Estávamos na penúltima semana da recruta, a minha secção foi punida com uma carecada geral, e um fim de semana de serviço, por ser apanhado desenfiado numa noite de instrução nocturna. Cada um foi destacado para cumprir o castigo nos diversos serviços da base que funcionavam aos fins-de-semana. A mim coube-me o serviço de faxina nas cozinhas dos refeitórios, deram-me uma faca uma palete de sacas de batatas e vários contentores de plástico semelhantes aos usados para a recolha do lixo, e eu mais três felizardos passámos todo o dia a descascar batatas para dentro dos contentores, no fim da tarde tínhamos descascado a totalidade da palete, e fomos dispensados.
No Domingo, achei que aquilo já eram batatas a mais e comecei a pensar como é que
Messes |
Era Domingo de manhã, não havia ninguém à vista que pudessem interferir na “tramóia”, quando acabassem por descobrir os tabuleiros no fundo dos contentores, já nós estaríamos de férias, e ninguém se ralaria com isso, pois de certeza que os soldados que descobrissem a coisa não iriam fazer queixa sem saber quem iriam tramar, podendo até sobrar para eles.
As "panelas de pressão" |
Todos os dias tinham de ser lavadas por dentro, como as normais, para retirar os restos de comida, de modo a não adulterar o sabor e a qualidade dos alimentos nelas cozinhados, teriam um metro e sessenta de altura do nível do chão, e quando o oficial de dia e a restante comitiva entraram na sala, depararam-se com um espectáculo impensável, um dos soldados que tinha sido incumbido de lavar as panelas resolvera tomar banho dentro duma delas usando o vapor para aquecer a água, e o detergente industrial para se ensaboar. Era ele que cantava desafinadamente no “Jacuzi” para espanto dos presentes, não restando ao Oficial de dia outra atitude que não fosse dar-lhe ordem de prisão imediata, obrigando-o a marchar nu na sua frente para a prisão.
E quem era o banhista afinal, era o famoso “Zé do burro”, o mesmo que andava com o carro de recolha do lixo pela unidade, e que dizia a voz da caserna “ser o burro mais inteligente que ele”, mas ninguém tinha melhor vida que aquele “bacano” o burro já fazia hà tantos anos o serviço, que sozinho dava a volta à Unidade, e quando não vinham despejar o lixo no carro, zurrava até que alguém aparecesse e o mandasse embora do início ao final do percurso, e o Zé esse estava sempre desenfiado nalgum lado...
No dia seguinte, pensávamos nós que não haveria recolha do lixo, mas para espanto de todos, lá vinha o burro à frente com o carro, e o Zé “careca” e “murcho”, com um PA ao lado sob prisão, atrás.
No dia seguinte, pensávamos nós que não haveria recolha do lixo, mas para espanto de todos, lá vinha o burro à frente com o carro, e o Zé “careca” e “murcho”, com um PA ao lado sob prisão, atrás.
Ota Abril de 1970.
OPC ACO
Muito bom......muito bom...mesmo.
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