terça-feira, 17 de abril de 2012

MEMÓRIA DE UMA VIAGEM PARA LUANDA

Plano da viagem Luso-Luanda
Vamos recuar quase...40 anos, mais própriamente ao dia 26-04-72, AM44Luso. O sol nasceu como nos habituou....sorridente e brilhante. No aeródromo estavam já os quatro intervenientes desta "MEMÓRIA": HELI 9333 ("primo"), o Cap. PIL Costa Santos, o EABT Edmundo Paulino e o MELEC António Borges
Após ter reunido algumas peças sobressalentes e o  Borges ter recarregado a bateria do heli, eis-nos na placa com o material e respetiva documentação para a entrega em Luanda-BA9 do heli 9333 ao país de origem. Decerto se lembram o significado do termo " primo", eram os Alouettes III "emprestados" pela África do Sul.
No aeroporto de Nova Lisboa
Descolamos com destino a Silva Porto onde aterramos após 2,05h de voo. Bonita cidade, onde reabastecemos e de seguida com mais 1 hora de voo aterramos na cidade de Nova Lisboa (Huambo), onde pernoitamos. "Era" uma cidade bonita, com ruas largas e com muitas flores e onde pela primeira vez vi mulheres cobradores nos autocarros (já na altura, muito á frente ). Eu e o Borges vimos a sede das famosas corridas automobilísticas "24 horas de Nova Lisboa" e claro que demos umas voltas pela cidade. Na manhã seguinte bem cedo, estavamos no aeroporto de Nova Lisboa para seguirmos para Santa Comba, Quibala e Luanda. Á saída de Quibala apanhamos um forte nevoeiro que em conjunto com a topografia do terreno com serras, fomos forçados a aterrar numa fazenda de nome "BUMBA". Ao aterrarmos junto a palmeiras, logo veio o capataz, um senhor de Viseu há muitos anos em Angola que foi excecional na recepção. 
Logo pela manhã queria ir fazer churrasco para comermos, mas tínhamos tomado o pequeno almoço havia pouco, mas mesmo assim levou-nos para a sua casa onde nos serviu café puro da fazenda (foto), chouriço caseiro picante, manteiga etc, etc. Para ele e esposa foi de grande alegria a nossa chegada, pois há muito que não conviviam com pessoas da metrópole, pois tinham 2 filhas a estudar em Luanda, para as quais houve tempo para escreverem cartas para nós levarmos, enquanto nós admirávamos a plantação de cafeeiros (foto). Contou-nos ainda que muita vez ia à caça para subsistência e que o café produzido na fazenda ia para Luanda para torrar e 90% dele ia para o proprietário na Alemanha.
Na fazenda Bumba
Passado o nevoeiro, eis-nos a caminho do heli para prosseguirmos viagem, quando surpresa das surpresas a turbina não pegava. Falhada a primeira tentativa, o Cap. Costa Santos aguardou um pouco,  tentou segunda vez e... nada. Entretanto o Borges verificou velas, cabos, etc,etc. e tudo estava bem. À saída de Quibala, Luanda foi informada da nossa hora de chegada (ETA), mas como ainda estávamos na referida fazenda, foi tentado via rádio a correção da ETA.  Não era conseguido contacto uma vez que estávamos rodeados de serra, que dificultava as comunicações apesar dos vários canais tentados, inclusive um avião comercial que ouviamos muito ao longe. Entretanto, o Cap. Costa Santos, que embarcava para a Metrópole no dia seguinte, ao ver o tempo passar, começou a ficar nervoso. É então que o Borges diz que se na terceira tentativa a turbina não trabalhasse, nada feito pois a bateria não aguentava mais. O Cap. Costa Santos respirou fundo, ligou a ignição e dizia: vai....vai....vai, tenho de ir para a Metrópole. A máquina não obedeceu!
E agora? 
Bem, como um Especialista nunca se atrapalha, o Borges sugere ao capataz da fazenda
Na Quibala com António Borges
arranjar baterias
 
de camioneta para ligá-las para o arranque, o que com simpatia se prontificou a fazer. O tempo passa e o Capitão vendo a Metrópole cada vez mais longe tenta uma quarta vez e... vai...vai....vai e a turbina pegou. Grande alegria para todos, tendo o Borges dito que a bateria excepcionalmente aguentou 4 arranques pois tinha-a posto à carga na véspera e estava na carga máxima. 
Após descolarmos daquela paisagem maravilhosa, era prioritário informar Luanda a nossa nova hora de chegada (ETA) o que só foi possível fazendo relé com um avião comercial. Soubemos depois que devido ao nosso atraso  e não comunicarmos via rádio, fomos dados como "desaparecidos" tendo inclusive, descolado um Puma da BA9 com combustível para nós. 
O All III entregue
Após 1,35h de voo  estávamos a chegar a Luanda e com nova peripécia, que desta vez poderia ter sido bem pior. O Capitão pediu autorização á torre para aterrar e cruzar a pista para o heliporto, o que foi concedido sem qualquer outra informação, pois todos tínhamos auscultadores e ouvimos bem a palavra "autorizado". Quando cruzávamos a pista, eis que surge da nossa direita um Cessna a descolar e o acidente só não se deu por um mero milagre porque o Capitão Costa Santos deu um ligeiro toque no manche e o Cessna passou mesmo à nossa frente.  
Começou então uma "guerra" de palavras entre Cessna/Torre/Heli. O piloto do Cessna dizia para a torre: viram o que ia acontecendo? 
A torre  comunicava   com o heli dizendo que ia reportar a nossa manobra ao que a resposta foi: pode reportar e até participar, o meu nome é... fiz o correto e fui autorizado. 
Aterramos em segurança, despedimo-nos do nosso companheiro de viagem, entregamos o heli na BA9 e na segunda-feira regressamos de Nord AB4/Luso.




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