ?
Seguiram-se as explicações e razões,
mas não sem a ordem imediata de ir cortar a barba.
Segundo caso:
Numa dada tarde e sem nada para
fazer, pois que tudo estava operacional, o que é que a rapaziada se lembrou: Ir
fazer tiro ao alvo, para um morro que havia perto do AM. Levámos as latas do
óleo de abastecer os aviões e o helicóptero, para servirem de alvo e lá fomos.
Quando tudo decorria normalmente eis
que surge no ar um T6 sozinho (caso raro, pois que voavam sempre em parelha) e
logo pensamos: É o Comandante !?!? ...E não nos enganámos !
Mas assim que tínhamos avistado o
avião, logo arrumamos tudo e quando já vínhamos de regresso, ia ao nosso
encontro o jeep do AM, que nos confirmaram ser mesmo o Comandante e que
estava “bravo“, pois que tinha uma avaria no
avião e já tinha perguntado por mim (que era o electricista dos aviões e da
central eléctrica) e claro, não estava presente.
Passei rapidamente pela camarata
para me compor (fardamento), e lá fui direito ao avião
para saber da avaria. Os mecânicos que tinham recebido o avião puseram-me ao corrente, reportando as palavras do Comandante (que era quem pilotava) embora viesse acompanhado de outro oficial piloto.
para saber da avaria. Os mecânicos que tinham recebido o avião puseram-me ao corrente, reportando as palavras do Comandante (que era quem pilotava) embora viesse acompanhado de outro oficial piloto.
- Aterrei com o trem desbloqueado,
podia ter tido um grave acidente! Vejam isso rapidamente e façam ensaios de
trem.
- Senhor Comandante, mas nós aqui
não temos macacos para pôr o avião no ar e fazer testes, além de que o trem
está bloqueado e o problema deve ser só, falta de indicação luminosa (parte
eléctrica).
- Se não têm macacos, vão pedir à
JAEA (Junta Autónoma das Estradas de Angola) os macacos das camionetas “como
se tudo, fosse a mesma coisa “ e vejam isso.
Após esta conversa saiu de junto do
avião e foi-se reunir com o comandante do exército, que tinham o aquartelamento
anexo ao AM, separado por uma vedação de arame farpado.
Após estar a par dos acontecimentos,
fui ver o que estava a acontecer: Verifiquei que na realidade a luz avisadora
de trem bloqueado estava apagada e que a lâmpada estava boa, só poderia ser do
micro interruptor. E era mesmo, pois que o tive que regular e afinar. (
Para quem não sabe, a luz avisadora situa-se no painel frontal do piloto e o
micro interruptor, fica na estrutura do avião, junto à perna do trem ).
Quando o Comandante regressou,
foi-lhe dito o que tinha acontecido e o que tinha sido feito, e que o avião
estava operacional.
Meteram-se no avião o Comandante e o
oficial piloto, motor em marcha, e lá se foram.
Ainda nem tinham passado cinco
minutos, eis que o começamos a vêr de volta, e a preparar -se para aterrar.
Primeiro pensamento e troca de
impressões: Lembrou-se de que o pessoal não estava cá, quando da chegada e vai
distribuir “porrada“ …..
Nada disso, pára o motor abre a
carlinga, começa a esbracejar sem sair do avião e grita para o mecânico, que
sobe pela asa: - Vi saltar faíscas aqui, o que estiveram a fazer?!
Acto imediato, o mecânico vendo pela
indicação que ali era a parte de rádio, chama o mecânico de rádio. Este logo
diz, que não mexeu em nada, que quem esteve a mexer, foi o electricista.
Lá vou eu e é-me dito a mesma coisa,
que tinha visto faíscas a saltar.
- Senhor Comandante, aí é da parte
de rádio, onde eu estive a mexer, foi lá em baixo no trem, e está tudo em
ordem.
- Tá bem, ok, SOU EU QUE ESTOU
MALUCO. Hó Terminado (nome fictício para o oficial piloto) vamos mas é
embora.
Deliciosas, as histórias.
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