Cazombo em 1972 - foto de Manuel Ribeiro da Silva |
No meu primeiro destacamento no Cazombo, fui com o Mangas, um Angolano que era completamente louco, substituir julgo que o Sousa de Fafe, e o Albuquerque, operadores que já estavam à bastante tempo de seca.
Rua principal |
Logo na minha primeira saída “turística” pela “cidade” deparei-me com uma pick-up Chevrolet, modelo dos anos sessenta, de um azul desbotado pelo tempo e abandono, em muito mau estado de conservação, sem vidros e sem rodas, implantada em cima de uma série de troncos, mas o que me despertou ainda mais a atenção, é que tinha o motor a trabalhar ruidosamente, com dois homens dentro um civil e um militar do Exército, que estavam aparentemente a efectuar manobras como se a viatura estivesse em movimento, especialmente o militar que estava sentado no lugar do condutor, virava o volante a um lado e ao outro, metia mudanças e fazia sinais indicadores de mudança de direcção com os braços. Perguntei ao Mangas, se sabia o que faziam aqueles dois “abelharucos” sentados dentro de uma relíquia daquelas todos contentes como se aquilo fosse normal...
O Mangas na sua sabedoria de mais velho e Angolano, sentenciou: o militar está a receber uma aula de condução. Olhei para ele espantado, mal o conhecia, era o meu primeiro destacamento, e aquilo, parecia-me no mínimo uma grande “tanga”, retorqui... espera lá, queres-me convencer, que aquilo é um veículo de instrução onde se aprende a conduzir e se tira a carta, em cima de troncos... é pois, inscreves-te, pagas, dás umas aulas, depois vem o examinador do Luso, antes que ele chegue dão-te as perguntas, decoras tudo, arranjas um envelope com o “abono” para lhe entregares durante o almoço, e depois é só aguardar pela carta.
Depois daquela explicação, passei a andar com mais atenção sempre que saía da cerca do Aeródromo, não fosse ter algum mau encontro com os “encartados” com um método de instrução tão científico... também para um sítio que nem tinha estradas, para que era preciso ter carta?
1971 - foto de Fernando Dias do BCaç.4212 |
P.S. Uns anos depois do 25 de Abril, a Direcção Geral de Viação, mandou recolher todas as cartas tiradas nas Ex-Províncias Ultramarinas, para efectuar a uniformatização de todas as Licenças de condução, nas do Moxico, veio-se a constatar que na sua maior parte eram simplesmente falsas, pois os “examinadores” limitavam-se a enviar licenças de condução que não tinham qualquer registo legal, não tendo elas qualquer validade.
Por:
OPC ACO
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