Já lá vão quase 43 anos, mas a emoção passada a bordo do avião da TAP Caravelle jamais será esquecida. Amado da Cunha e João Graça foram os escolhidos para chefiar a tripulação que trouxe a Portugal Paulo VI. O Papa só visitou Fátima e partiu de imediato.
"Continuo convencido de que só fui escolhido para pilotar o avião, naquele dia, porque era o chefe da divisão do Caravelle". Aos 88 anos e a poucos dias de completar 89, Francisco Amado da Cunha mantém gravados na memória todos os acontecimentos de Maio de 1967.
Salazar havia dito que, enquanto fosse vivo, o Papa não entraria em Portugal. Talvez por isso, o comandante da TAP recebeu com estranheza as ordens superiores. "O comandante Silva Soares veio ter comigo, em finais de Abril, e disse-me: 'é nas suas mãos preciosas que o Papa Paulo VI vem a Portugal'".
Amado da Cunha seria o piloto e João Graça o co-piloto do "Diu", um dos três Caravelle da companhia. A tripulação era ainda composta pelo chefe de cabina, Orloff Esteves, os comissários Manuel Barbeiro, Luiz Garin e José Rosa e as assistentes de bordo Maria do Socorro Piçarra e Maria do Rosário Vaz.
Apenas a 9 de Maio se soube do plano de voo e dos horários a cumprir. "Este foi um trabalho de equipa e não só dos pilotos. Estávamos todos entusiasmados para que tudo corresse bem", frisa João Graça, que em Setembro próximo completa 90 anos. A residir em Vilamoura, o antigo comandante diz que a viagem "foi encarada como um serviço normal". "Foi o que fizemos e saímo-nos bem", reforça.
Amado da Cunha, a residir em Lisboa, acredita que "foi Deus que permitiu que naquela ocasião fosse chefe de divisão" e assim ser escolhido para a viagem. Com o avião "revestido" com as cores do Vaticano e com três compartimentos separados - um dos quais apenas para o Papa se sentar - e um serviço de catering "chiquíssimo", a tripulação portuguesa dirigiu-se a Roma a 12 de Maio, para ir buscar Paulo VI. "As pessoas da Alitália [companhia aérea italiana] não nos trataram bem, porque eles é que queriam fazer a viagem com o Papa", conta João Graça, adiantando que a viagem foi entregue "por influência do cónego Galamba de Oliveira".
A comitiva desloca-se para Portugal a 13 de Maio e o avião aterra na base aérea de Monte Real. O Papa ruma ao santuário de Fátima num Mercedes descapotável, enquanto avião e tripulação seguem para o aeroporto de Lisboa. Ao final do dia, já em Monte Real "recolhem" Paulo VI e rumam novamente a Roma. "A viagem demorou 2.30 horas e o Papa veio ao cockpit e fez questão de cumprimentar a tripulação um por um", lembra Amado da Cunha.
Folheando o álbum de fotografias e recortes de jornais e a carta com a ementa servida ao Papa, o piloto recorda que três anos depois a tripulação foi recebida por Paulo VI, em Castelo Gandolfo. "Ele olhou para mim sorriu e disse: já não o via há três anos".
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