quinta-feira, 6 de maio de 2010

CONVERSAS COM SÁ MOÇO - A CULTURA QUIÔCA

Eis, sobre o povo Quiôco-Tchokwe, um trabalho verdadeiramente espectacular do amigo Carlos Alberto Santos, que prestou serviço militar no Alto Cuito, http://cc3485.no.sapo.pt/ ,no período de 1972-1974.
Porque entendemos, que retrata fielmente a vida e os costumes daquele povo, que de alguma forma vivemos, decidimos fazer a sua divulgação.
Aconselhamos a vossa leitura.

CONVERSAS COM SÁ MOÇO

Preliminares 

Aqueles que leram o meu trabalho, Tchicapa, o final da viagem, certamente deram conta de algumas críticas e comentários. 
Independentemente do juízo feito, procurei ser justo, e evitei a ficção. 
Neste segundo trabalho, Conversas, com Sá Moço, elas vão voltar a aparecer, aqui e acolá, sempre sem intenções políticas ou de rancor. 
As reflexões, deixo-as a outros mais doutos. 
Como no primeiro trabalho, apresento-me tal como sou, com defeitos e a virtude de ser sincero e interessado com quanto se passou na nossa passagem por África, por vezes com desgraçados dias. 
Os meus próximos textos, evitando a fixação psico-traumática, vão abordar a singeleza da vida, não esquecendo que sou, somente, um dos muitos militares milicianos que passaram por Angola e que a tais memórias dedica um olhar calmo e enternecido. 
Em consequência, tratarei, a partir de hoje, de rebuscar recordações e conversas com um homem natural da região do Tchicapa, para, ao mesmo tempo que as partilho, lhes devolver alguma da antiga e perdida clareza. 
Nas minhas muitas vidas (não de nascimento), entre sonhadas e verdadeiras, nos distantes anos da década de 1970, encontrei o Sá Moço, um homem katchokwe (quiôco) com cerca de 40 anos de idade. Um ser humano, auto-suficiente, que tinha falta de tudo, mas não sentia falta de nada 
Recordo-o com admiração.

Sem o ser, era engenheiro, médico, psicólogo, pisteiro, e… na maior das calmas e com muita inocência lá ia dizendo que o IN (inimigo) também precisava de ajuda, quando aparecia na aldeia.
Quem, algum dia, foi militar, costuma ser um pródigo contador de histórias, umas ligadas à guerrilha e outras, de coisas mais singelas, no entanto, nos textos que se seguem, vou escrever sobre a vida de um povo que foi importante na minha formação e me transformou num eterno enamorado da natureza e das coisas belas e boas que ela nos proporciona.
Enfim, vou escrever sobre, as minhas vivências com o Sá Moço, a vida no quimbo, as festas, os modos de vida e de figuras típicas que por lá encontrei, das muitas pessoas, boas e interessantes que conheci, e ainda, só um pouco, dos seres francamente racistas, grosseiros, brutos e porcos, que também os havia, e… que hoje, em 2009, à sombra da democracia e aproveitando a ingenuidade de muitos, aparecem, ora disfarçados de rambos ora de defensores da verdade, que lhes convém.

Termino com a seguinte frase:
Em Portugal, cada ex-combatente que morre é uma biblioteca que se queima.
Carlos Alberto Santos


Capítulos:
1.-Coisas e sensações do leste de Angola
2.-Formação do povo Quiôco
3.-Contador de histórias
4.-Batuque do Samunge
5.-Mulheres de fogo
6.-Batuque dos Muquixes
7.-Medos e feitiços
8.-A doença
9.-A Mahamba
10.-A morte
11.-O fim do luto
12.-As núpcias
     -A iniciação das raparigas
13.-O nascimento
14.-A poligamia
15.-Adultério
16.-A mulher quiôca
17.-A alimentação
18.-Afrodisíacos
19.-O homem
     -A iniciação dos rapazes
20.-O Pensador
21.-Notas soltas
22.-Sá Moço

Nota: Porque a compilação dos vários capítulos é algo longa, deverão entrar em PÁGINA DA CULTURA   (na barra lateral)

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