domingo, 2 de outubro de 2011

PAA55 - PELOTÃO DE ARTILHARIA ANTIAÉREA 55 - AB4

Recordações de há 49 anos, pela escrita do Comandante do PAA55 - Alferes Mário Arteiro, que após estes anos tivemos o grato prazer de encontrar.
O nosso bem-haja, recordando-nos o que foi o início da nossa Base, o AB4.
1962 - Imagem do aquartelamento
Para além de uma memória que ainda não me largou, fiquei sempre grato à colaboração tida com o AB4 no início do seu nascimento, mesmo antes da permanência de guarnição própria.
Colaborámos e até cacei umas peças que "partilhamos" no refeitório do meu aquartelamento de madeira.
Também partilhámos a água canalizada, como alternativa à que tínhamos que recolher em atrelado que se deslocava ao Chicapa! Para isso construímos até um torreão com bidões de 200 litros onde a armazenávamos e que servia simultâneamente de torre de vigia de onde se desfrutava a vista da foto anterior.
Lembro-me dos "parceiros" que aparecem na foto de despedida do primeiro Agrupamento no Comando da ZIL (depois da “Operação Montes Claros” com o envio de tropas para o Leste - de Luanda para o Lobito no Niassa e depois pelo C.F. de Benguela até ao Luso e finalmente por meios próprios até às posições finais).
1963 - Fogos reais, T6 sem manga de reboque
Posição inicial da peça
Só os meus radares foram por terra de Luanda para Nova Lisboa tendo sido ali carregados em vagões especiais. A sua descarga no Luso foi um drama, pois os guindaste existentes vergaram ao peso da carga e tivemos que montar os rodados e usar “macacos” usados nos caminhos de Ferros com deslocamento vertical e lateral para os colocarmos em posição e arrastar fazendo deslizar os rodados sobre superfície escorregadia ensopada em óleo. 
O avanço do Luso para Henrique de Carvalho foi uma odisseia, pois demoramos 3 dias pela picada que existia, depois de alargada por moto-niveladoras, após o avanço das unidades mais importantes.
Antes do fim da comissão, percorri a estrada já asfaltada pelos "Motas" em 3 horas! 
Relembro o Piloto Santa Maria, que recordo ser um apaixonado pela viola. Minha filha nascida no Dundo, Diamang, foi transportada na sua primeira viagem de regresso “a casa”, pela FAP, em Agosto de 1963, num DO-27, com a Mãe. 
Localizámos, um dia em que o vosso rádio farol estava "off" ,nos nossos radares, um alvo que tinha desaparecido entre o Luso e Henrique de Carvalho e acabou por ser o correspondente a um voo vosso que fez uma aterragem forçada (também um DO-27). As aeronaves de busca idas de Luanda para localização, encontraram o DO capotado que foi recolhido mais tarde. Felizmente não houve vítimas entre os tripulantes. Esse facto foi realçado numa referência da Região Aérea ao Pelotão. 
Fomos herdeiros da lavra/horta de abacaxis,que o Capitão das Infraestruturas da FAP deixou quando acabou a comissão. 
Fizemos os únicos fogos REAIS de AA nas Forças Armadas Portuguesas, que eu saiba, sem mangas de reboque e com munições reais. Treinei os minhas guarnições com a ajuda dos vossos T6 para definir rotas de aproximação, zonas de sombra dos radares, e voos picados sobre as posições que tínhamos inicialmente criado com abrigos permanentes que os buldozers das Infraestruturas ajudaram a escavar. 
Quando apareceram os aviões dos mercenários da Guerra do Katanga fugidos de Kolwesi foram recebidos, sem problemas, com os tradicionais abanos de asa depois de termos comunicado as aproximações dos alvos detectados nos radares e já com o Major Chefe do Estado Maior do Comando de Agrupamento 3, presente junto à pista de laterite, próxima do Terminal transformado em PC. Deixei o DC3 do Moisés Tschombé levantar para ir ao Katanga recolher armas, que me informaram terem sido deixadas para trás. Entre elas havia pistolas metralhadoras Sterling, Franchi Brescia, Berettas de 2 gatillhos, lança rokets de 5 polegadas e munições.
Dakota de Tshombé

Quando a equipe de recuperação da FAP veio de Luanda, um 1º. Cabo Mecânico que recentemente havia obtido o brevet, arrancou com um Piper e despenhou-se ao levantar quando tentava guinar para a esquerda e o motor entrou em perda.
Não houve explosão nem incêndio mas o infeliz morreu. Tenho o nome dele algures mas penso que se chamava Portugal...

Quando chegámos a Henrique de Carvalho, fomos acompanhados pelas secções de Peças do Pel. AA 56 que seria para ser instalado junto à barragem do Dundo na Companhia dos Diamantes de Angola. A secção de radares desse pelotão foi destacada para o Ambriz para vigilância de costa pois pairavam por essas bandas uns "pesqueiros" soviéticos, que aparentemente eram usados para transporte de armamento. 
Recordo que os vossos paióis estavam do lado oposto da picada que passava defronte do meu quartel e da entrada do Aeródromo Base talvez a cerca de 300 m, em 3 construções precárias...! 
Recordo ainda, que no primeiro voo picado sobre uma das peças, em que eu seguia no T6 com o vosso piloto, a guarnição fugiu espavorida pensando que o avião se ia despenhar....! 
Esqueci, que um dos episódios pouco conhecidos do AB4 foi a passagem do Presidente da República de então, Almirante Américo Tomaz, salvo erro, de regresso a uma viagem a Moçambique.

A foto do Gen. Silvino Silvério Marques em que apareço também com a farda branca pouco habitual...é desse acontecimento.

Foram tempos inesquecíveis.
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