quinta-feira, 12 de setembro de 2013

UM RÁDIO, UM GUERRILHEIRO E UM SOLDADO...

A história começou em Moçambique, na província de Tete, há mais de quatro décadas, no tempo da guerra colonial e da luta armada de libertação.
Num assalto a uma base da Frelimo é feito um prisioneiro e o oficial do exército português que comandou o golpe de mão confiscou-lhe um aparelho portátil de rádio.
Guerrilheiro da Frelimo transportado, sob a guarda de soldado português, em helicóptero rodesiano
Agora, passados quase 42 anos, esse oficial, na altura o alferes Jaime Foufre Andrade das Operações Especiais, quer devolver o rádio com um abraço ao seu legítimo proprietário ou a seus familiares.
O rádio a devolver

 'Quero encontrar outra vez esse guerrilheiro, que agora já não é guerrilheiro -- é um cidadão moçambicano normal -- e dar-lhe um abraço e devolver-lhe aquilo que lhe pertence' 
ex-Alferes Jaime Andrade

A operação
Foi mais um episódio de uma guerra prolongada entre as forças coloniais portuguesas e a guerrilha da
Frelimo, em que se registou a participação da Força Aérea da Rodésia.
Em Setembro de 1968, as forças portuguesas no acampamento de Tembué são envolvidas numa grande operação, denominada Equador, contra a guerrilha.
Durante um voo de observação efectuado pelos rodesianos tinha sido referenciada uma importante base da guerrilha, a Base Beira, que fora montada por Samora Machel.
Imediatamente se organizou uma acção bélica tendo sido destacado o alferes Andrade, das Operações Especiais, para comandar o grupo que iria efectuar o assalto à base do 'inimigo'. 
O alf. Andrade 
Partindo de Tembué em helicópteros Alouette III rodesianos, os militares portugueses são largados em terreno difícil próximo da base para tentar um assalto de surpresa.
Segundo a narrativa do alferes Andrade, sob um sol escaldante do meio-dia o grupo orienta-se pela bússola seguindo silenciosamente em direcção ao objectivo.
Na frente seguia um soldado moçambicano, o cipaio Guiguira, que iria servir de intérprete para o caso de haver contacto com o 'IN' ou com algum elemento da população.
E é Guiguira o primeiro a detectar um guerrilheiro que, envergando farda caqui, caminhava descontraído, com a arma a tiracolo e um rádio portátil na mão direita. 
A captura
A tropa portuguesa imobiliza-se enquanto que o guerrilheiro continua descontraído a avançar na sua direcção, com o rádio a transmitir 'uma bem ritmada marrabenta'. 

 De repente Guiguira pára. Fica imóvel. Deve ter avistado a base. Faço o clássico sinal de inimigo à vista e o pessoal recolhe-se. Guiguira continua imóvel. Parece hipnotizado. Sigo o seu olhar e... congelo: vem lá um guerrilheiro!

Alferes Jaime Andrade

Com a distância a encurtar-se, o guerrilheiro de repente imobiliza-se e descobre a presença da tropa portuguesa.
Segundo o relato do alferes Andrade à BBC, o guerrilheiro 'deixa cair o rádio, tenta a arma e lança-se numa corrida em ziguezague' para escapar às balas e desaparece entre a vegetação.
Com todo o ruído que envolveu este recontro estava definitivamente estragado o efeito surpresa para o assalto à base.
Os portugueses procuram o guerrilheiro e encontram-no ferido numa perna e só depois de lhe prometerem que não o matariam é que ele se entrega. 
O rádio
O guerrilheiro é aprisionado e são-lhe administrados os primeiros cuidados médicos necessários para os ferimento numa perna e no calcanhar, que não são graves.
Foi então nessa altura que o comandante da força de assalto portuguesa se apodera do aparelho de rádio, que considera um troféu de guerra.
A operação prossegue depois mas já sem o efeito surpresa e, quando a tropa portuguesa entra na base, só encontra população-- alguns elementos idosos mulheres e crianças -- e pouco material importante.
Os ruídos provocados pelo encontro com o 'homem do rádio' tinham alertado os guerrilheiros da Base Beira que, em vez de fazer frente ao inimigo, preferiram pôr a salvo 
 Al III rodesiano 
todo  equipamento e documentação importante.
E depois de uma noite 'na mata' e de uma longa caminhada, a tropa portuguesa com o pouco material que conseguiu encontrar, com o prisioneiro e elementos da população, é transportada de novo nos hélis rodesianos para o Tembué.
Quem é o dono do rádio?
Muitos anos passaram desde a guerra colonial e o Jaime, o antigo alferes Andrade, foi tomando consciência de que não era o legítimo proprietário do rádio.
O aparelho foi sempre muito estimado, encontra-se em perfeitas condições e o Jaime quer devolvê-lo, precisando para isso de identificar o antigo guerrilheiro ou algum familiar para o contactar. 
O dono do rádio... 
Para isso são importantes os dados referentes à operação, nomeadamente o local e a data em que ocorreu.
O golpe de mão contra a Base Beira, junto ao rio Kapoche, decorreu dentro de uma operação muito mais ampla denominada Equador.
O grupo do alferes Andrade partiu do acampamento de Tembué e para lá regressou no final do ataque à base da Frelimo.
Pontos importantes:
Data: 17 de Setembro de 1968
Local: Base Beira, junto ao rio Kapoche, na província de Tete.
Factos: o guerrilheiro estava armado com uma arma automática, uma pistola-metralhadora PPSH de fabrico chinês, e no final foi evacuado num helicóptero rodesiano (como se vê na imagem inicial).
Quem tiver alguma informação sobre o guerrilheiro em causa ou algum familiar seu poderá contactar-nos através do nosso website (no lado esquerdo da nossa página clique em Contacte-nos). 
Um rádio, um guerrilheiro da Frelimo e um soldado português...


28 Janeiro, 2011




2 comentários:

  1. Saurimo, Catangese were also in this city ?

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    1. Saurimo is a city of ANGOLA, his name was "Henrique de Carvalho" in the time of portuguese colonial war.

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